O Inter vive seu pior início de Brasileirão Feminino desde a retomada do departamento. Em cinco rodadas, o time ainda não conseguiu vencer e soma apenas dois pontos. Por conta disso, está na zona de rebaixamento.
A campanha negativa chama a atenção pelo histórico recente, que é positivo. Nas últimas temporadas, as Gurias Coloradas foram vice-campeãs brasileiras, estrearam na Copa Libertadores e reconquistaram o título do Gauchão.
Para entender o panorama atual do clube, GZH conversou com o diretor de futebol feminino do Inter, César Schunemann. Confira abaixo.
O que tu achas que deu errado neste início de temporada? Antes de o Brasileirão se iniciar, todos colocavam o Inter como postulante ao título e, com cinco rodadas disputadas, ainda não conseguiu sair da zona de rebaixamento. Então, queria tua avaliação sobre o que não deu certo até agora.
Primeiro, eu vejo que o Inter manteve a base do seu grupo da temporada de 2023 para 2024. Mas, apesar de manter a base, perdemos algumas jogadoras que foram fundamentais no ano passado, como a Gabi Barbieri, a Djeni, a Sandoval e a Eskerdinha. As quatro foram titulares na Libertadores e hoje não estão mais no grupo. E as mudanças foram depois do período da janela. Quando entramos no departamento, o grupo já estava 100% montado, inclusive com a comissão técnica. E acho que isso acabou, de certa forma, interferindo nessa demora da troca (de treinador). Esse é um ponto.
E outra questão foi que o treinador que chegou (Brenno Basso) pegou um trabalho pronto e trabalhou na Ladies Cup, mas deu apenas dois treinos antes da competição. Então, agora, quando se iniciou o ano de trabalho, verificamos que era necessário trocar. Nada contra o trabalho de treinador, mas por entender que a comissão técnica no futebol feminino, com um time tão jovem, precisa de mais experiência. E isso, agora, foi feito.
A gente espera que os resultados melhorem. O professor Jorge (Barcellos) trabalhou 10 dias. É recente a vinda dele, mas temos a confiança. Mesmo no Gre-Nal, o Inter criou mais oportunidades de gol do que o Grêmio. Isso os números falam. Mas não converteu.
O grande problema da tabela do Inter é que não ganhou de América-MG e Fluminense.
CÉSAR SCHUNEMANN
diretor de futebol feminino do Inter
O que foi crucial na mudança de perfil do Brenno Basso para o Jorge Barcellos? Sabemos que o Barcellos é um treinador mais experiente, inclusive com passagem pela Seleção e por outros times de camisa. Mas o que vocês priorizaram na escolha por ele?
Nós entendemos que o nosso grupo de atletas e o nosso grupo de comissão técnica precisava de um treinador mais experiente. Até por uma questão de comando, não só de campo, como também de vestiário.
Foi um período curto desde a chegada do técnico Jorge Barcellos até a disputa do Gre-Nal. Mas será o período mais longo de preparação entre uma partida e outra. E os problemas se repetiram. Como é a avaliação?
Claro que perder Gre-Nal é um problema, mas eu vejo que o grande problema da tabela do Inter é que não ganhou de América-MG e Fluminense. Porque o clássico Gre-Nal é sempre um jogo mais difícil. Tanto para Grêmio, quanto para Inter. E aí, não normalizando o resultado, mas sabendo que um jogo como esse pode ter vitória, empate ou derrota.
Mas os jogos contra América-MG e Fluminense, times advindos da Série A-2, o Inter tinha mais obrigação, pela sua estrutura, pelo seu time. Acho que esse é o grande problema da tabela do Inter. Não que os outros jogos não pudéssemos ter vencido, com certeza poderíamos. Mas o déficit atual que se dá é principalmente por essas duas partidas.
Além dos resultados, as atuações também estão abaixo do que se espera para um elenco que conta com grandes nomes, que foram importantes nas últimas temporadas. Mesmo que os números mostrem mais posse de bola, mais finalizações, vemos um Inter que às vezes parece até perdido em campo. Longe daquele time encaixado do Piccinato, por exemplo. Qual é a avaliação a respeito?
