Quem nunca sonhou em assistir a um jogo de Copa do Mundo direto da arquibancada? Enquanto provavelmente já é tarde demais para fazer as malas e chegar em tempo para ver a final neste domingo (18) entre França e Argentina em Doha, não há motivos para desistir do sonho: a América do Norte, sede do Mundial em 2026, é logo ali.
Quanto exatamente é preciso economizar para transformar esse sonho em realidade depende de alguns fatores que podem mudar drasticamente nos próximos três anos e meio, mas, considerando alguns levantamentos, o torcedor que começar a economizar agora vai ter que guardar a partir de R$ 330 por mês, pelos próximos 42 meses, para arcar com os gastos da aventura. O valor cobriria os custos da passagem, alimentação, estadia e ingressos necessários para ir até os Estados Unidos para somente dois jogos. Caso o destino seja o México ou Canadá, o custo pode ser um pouco menor.
Uma análise do Pag Seguro, por exemplo, simulou quanto custaria uma viagem de 10 dias em Atlanta, nos Estados Unidos, uma das cidades-sede da competição. Considerando a cotação atual do dólar e não contando com um aumento do preço médio de passagens e hospedagem por conta do Mundial, eles calcularam que o passeio sairia por R$13.832,00, sendo R$6,7 mil nas passagens aéreas, R$4 mil na hospedagem, R$2,5 mil em alimentação e R$632,00 para a entrada de dois jogos da fase de grupos, nos assentos mais baratos do estádio (considerando os preços do Catar).
Já um cenário criado pela Somma Investimentos para um torcedor que acompanhasse três jogos da Copa do Mundo em partes mais nobres da arquibancada, passando 15 dias em um hotel em uma cidade genérica dos Estados Unidos, chegou ao valor de R$23.812,00, sendo R$4.869,00 em alimentação, R$10.143,75 em hospedagem, R$2.299,50 em ingressos e R$6.500,00 para passagens aéreas.
Além do número de dias longe de casa, a escolha do destino pode influenciar bastante o número final da conta, assim como quais e quantos jogos assistir. Na Copa do Mundo do Catar, por exemplo, os ingressos variaram entre R$ 316 e R$ 1.020 na fase de grupos, chegando a R$ 7,44 mil por entrada na final.
As melhores táticas
1. Esboçar um plano
Simplesmente começar janeiro escondendo R$ 300 reais embaixo do colchão pode não ser a melhor tática para alcançar o Mundial. A economista e educadora financeira Leila Ghiorzi recomenda que o torcedor que está pensando a sério em ir para a próxima Copa do Mundo, primeiro dê uma olhada geral nos preços atuais de uma aventura similar a que deseja, para já ter uma noção do quanto gastará.
— Isso é super pessoal, né? Eu posso fazer uma viagem e gastar menos ou eu posso fazer uma viagem e gastar bem mais, me hospedando em hotéis mais caros, comendo em restaurantes mais caros também. Então tudo depende do padrão de vida que a pessoa quer levar nessa viagem — afirma.
Essa é a hora de explorar possibilidades, pensar em quantos jogos gostaria de assistir e em quais países e cidades conhecer. Nenhuma decisão precisa ser definitiva, uma vez que serão anos até o próximo Mundial, mas os valores podem mudar drasticamente de acordo com algumas dessas escolhas iniciais.
2. Providenciar a documentação
Gabriela Bremm, da agência de viagens Let's Go, por sua vez, ressalta que a burocracia envolvida em entrar em cada um dos países sede também deve entrar na equação inicial. Enquanto os Estados Unidos tem o processo mais lento e caro para obtenção do visto, documento obrigatório para ser aceito no país (e que pode ser negado a qualquer viajante), o visto mexicano não pode ser obtido em Porto Alegre, mas apenas presencialmente em consulados do país em outras regiões do país.
