Foi como se a Copa do Mundo não estivesse ocorrendo. Futebol? O que é que eu tenho a ver? O dia seguinte ao "Sauditazo" foi de um certo constrangimento e quase nenhuma camisa argentina foi vista pelas ruas de Buenos Aires. O banho de água fria da derrota por 2 a 1 para a Arábia Saudita só foi amenizado pela virada que a Alemanha levou do Japão, nesta quarta-feira (23), em mais uma amostra de que "esas cosas pasan". E, de certa forma, pelo empate entre mexicanos e poloneses que deixou embolado o grupo do time de Messi.
Na comparação com a terça-feira (22), que mesmo uma hora antes de o jogo começar (e olha que o apito inicial foi às 7h) havia uma multidão desfilando com camisetas e adereços azuis e brancos, a quarta-feira mostrou uma Buenos Aires calada, tímida. Nos jornais, as manchetes estampavam a surpresa. "De no creer", escreveu o Olé; "Derrumbe y desafío", completou o La Nación.
O povo, que até o início da partida exalava otimismo, também murchou. Em parte, foi o que ocorreu com os comandados de Lionel Scaloni. Ao menos é o que diz o torcedor Carlos Ramírez, o único cidadão com camisa da Argentina encontrado durante a tarde desta quarta-feira no bairro da Recoleta, um dos mais movimentados da capital:
— Estávamos confiantes demais. Até em excesso. E o primeiro tempo deixou ainda mais nítida a diferença, a Arábia Saudita era para ser o adversário mais fácil. Mas aí o time não faz o gol, o VAR anula daquele jeito o outro. Isso pode ter pesado.
Apesar da óbvia desilusão, Ramírez não jogou a toalha. O empate entre México e Polônia foi considerado bom, porque deixou ambos ao alcance dos argentinos. Mesmo o outro jeito de ver a igualdade dos oponentes é que uma derrota para os mexicanos encerre a Copa do Mundo já no sábado (26). A obrigação de ganhar seria a mesma.
O argumento que mais ganhou força, porém, veio na tarde de quarta-feira. Quando a Alemanha, em atuação semelhante à da Argentina, perdeu para o Japão de virada, ficou amenizado o fiasco.
— É para mostrar que "esas cosas pasan" (isso acontece) em estreias. Contra os maiores, os pequenos querem mostrar força. Vamos tratar de nos reagruparmos e dar a volta já no sábado — disse Ramírez.
No Catar, o discurso é quase igual. A seleção decidiu não limitar mais o tempo de visita dos familiares à concentração, e os atletas receberam parentes e amigos. A ordem era refrescar a cabeça e ganhar energia. Nos jornais, até mesmo os gestuais da equipe foram analisados, mostrando os momentos de felicidade, ira, ansiedade e tristeza.
Há muitos temas para abordar até sábado. E a expectativa até lá garante assuntos não só nos canais de TV mas também pelas ruas do país. Só falta voltarem também as camisas.