O frio de Melbourne contagiou o time e a torcida da Seleção Brasileira na noite australiana e manhã brasileira mais frustrante para o futebol feminino nos últimos quatro anos. Das arquibancadas do Estádio Retangular, a sensação era de que Brasil e Jamaica poderiam jogar a madrugada inteira que o gol brasileiro não iria sair. E não saiu. Para atletas, torcedores e jornalistas, predominaram as lágrimas, a tristeza e a certeza de que, se o sonho australiano acabou, a luta não pode parar.
Os torcedores brasileiros chegaram ao estádio animados com a notícia de que a Rainha Marta iniciaria como titular. Tão logo a escalação foi confirmada com a camisa 10 na equipe, houve vibração nas imediações do estádio.
— Ela é seis vezes melhor do mundo, vai dar confiança ao grupo e fazer a diferença — apostou a contadora paulista Bárbara Nascimento, que carregava um cartaz com os dizeres "Marta é melhor do que Neymar".
Infelizmente para o Brasil, o anúncio da titularidade de Marta foi um dos poucos momentos de vibração da torcida brasileira. Ao contrário de Adelaide e Brisbane, onde a comunidade brasileira criou uma clima de arquibancada à moda brasileira, Melbourne não abraçou a Seleção da mesma forma. Momentos antes do jogo, o silêncio dos torcedores que entravam no estádio não indicava a ideia de que haveria ali um jogo de futebol. Muito menos uma decisão.
A única coisa que poderia incendiar a torcida brasileira seria uma atuação enérgica da Seleção, mas não foi o que aconteceu. A apatia da equipe de Pia Sundhage abateu ainda mais os torcedores presentes. Um pequeno grupo ainda tentou entoar gritos de "Brasil, Brasil" e de "sou brasileiro, com muito orgulho", mas que não ecoaram. Mesmo com o estádio lotado, até as tentativas de "ola" deram errado.
Mas nada comparável à frustrante atuação da Seleção. Desde os primeiros minutos, o Brasil de Pia parou na eficiente retranca jamaicana, e as poucas finalizações pareciam recuos para a goleira Spencer. Além disso, os inúmeros erros de passes no ataque e na defesa tiravam a paciência do torcedor.
Em determinado momento do primeiro tempo, uma revoada de pássaros brancos entrou no "espaço aéreo" do estádio e repousou no teto atrás do gol jamaicano. Era como se as aves quisessem apontar às atletas brasileiras o caminho da classificação. Sem sucesso.
No segundo tempo, o Brasil voltou com mudanças no time. Bia Zaneratto entrou na vaga de Ary Borges. A postura do time, porém, seguiu igual. E a da torcida também. As jogadoras brasileiras abusavam dos passes errados, e as finalizações eram meros recuos para a goleira da Jamaica. Das arquibancadas, na maioria das vezes, ecoava apenas o silêncio.
O tempo ia passando e o desespero começava a tomar conta de time, comissão técnica e torcida. A cada pausa no jogo, geralmente por conta da cera jamaicana para segurar o resultado, a técnica Pia chamava com mais frequência as atletas para passar instruções, tentando desatar o nó tático que estava tomando do seu rival jamaicano Lorne Donaldson.
Por volta dos 20 minutos do segundo tempo, uma cena curiosa aconteceu no Estádio Retangular. A revoada de pássaros mudou de lado e repousou no teto acima do gol do ataque brasileiro. Parecia mesmo que as aves queriam ver o gol do Brasil.
Dentro de campo, contudo, o jogo seguia morno, apático e sonolento. Os milhares de brasileiros presentes no estádio só não dormiam por conta do nervosismo e da esperança de que a bola entrasse. Porém, a Seleção seguia sem conseguir criar chances contundentes de gol.
Faltando cerca de 20 minutos para o fim da partira, os pássaros surpreenderam mais uma vez. A revoada invadiu o campo e, literalmente, pisou no gramado. Parecia que, desta vez, as aves queriam participar do jogo para ajudar o Brasil a balançar as redes. Mas a defesa jamaicana estava em mais uma jornada inspirada e se manteve sem sofrer gols no Mundial.
Faltando cinco minutos para o fim, vários torcedores brasileiros começaram a deixar o estádio. Os que ficaram vaiaram a arbitragem quando ela sinalizou apenas quatro minutos de acréscimo. Mas, mesmo havendo tempo suficiente para o gol, a sensação geral no estádio era de que o poderia ter mais 90 minutos e, ainda assim, a bola não iria entrar.
O apito final decretou a eliminação precoce da Seleção Brasileira e o adiamento do sonho do inédito título mundial.