— O torcedor tem que se preocupar hoje com a documentação. Por que os três países, tanto o México, quanto o Canadá, quanto os Estados Unidos, existem visto. E, obviamente, para se obter o visto é preciso ter passaporte — destaca. — O ideal a fazer é deixar a documentação em dia o quanto antes.
Nesses casos, quem possuir passaporte europeu, como da Itália ou da Alemanha, pode sair na frente, uma vez que os países da União Europeia não necessitam de visto para entrar nos Estados Unidos.
3. Ter metas de curto prazo
Depois do plano inicial traçado e da documentação encaminhada, vem a parte mais difícil do jogo: guardar toda aquela grana toda. Leila destaca que a chave está em ter metas curtas, alcançáveis e em sintonia com próprio perfil financeiro.
— Se a pessoa ganha por mês, eu acho mais fácil dividir por mês e ter uma meta mensal para pagar. Agora, nem todo mundo ganha por mês, né? Nesse caso, a gente pode pensar em ter aportes periódicos até atingir a meta — explica. — É super legal a gente pensar já em um investimento para isso. Existem investimentos que rendem pouco, mas que você consegue tirar quando precisar. Então, caso surja uma promoção de passagem, por exemplo, é possível tirar do investimento o dinheiro e comprar a passagem.
A educadora financeira sugere que cada vez que for bem sucedido em alcançar uma dessas metas, o torcedor não pode ter medo de celebrar e ver elas como um lembrete de que está no caminho certo para a realização de um sonho.
— Fazer pequenas comemorações sempre ajuda a não desanimar. Elas podem ser desde comprar um guia turístico do lugar, quando atingir os primeiros R$ 1 mil guardado, até ir em um restaurante temático de futebol, quando atingir R$ 2 mil, e assim por diante. O importante é pensar em coisas assim, pequenos "checks" que ela pode ir marcando de uma lista, para se manter motivada.
4. Ficar de olho nos anúncios da Fifa
Prevista para ser a primeira Copa do Mundo com três países-sede e a primeira Copa do Mundo com 48 seleções, o torneio de 2026 ainda segue uma grande incógnita para todos. Mas mesmo quando pontos da competição ficarem mais claros, ainda vão se passar anos até um calendário oficial dos jogos ser divulgado, e a Fifa dar início à venda de ingressos.
— Os ingressos da Copa, geralmente, começam a ser comercializados entre um ano e 10 meses antes do Mundial — recorda Kelly Weber, da agência de viagens Malas Prontas. — E a questão de valores varia muito, porque geralmente a Fifa libera primeiro os pacotes, que incluem a hospedagem, os ingressos, os translados. A Fifa disponibiliza primeiro só esses combos, e os ingressos avulsos são liberados bem depois, às vezes somente seis meses antes do evento.
Ou seja, caso a Fifa não mude seu padrão, os primeiros ingressos devem chegar na praça somente em 2025.
5. Estar preparado para bolas curvas
Por fim, é impossível deixar de lado que há fatores extra-campo que podem influenciar diretamente o preço final de qualquer viagem planejada com tanta antecedência: a inflação no Brasil e nos países-sede da Copa do Mundo; a cotação do dólar nos próximos anos; e até questões internacionais, como foi o caso da pandemia de covid-19, ocorrida entre o Mundial da Rússia e o do Catar, que impactou tanto companhias aéreas quanto o setor hoteleiro ao redor do globo.
O jeito para quem realmente quer estar no Mundial em 2026 é já ir se preparando para pelo menos algumas dessas bolas curvas, como ao já ir trocando dinheiro aos poucos, para garantir que as flutuações no câmbio não sejam um problema; calcular uma verba extra para imprevistos ou mesmo possuir um plano B, mais econômico.
— Economizar dinheiro é bem difícil, tem que ter muita força de vontade, não é a maioria dos brasileiros que consegue. Então, se a pessoa tiver pequenos percalços assim no caminho, se ela não conseguir atingir as metas com pensado no início, está tudo bem — destaca Leila. — É para ser um processo leve, um processo de "poxa, estou realizando os meus sonhos", não o contrário.