Em terras árabes, onde a saudação mais comum é o “salamaleico”, peço licença para usar também o “arigatô”. Sim, eu sei, o Japão já está fora da Copa, apesar de ter chegado às oitavas, depois de vencer Alemanha e Espanha na fase de grupos. Caiu diante da Croácia, nosso próximo adversário. Mas, no Catar, existe um torcedor japonês que veio ao Mundial e não está nem aí para o Japão. Ele torce para o Brasil. E tem mais: é colorado.
Apresento a vocês Kenzo Neto Noviski. Ele só fala japonês e dá uma arranhada no português. O suficiente para nos contar essa história. O Kenzo tem 35 anos. Era torcedor do Barcelona em 2006, quando o Inter cruzou o caminho da equipe de Ronaldinho e Cia no Mundial de Clubes daquele ano. Ele estava no jogo mais importante da história colorada. Em Tóquio, no Japão, viu a equipe gaúcha pintar o mundo de vermelho.
— Eu não entendia. Como? O Inter ganhando do Barcelona? — relembra o jovem, empenhado em traduzir da forma mais clara possível o que sentiu naquele momento.
Kenzo começava a entender que “favoritismo” não ganha título. Mas o Inter começava a ganhar o coração dele. Do outro lado do mundo, surgia um colorado que precisava saber mais sobre aquela equipe que diante dos seus olhos foi campeã mundial.
— Fui para a internet. Inter, Inter, Inter. Todo dia — conta.
Virou a casaca
Depois do Mundial, o guri não quis nem saber mais do Barcelona. Tanto que a maior lembrança daquela final não é frustração de um torcedor que acabava de sair derrotado. Pelo contrário. Kenzo eternizou na memória o momento mais especial daquela decisão:
— O gol do Gabiru, né? Golaço!
O japonês viciou no Inter. Começou a comprar camisa e tudo mais que o identificasse como colorado. Na bandeira, dezenas de autógrafos de jogadores. E, nas redes sociais, inúmeras fotos com ídolos colorados.
— Gosto muito do Fernandão, D’Alessandro e Damião. Mas também de Falcão e Dunga, foram bons jogadores no Inter — avalia.
E Kenzo já foi ao Beira-Rio várias vezes. Tantas que já perdeu as contas. Estava no estádio colorado em 2010 quando o Inter foi campeão da Libertadores. Por lá, já se sente em casa.
— O Beira-Rio é muito grande e bonito. O torcedor é muito forte, coração quente — diz.
O número 1 do japa
Entre os jogadores que ele mais admira está o goleiro Alisson, ex-Inter e titular da Seleção Brasileira. E é com orgulho que o Kenzo exibe a camisa do que ganhou do próprio jogador, autografada.
— Essa é presente dele — disse, entusiasmado.
O Kenzo ainda tirou da mala mais de uma dezena de outras camisas do Brasil. No armário, me mostrou ainda outros modelos de camisas do Inter. Perguntei a ele: onde estavam as camisas do Japão?
— Não tem — afirmou, dando risada.
E essa é a história do japonês mais colorado que você vai ouvir falar nesta Copa do Mundo.