A última rodada do Gauchão Feminino ficou marcada por mais um caso de W.O. No jogo entre Juventude e Vidal Pro, no Campo do Sesi, em Caxias do Sul, no domingo (29), o time porto-alegrense não compareceu. Por conta disso, o Alviverde venceu por W.O.
O acontecimento, no entanto, não é uma novidade. Em 2023, o Guarany-Ba também não foi a Caxias do Sul para o jogo contra o Juventude.
A reportagem de Zero Hora contatou as atletas do Vidal Pro acerca do acontecido. O grupo de jogadoras informou, através de uma representante, que decidiu tomar essa atitude pois estavam "cansadas da pressão psicológica, da falta de apoio e do desrespeito em todos jogos, vindo diretamente do nosso presidente".
As atletas relatam que ouviam do presidente Alex Vidal que "jogávamos mal, que nunca íamos ganhar nada, algumas vezes no nosso próprio grupo do profissional no Whatsapp, ele faltou com respeito com todas. As pressões dele eram sempre em relação ao treino, pois muitas das meninas trabalhavam e não conseguiam ir. Ele falava que se a gente não fosse ao treino, não íamos ser nada, que não iríamos jogar o Gauchão".
O grupo de atletas também criou uma nota a respeito do acontecido, em que dizem que o "esforço muitas vezes não foi valorizado" e que o W.O. foi "resultado do esgotamento emocional acumulado e da falta de apoio".
A reportagem de Zero Hora também contatou o presidente do clube, Alex Vidal. O dirigente afirma que, agora, vai encerrar o departamento feminino. Ele também conta que não foi informado que as atletas não iriam para Caxias do Sul.
— Ficamos no clube esperando elas (no domingo) e passou uma hora e nada. A gente viu que elas não iam ir. Não respondiam mensagem, não atendiam ligação. Toda comissão ficou ali, pronta, no ônibus, esperando, tudo carregado no ônibus. Restaurante esperando. Elas não falaram nada pra nós. Depois de uma hora, teve uma atleta que respondeu que elas combinaram entre elas que não iam ir — conta o presidente.
Alex Vidal também ressalta que nunca houve brigas com as atletas, e que elas justificaram que não iriam porque estavam desmotivadas. Portanto, combinaram de não viajar. A respeito de ajuda financeira, o dirigente explica:
— Elas não pagavam nada para jogar, mas também não tinha ajuda de custo. Aqui somos uma ONG. Nos jogo fora, pagávamos restaurante e ônibus. E, em jogos em casa, elas iam direto. Nos treinos dávamos caronas nos carros dos professores. E, fora isso, elas tinham bolsas na faculdade Sogipa através da parceria com o clube — finaliza.
O presidente analisa, agora, se vai disputar o Gauchão Feminino sub-17. Há possibilidade de o departamento ser encerrado imediatamente.
Confira a nota das atletas
A todas as atletas, pais e apoiadores, escrevemos esta carta para compartilhar nossa experiência no clube Vidal Pro. Durante nossa trajetória, enfrentamos desafios que muitas vezes afetaram nossa motivação. A falta de apoio e reconhecimento por parte do presidente que nos deixou desanimadas, e sentimos que nosso esforço muitas vezes não foi valorizado.
Os gastos para deslocamento nos jogos têm sido um desafio constante. Infelizmente, no dia do jogo contra o Juventude Dr. Salomé Goulart, em 08/09/2024, não tivemos a ajuda financeira necessária para facilitar nossa participação em nenhum jogo. Isso nos trouxe preocupação e frustração.
Nos treinos muitas vezes não tínhamos dinheiro para estar presente, tendo em vista que o local onde treinávamos era bem distante, mesmo sem apoio era exigido nossa presença pelo presidente , mesmo que houvesse carona para algumas, até chegar ao CT do clube, tínhamos gastos de deslocamentos.
Em diversos treinos, mesmo entre as atletas e nossos técnicos que mantiveram sempre a paz, éramos constantemente atacadas mentalmente ao esgotamento emocional por nosso presidente.
Além disso, a decisão de não comparecer ao jogo contra o Juventude no dia 29 de setembro, no estádio do Sesi em Caxias, foi resultado do esgotamento emocional acumulado e da falta de apoio.
Gostaríamos de expressar nosso sincero agradecimento aos pais que estiveram ao nosso lado, independentemente dos resultados, e aos nossos técnicos, que nos apoiaram até o fim na beira de campo e nos treinos, com todo o coração. Essa união entre todas nós é fundamental para que possamos lutar por melhorias e reconhecimento.
Estamos juntas em busca de um ambiente mais positivo e respeitoso, o futebol feminino precisa ser ouvido mais, estamos cansadas de tudo isso que tem acontecido, não é de hoje, mas depois de tanto tempo tivemos coragem, sabemos que seremos repreendidas, mas isso é para que outras não venham a passar esses momentos que vivenciamos aqui ou em outros clubes.