Temos que ser honestos e justos com as construções. Essa construção do Piccinato só durou quatro meses, porque no Brasileirão do ano passado, quem treinou o Inter foi o Maurício Salgado. Depois, o time começou o Gauchão, inclusive perdendo Gre-Nal na primeira fase, e também já era o Piccinato, no seu terceiro jogo. E, depois, o Inter vai para a Libertadores e volta para o Gauchão. Então, foram só quatro meses, digamos assim.
Na Libertadores, os dois clubes que fizeram a final são brasileiros. Vejo como um campeonato que, geralmente, tem uma ou duas equipes de fora do Brasil e as brasileiras disputando o título, de fato. A última vez que ganhou um time de fora foi em 2018 (Atlético Huila-COL). Na verdade, equipes paulistas que ganharam recentemente.
Acredito na recuperação do Inter no campeonato. Não vejo que a situação do Inter seja definitiva, até porque esse grupo é o mesmo do ano passado.
CÉSAR SCHUNEMANN
diretor de futebol feminino do Inter
Então, podemos fazer um recorte entre os dois jogos Inter x Corinthians. No ano passado, na Libertadores, o Inter foi o time que mais dificultou para o Corinthians, tanto é que a disputa foi aos pênaltis. E, nesta temporada, vimos algumas mudanças, mas a base de time é a mesma e a diferença em campo foi gigantesca comparando o Inter com ele mesmo. Concordas?
Essa pergunta fica difícil para eu responder. Sendo que a gestão que estava aqui antes é quem perdeu as atletas e quem trouxe as jogadoras também. Fico numa sinuca. Acredito na recuperação do Inter no campeonato. Não vejo que a situação do Inter seja definitiva, até porque esse grupo é o mesmo do ano passado. Agora, como eu vou saber, por exemplo, sobre a saída do Piccinato. Porque ele tinha contrato até o final deste ano. Mesma coisa com o Maurício Salgado.
O nome da Montoya foi citado, mas, quando eu fiz aqui a passagem de bastão, nem foi comentado.
CÉSAR SCHUNEMANN
diretor de futebol feminino do Inter
Tu chegastes a comentar a saída de algumas atletas. A mais sentida parece ter sido a da Djeni, especialmente pelo momento do meio-campo do Inter. Então, o clube pensa em trazer alguma peça para o setor? Recentemente, foi falado no nome da Montoya, por exemplo.
O nome da Montoya foi citado, mas, quando eu fiz aqui a passagem de bastão, nem foi comentado. Segundo ponto, a Djeni é uma jogadora que eu trouxe. Ela chegou no Inter em 2020. Inclusive, eu me lembro direitinho de tomar um café com ela lá na semifinal do Campeonato Brasileiro sub-18 no ano de 2019. Nós jogamos contra o Iranduba, foi o dia que eu tomei um café com a Djeni e negociei a vinda dela para cá no início de 2020. Agora, quanto à saída dela, eu não estava aqui.
Agora, o que acontece, quando assumimos no dia 10 de janeiro, as jogadoras já estavam com contratos em outros clubes. O nosso grupo já estava fechado. Assumimos no dia 10 e o clube se reapresentou no dia 11. Algumas atletas se reapresentaram dia 18 devido à disputa da Copinha.
Sabemos que trazer reforços durante a temporada não é uma missão fácil, mas o Inter trouxe a Chu, por exemplo. Dito isso, pensam em trazer alguém para o meio-campo?
Na verdade, o mercado do futebol feminino, hoje, conta apenas com jogadores que estão voltando de lesão. Tu pega a Giovana, no Santos. A própria Miriã, do Corinthians. Só atletas que vêm do pós-lesão. Esses dias, me ligaram da Miriã e eu soube que, no ano passado ela iria vir, mas não veio porque o departamento médico vetou.
Trabalhamos com o grupo que temos até 10 de julho, quando abre a janela (do Exterior) novamente.
CÉSAR SCHUNEMANN
diretor de futebol feminino do Inter
Então, hoje, o mercado está fechado para o Exterior. E, internamente no Brasil, quem já jogou a Série A-1 em 2024 não pode defender outro clube. Não temos muitas opções. Trabalhamos com o grupo que temos até 10 de julho, quando abre a janela novamente.
O Inter tem, agora, um jogo difícil contra o Flamengo, que também vem numa situação difícil no Brasileirão. E depois enfrenta: Real Brasília, São Paulo e Ferroviária. O que vocês projetam para a sequência, para sair da zona de rebaixamento?
