Foram 17 dias seguidos de disputas, apostas em qual seleção sairia vencedora e craques como Richarlison enchendo os olhos com gols de placa. Nesta quarta-feira (7), 18º dia de Mundial, a TV não passou nenhum jogo da Copa. Só reprise para saciar a vontade de mais uma partida no Catar. A programação do Mundial só volta a ter jogos na sexta-feira (9), o que significa dois dias em jejum de bola rolando.
Vidrado em futebol, o professor de História Guilherme Nunes, 32 anos, assistiu a praticamente todos os jogos desde o começo. Temporariamente desempregado, não teve muitos conflitos de agenda. Viu as partidas da manhã, as do meio-dia e as da tarde também. Quando precisou ir ao dentista para restaurar um dente, manteve o celular em mãos para não perder Senegal e Holanda na fase de grupos.
— Eu gosto muito de futebol. Qualquer jogo que estiver passando, boto como pano de fundo para fazer as coisas. E, na Copa, acontecem as melhores histórias. A gente vê uma seleção como o Irã jogar, a gente vê os marroquinos tomando as ruas da Espanha — cita o historiador.
O problema do vício é que, na falta da dose, bate a abstinência. Guilherme sentiu um baque logo que encerrou a fase de grupos e o número de partidas diminuiu. Com o fim das oitavas de final, os jogadores ganharam dois dias de molho, descansando as chuteiras, quando o calendário retoma com os duelos eliminatórios.
— Ontem, eu até estava um pouco aliviado, pensando que iria fazer outras coisas além de ver futebol, que não precisaria funcionar em função de uma TV ou do wi-fi. Mas hoje, quando acordei, pensei: "Bah, agora tenho que esperar 48 horas para o próximo jogo" — diz o torcedor, que aproveitou o dia para enfiar a cabeça nos livros da biblioteca da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), onde deu a entrevista.
Amigo e também historiador, Gustavo Leal, 40 anos, recebe com certo alívio o período de jejum, embora ele também tenha ficado amarrado à TV e ao celular nesses 17 dias de Mundial.
— Sinto vontade de botar um soro na veia que descarregue um pouco de futebol em mim. Falando sério agora: já tivemos bastante dias de futebol. Dar uma pausa faz até bem. Sair um pouco para a rua, toma um ar, ver uma série, falar com os amigos é importante, faz bem para a saúde mental — diz, brincalhão.
Mas não é gozação de todo: Gustavo maratonou os jogos da Copa inclusive dentro do ônibus, no trajeto para Canoas, onde faz um curso técnico de barbearia. Sem as partidas, só resta rever os melhores lances e acompanhar os programas de esporte em busca das novidades lá no Catar.
— Acho que vou ter que ver mais SporTV de noite e Central da Copa na Globo. É a solução — diz.
Sentimento coletivo
Divertir-se com a Copa do Mundo é bom, mas até o futebol precisa ser apreciado com moderação, diz o professor de Psicologia e Educação Física da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Márcio Geller. Segundo ele, é natural que um evento dessa estatura atraia tanta atenção, já que acontece apenas a cada quatro anos e, para os brasileiros, trata-se de uma paixão.
— Se o Brasil ganhar, a gente também se sente vitorioso, competente. Nos sentimos autoconfiantes. É por isso essa comoção com a Copa do Mundo. Se o Brasil perde, também me sinto derrotado — explica o professor.
Mas não se deve transferir um sentimento de falta que possa existir na vida da pessoa para possíveis conquistas da Seleção.
— Se a pessoa tem seu hobby, suas responsabilidades, e ainda consegue ver a Copa, que legal. Mas a Copa não é para preencher um lugar de falta, um vazio. É para agregar, para ser um prazer. Porque vai acabar. E depois?
Que esses dois dias sem jogos ajudem a ir lidando com o fim da Copa do Mundo. Veja, abaixo, as próximas partidas:
Quartas de final
Sexta (9)
- 12h Brasil x Croácia
- 16h Holanda x Argentina
Sábado (10)
- 12h Marrocos x Portugal
- 16h Inglaterra x França
Semifinais
- 13/12 às 16h
- 14/12 às 16h
Disputa do 3º lugar
- 17/12 ao meio-dia
Final
- 18/12 ao meio-dia