Incentivo e oportunidade. Essas são as palavras que Juliana Maia Charão, 12 anos, moradora do Cristal, usou para definir o primeiro Centro de Desenvolvimento do Futebol Feminino (CDFF) do Brasil, iniciativa da prefeitura de Porto Alegre. Ela é uma das mais de cem gurias que participam do projeto, que tem como objetivo desenvolver e democratizar o acesso ao futebol, além de ajudar na descoberta de novos talentos.
O programa, iniciado em janeiro, é desenvolvido por meio de treinamentos, que ocorrem nos campos do trecho 3 da orla do Guaíba e no campo do Parque Marinha do Brasil, três vezes na semana, no contraturno das aulas das adolescentes.
Todo o aparato necessário para jogar foi dado às meninas: chuteira, camiseta, bermuda, meião etc. Além disso, as participantes que não têm condições financeiras de pagar o transporte para chegar até o local ganharam um cartão TRI com créditos para ir de casa até o treino e vice-versa.
— Conseguimos este benefício porque a maioria das desistências aconteceu em razão do transporte. Nosso sonho é que o projeto se amplie e tenha em outros bairros, ficando, assim, perto para todas — conta a secretária municipal de Esporte, Lazer e Juventude, Débora Garcia.
Os treinos
Duzentos mil reais foram disponibilizados pelo Ministério do Esporte para o CDFF, valor que se somou a uma contribuição de R$ 2 mil feita pela prefeitura. O dinheiro é usado para a contratação dos cinco profissionais de educação física que treinam as meninas, entre outras coisas.
Carlos Daniel Alves é um dos profes. Ele conta que o foco é desenvolver as meninas, tanto na parte técnica quanto na cognitiva, e isso é feito a partir de atividades lúdicas e alegres, fazendo com que elas gostem das práticas.
Um dos indicadores da eficácia do método é a frequência das adolescentes, o que Carlos diz ver nos dias de treino:
— Elas começaram a vir, entenderam a proposta e gostam dela.
Futuro
O cenário do futebol feminino não é muito atrativo para as meninas. Segundo o Diagnóstico Futebol Feminino no Brasil, estudo feito pelo governo federal, aproximadamente 70% das profissionais que atuam no futebol feminino brasileiro fazem dupla jornada, ou seja, são atletas e trabalham em outra área diversa para complementar o salário.
Porém, as gurias não desistem e são atacantes quando o assunto é o futuro. Para Laura Gomes, 13 anos, praticante do esporte desde que “se entende por gente”, um projeto como esse representa um grande passo para melhorar o reconhecimento do futebol feminino como um todo:
— Eu sei que ainda tem muito preconceito e, infelizmente, é algo que a gente não vai conseguir mudar de uma hora pra outra. Mas aqui estamos conquistando nossas coisas.