Esperamos as vitórias. Todo mundo aqui no departamento trabalha para vencer os jogos. Temos um jogo dificílimo contra o Flamengo. Depois, jogar em Brasília contra o Real também é difícil. Na sequência, voltamos para Porto Alegre para disputar dois jogos contra equipes que estão muito bem na competição, que ainda não perderam, São Paulo e Ferroviária.
No último terço do campeonato, eu vejo que a tabela nos ajuda um pouco também.
CÉSAR SCHUNEMANN
diretor de futebol feminino do Inter
E aí, no último terço do campeonato, eu vejo que a tabela nos ajuda um pouco também. Porque a gente pega o Avaí Kindermann, o Atlético-MG, o Santos. Times que estão disputando as posições que, infelizmente, o Inter está disputando hoje.
Desde que o Inter foi vice-campeão brasileiro, o objetivo, muito claro, é continuar lutando por esse título inédito até conquistá-lo. Mas com a sequência ruim, um terço de campeonato já disputado, se fala em rebaixamento? Ou tu achas que tem de se falar apenas em classificação?
Eu acho que se fala, primeiramente, em vencer. Quando retomarmos o caminho das vitórias, a primeira delas, vamos entrar num ciclo de otimismo diferente do atual. Isso é um ponto que a gente conversa bastante. A partir da primeira vitória, temos essa expectativa.
Agora, quando pegamos a questão dos jogos, o Inter é um dos quatro clubes do Brasil que mais finalizou no campeonato. Isso aí é estatística. Só que, infelizmente, a bola não vem entrando.
A gente já teve lance tirado em cima da linha, bola na trave. Contra o Cruzeiro mesmo. O jogo foi 3 a 1, mas o Inter chutou duas vezes a bola na trave. Então, a gente tem que saber dividir o que é a produção no time e o que é a questão do resultado. Alguns jogos, as produções foram melhores do que o resultado. E a gente não teve o contrário ainda. Jogo que não teve produção e o resultado acabou vindo. Então, eu acho que é isso que a gente tem que trabalhar: transformar essa produção em gols.
O Inter tem algum acompanhamento nessa questão anímica, mental? Porque vimos, por exemplo, na Libertadores uma queda no anímico do time após perder nos pênaltis para o Corinthians. Talvez, seja um problema que esteja se repetindo agora. Vocês também veem isso?
Uma das mudanças da nossa comissão técnica se deu por esse motivo. Outra questão é a gente, dentro do nosso departamento de futebol feminino, ter o apoio da psicologia, que até então não se tinha. Esse ano é o primeiro ano que a gente está tendo esse apoio. Na nossa equipe multidisciplinar, também não tínhamos fisiologista, esse ano já temos. Depois de sete anos, o departamento de futebol feminino tem também o GPS. A gente trabalha com o GPS aí desde fevereiro, junto com o fisiologista.
Estamos no mercado atentos a novas possibilidades dentro do orçamento que temos.
CÉSAR SCHUNEMANN
diretor de futebol feminino do Inter
Então, assim, eu vejo que de comissão multidisciplinar, o Inter vem evoluindo desde o início do ano. Temos auxiliar técnico também, coisas que não tinha antes. Então, eu também acho que isso é um ponto também a considerar.
E a questão de grupo de atletas, infelizmente, a gente não conseguiu atuar ainda, mas temos que dar o suporte com as atletas que nós temos aqui. Estamos no mercado atentos a novas possibilidades dentro do orçamento que temos.
Tu podes me dizer se há alguma prioridade de posição que vocês estão observando no mercado?
A gente também enxerga que precisamos de mais opções para o treinador nas funções. Todo mundo que conhece o futebol feminino sabe que o Inter tem só três zagueiras. Que no meio-campo perdeu a Djeni e não trouxe ninguém na posição. Até mesmo a saída da Sandoval, veio a Yenny Acuña e agora a Chu. Justamente para ter mais disputas de posição, porque sabemos que um treino mais forte também faz com que as atletas evoluam naturalmente. Então, é esse tipo de situação que vamos buscando principalmente no próximo semestre, próximo ano. Trabalho no futebol é sequencial, é contínuo.