A Restinga, bairro na extrema zona sul de Porto Alegre, viveu uma tarde de festa. A vitória da Seleção Brasileira por 2 a 0 sobre a Sérvia, claro, foi celebrada. Mas a estreia de Raphinha, nascido na comunidade, foi motivo de orgulho e comemoração por parte de fãs, amigos e familiares do jogador, que se reuniram na Esplanada da Tinga para acompanhar o primeiro jogo do Brasil no Mundial.
— Muito feliz pela estreia do Brasil, mas ainda mais pelo Raphinha. Por mais que não tenha feito gols, jogou muito bem. Isso nos deixa felizes, orgulhosos. Estou louco para falar com ele, dar os parabéns — ressalta Andrius Pereira, o "Farinha", amigo de infância do camisa 11 da Seleção.
O sol escaldante e o horário, no meio da tarde, afastaram parte do público. Muito por conta disso, a Esplanada da Restinga não lotou na estreia do Brasil e do menino cria do bairro. Mesmo assim, mais de 100 pessoas acompanharam a partida no telão instalado pela prefeitura da Capital e vibraram a cada lance da Seleção e, lógico, com um olhar especial para cada toque de Raphinha na bola.
— Emoção muito grande. A gente assiste Copa do Mundo há muitos anos. Ver o teu sobrinho, aos 25 anos, jogando lá, é incrível. A família está muito orgulhosa — garante Otávio Pereira, tio do jogador, que representou a família já que os pais do jogador estão com ele no Catar.
Logo que a bola rolou em Doha, distante mais de 12 mil quilômetros de Porto Alegre, a galera na Restinga ficou atenta ao jogo. Aos três minutos, quando Raphinha arrancou pela direita, surgiram os primeiros gritos e mãos na cabeça após o camisa 11 errar o cruzamento.
Aos 12, Neymar quase fez um gol olímpico e levou os torcedores ao delírio. Pouco depois, aos 20, um chute de Casemiro tirou suspiros da torcida. Mas o grito subiu de tom quando Vini Jr. foi lançado na área, aos 26, e dividiu com o goleiro da Sérvia. A galera pediu o pênalti, mas nada foi marcado e o jogo seguiu.
Pouco depois, aos 34, Raphinha recebeu na frente do goleiro da Sérvia e chutou fraco. A galera gritou o tradicional "uuuuh", mas Otávio, tio do camisa 11, advertiu:
— Era para dar uma pancada.
Logo no início do segundo tempo, Raphinha teve mais uma chance e parou no goleiro Vanja Milinkovic-Savic, levando os torcedores à loucura. Depois, Neymar sofreu falta e arrancou mais gritos. Na cobrança, a bola foi na barreira.
Aos sete, Raphinha recebeu na área e foi derrubado. O árbitro mandou o jogo seguir, mas a galera não perdoou.
— Era pênalti! — gritavam.
Aos 14 da etapa final, Alex Sandro mandou na trave e os torcedores ficaram em êxtase. De longe, alguns acharam que o chute tinha sido de Raphinha, pela finalização com a perna esquerda.
O primeiro gol de Richarlison saiu pouco depois, fazendo a galera explodir de vez. Quando Neymar driblou na entrada da área, os olhos ficaram vidrados. Depois do chute de Vini Jr.,todo mundo gritou, e quando o Pombo empurrou para dentro ninguém conteve a festa: ao menos um minuto de gritos, dancinhas e até fogos de artifício para comemorar o 1 a 0 para o Brasil.
O segundo gol, depois do lindo voleio de Richarlison, fez todo mundo enlouquecer. A correria da criançada em meio aos gritos de "Brasil" deram o tom da festa na Restinga.
— Que golaço! Mas ainda vai sair o do Raphinha — dizia Wesley Brum, outro amigo do camisa 11 que estava no local.
O gol não saiu, e a cada substituição de Tite, o público ficava na expectativa se Raphinha sairia de campo. Primeiro, foi Paquetá. Depois, Vini Jr, Richarlison e Neymar. O porto-alegrense da Restinga ficou em campo até os 40 minutos do segundo tempo, quando foi trocado por Martinelli. Os amigos, familiares e fãs aplaudiram. Queriam o gol, que ficou para o próximo jogo, mas nada que tenha impedido a festa pela vitória brasileira na estreia.