Erechim, Carlos Barbosa, Uruguaiana, Passo Fundo, Horizontina, Guaporé, Venâncio Aires, Lagoa Vermelha, Frederico Westphalen, Espumoso, Carazinho, Casca, Santa Rosa, Novo Barreiro e Seberi. A fase final do Gauchão de Futsal contemplou quase todas as regiões do RS. Faltariam a Zona Sul (cujos times participam da Série Ouro, da Federação Gaúcha) e a Metropolitana. Mais especificamente, Porto Alegre. Onde está a modalidade na cidade que mais vezes foi campeã no Estado?
A Capital ostenta 16 títulos. Foram oito do Inter, três do Wallig, dois de Caixa Econômica Estadual e Cruzeiro e um do Gondoleiros. Isso sem contar os vices, obtidos por Grêmio, Petrópole, Grêmio Náutico Gaúcho e Piratas. Dos nomes citados, há empresas falidas, banco que não existe mais, clubes que abandonaram os esportes profissionais e as duas maiores potências do Rio Grande do Sul. A dupla Gre-Nal extinguiu os demais departamentos e só foca no futebol de campo.
O último clássico que se tem registro pelo Estadual completou 36 anos há poucos dias. Inter e Grêmio se enfrentaram no Gigantinho e ficaram no 0 a 0, pelo Gauchão de 1987. Na época, o resultado foi melhor para os colorados, que venceram aquele quadrangular. No fim das contas, porém, o Tricolor chegou mais longe, perdendo a fase final para a Enxuta, de Caxias do Sul. A equipe da Serra era uma máquina, com Ortiz, Morruga, Gera, Cocão e outros que faziam parte também da seleção brasileira.
Nessas três décadas e meia, Inter e Grêmio não se encontraram mais. O Inter até reabriu o departamento, com grande sucesso, entre o final dos anos 1990 e o início do século 21. Ganhou a Liga Nacional, a Taça Brasil, o Sul-Americano e até o Mundial.
O Grêmio esboçou um time em 2005, mas mal saiu do papel. Atualmente, não há qualquer resquício da modalidade. Nem mesmo na base. A dúvida é se essa seria mesmo a melhor estratégia. Inclusive para o próprio futebol profissional.
O Corinthians, por exemplo, discorda. Bicampeão da Liga Nacional de Futsal, o clube paulista tem na modalidade uma de suas maiores forças. E que acaba cruzando com o futebol. O clube investe cerca de R$ 4 milhões por ano no esporte, em todas as categorias, já incluídas despesas de viagens, hospedagens, alimentação, etc. E cobre esses custos com patrocínios e, desde 2023, cobranças de ingressos para os jogos do time principal. Só nos tíquetes, arrecadou R$ 500 mil.
O valor anual do clube é o equivalente ao salário mensal de quatro ou cinco jogadores da dupla Gre-Nal. Mas para não ficar nesse campo populista, há um cálculo mais simples. Em 2023, o Corinthians vendeu 50% dos direitos econômicos o jovem Pedro ao Zenit-RUS por R$ 50 milhões. Ele passou seis, de seus 17 anos, jogando futsal no clube.
O futsal também deu frutos em campo. No grupo do Corinthians campeão brasileiro de 2017, seis jogadores haviam passado pelo futsal da equipe, ao menos na categoria de base.
— Vale a pena, inclusive, ter o time adulto como uma espécie de atração para os jovens. Os meninos sabem que jogando no Corinthians vão poder conviver com craques como Deives, Canabarro e outros. É diferente do futebol, em que os atletas do profissional vivem mais fechados — explica Carlos Henrique Ros Salas, o Caíque, diretor de Esportes Terrestres do Corinthians.
Isso também chama a atenção na dupla Gre-Nal. Grêmio e Inter não têm futsal nem sequer nas categorias de base.
Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Santos, Flamengo, Fluminense, Botafogo, Vasco, Cruzeiro e Athletico-PR são alguns dos clubes da elite brasileira que têm futsal ao menos entre os jovens. Fora do país, Barcelona, Benfica, Sporting, Porto, Boca Juniors, River Plate, Nacional-URU, Peñarol, Mallorca são exemplos de times profissionais e de alto nível.
O presidente da Liga Gaúcha de futsal, mestre em educação física e ex-professor universitário, Nelson Bavier é um especialista no tema. Ele explica os benefícios que o futsal traz para futuros jogadores de futebol de campo:
— Pelas dimensões da quadra, há uma participação muito maior, o garoto toca na bola mais vezes. Pode parecer bobagem, mas isso muda tudo para uma criança evoluir no esporte. Bem conduzida a transição, vai facilitar pela velocidade de raciocínio e celeridade na tomada de decisão de lance a lance.
Mas o futsal não pode ser entendido apenas como um trampolim para o futebol. A modalidade pode, e deve, ter vida própria. Bons times e grandes resultados servem como motivação para a torcida lotar o estádio e apoiar. Criar uma cultura multiesportiva, como há no Corinthians, no Flamengo (com basquete), Barcelona, clubes turcos, entre outros.
Por enquanto, porém, essa realidade não deve fazer parte da dupla Gre-Nal. Procurados pela reportagem, Grêmio e Inter afirmaram não ter perspectiva para retomar a modalidade. O Grêmio chegou a analisar o convite da CBF para ter uma equipe no Brasileirão de futsal, mas não saiu da avaliação.
Sendo assim, futsal em Porto Alegre é apenas uma bela memória.