Marquinhos tombou no gramado e ali ficou. Alisson saiu caminhando sem rumo. Ao lado deles, os croatas corriam eufóricos em direção ao goleiro Livakovic, o herói de mais uma jornada de glória deste jovem país, forjado na dor da guerra. No centro do campo, Neymar se atirou no gramado e afundou o rosto na grama úmida do Education City, como se estivesse olhando a sua última última chance de jogar uma Copa em alto nível se despedir em um túnel imaginário. Ao lado de Neymar, Antony também estava nocauteado, de joelhos, rosto enfiado entre os joelhos.
Lá do alto, da tribuna de imprensa, a visão que se tinha do campo era desoladora. Foi como se um furacão tivesse atravessado o campo e varrido só quem vestia verde e amarelo. Os jogadores brasileiros estavam atordoados. Cada um foi para um lado. Marquinhos foi levantado por Casemiro. Caiu de novo. Um integrante da comissão técnica veio e o levantou. Ele saiu, com as mãos no rosto.
Na beira do campo, os reservas ficaram de onde viram a Seleção perder uma decisão que estava nas suas mãos. Foi como se o pênalti no poste cobrado por Marquinhos os tivesse congelado. Eles permaneceram ali na beira do gramado. Alguns de pé, outros de joelho, dobrados e com a cabeça apoiada nos braços, como fazem os muçulmanos aqui, virados para Meca. Tite passou e bateu levemente nas costas de um por um.
Rodrygo, o eleito para bater o primeiro pênalti, mesmo sendo o segundo mais jovem, estava inconsolável em frente da área em que foram batidos os pênaltis. Daniel Alves o abraçou, tentou confortá-lo. Depois, foi a vez de Danilo, uma das vozes mais lúcidas deste grupo.
Perto deles, Vini Jr. cruzou com as lágrimas caindo dos olhos. Caminhou até a beira do campo e se posicionou ao lado dos reservas, com o olhar perdido. Nem viu que Thiago Silva estava parado dentro da área, como uma estátua, o olhar fixo nos torcedores do Movimento Verde e Amarelo que ainda estavam na arquibancada. Tenho certeza de eles olhavam Thiago e Thiago olhava para eles. Mas nenhum enxergava o outro. O pensamento estava em qualquer outro lugar do mundo, menos do Education City, a essa hora com a trilha única dos croatas cantando e pulando diante de sua torcida, no lado oposto.
Daniel Alves, um dos mais experientes do grupo e trazido justamente para dar sustentação aos mais jovens, caminhava entre os jogadores. Tentava erguer um, abraçava outro, buscava reanimar um grupo demolido depois de deixar escapar, por três minutos, uma classificação que era sua. Alguns jogadores, espaçados, tentaram agradecer pelo apoio dos torcedores. Mas nem forças para bater palma tinham. Alisson estava entre eles. Thiago seguia ali. Neymar se aproximou. Quando eles deram meia volta para tomar o caminho do vestiário, Neymar tombou de novo. Um companheiro o levantou. E eles voltaram a caminhar. A impressão é de que cada um carregava 200 quilos nas costas. O que não deixa de ser verdade.
Vai demorar para sair da alma a dor por uma eliminação dessas. Faltavam três minutos, a bola estava com o Brasil no ataque, e ela parou no gol. E do gol, nas mãos do goleiro, no poste e na boca do estômago de todo o brasileiro. A nossa sexta nunca foi tão segunda. Será um fim de semana longo, de quatro anos.