A primeira grande zebra da Copa do Mundo foi conhecida nesta terça-feira (22), no Estádio Lusail, onde a favorita Argentina acabou derrotada por 2 a 1 pela Arábia Saudita na abertura do Grupo C. O jogo foi marcado por uma eficiência defensiva dos sauditas no segundo tempo de uma partida que não funcionou a estratégia adotada pelo técnico Lionel Scaloni. Assim teve fim a invencibilidade albiceleste após 36 confrontos.
A grande dúvida sobre a escalação da Argentina para a estreia estava no substituto de Lo Celso, fora da Copa do Mundo por lesão. O próprio Scaloni admitiu em entrevistas não ter no elenco outro jogador de características similares a Lo Celso. Mac Allister e Enzo Fernández têm o jogo por dentro, Papu Gómez e Julián Álvarez são opções para o lado esquerdo. Mas nenhum deles é como Lo Celso, que pode ser o terceiro volante no 4-3-3 ou homem aberto do lado esquerdo na variação para 4-2-3-1/4-4-2.
A opção de Scaloni para iniciar a partida acabou sendo Papu Gómez. Com ele, a Argentina iniciou no 4-2-3-1 tendo De Paul e Paredes como volantes, Di María aberto pela direita, Papu pela esquerda e Messi solto por trás do centroavante Lautaro Martínez.
A Argentina iniciou o jogo tendo Paredes recuando entre os zagueiros para a saída de três e a busca por aproximações com De Paul e os recuos de Messi por dentro diante de uma Arábia Saudita fechada. O gol cedo em pênalti convertido por Messi aos 9 minutos, porém, obrigou os sauditas a mudarem a postura.
Diante de um adversário que passou a se expor marcando alto e dando a possibilidade para os lançamentos longos, a Argentina mudou seu jogo. Deixou de lado as buscas por aproximações e construções curtas para explorar os lançamentos. Foram 15 tentativas de bolas longas no primeiro tempo, bem acima da média normal da equipe. Durante as Eliminatórias, a Argentina teve média de 19 bolas longas a cada partida. Ou seja, chegou perto disso apenas na primeira etapa de sua estreia no Mundial
Essa estratégia ainda criou um espaçamento na equipe. Houve um espaçamento entre a primeira linha formada por Paredes e os zagueiros. Mesmo que os laterais baixassem em alguns momentos, a distância par Di María, Messi, Papu e Lautaro seguiu grande.
Scaloni pareceu não se incomodar com isso porque queria mesmo esses passes longos. A Argentina, no entanto, não soube explorar a linha alta da Arábia Saudita. Foram três gols anulados por impedimento no primeiro tempo. No total, os atacantes argentinos foram flagrados sete vezes fora de jogo caindo na linha de impedimento dos adversários nos primeiros 45 minutos.
Custou caro para a Argentina não aproveitar esse momento de vantagem e tranquilidade emocional para matar o jogo. No começodo segundo tempo, dois erros defensivos em menos de cinco minutos permitiram para a Arábia Saudita virar o placar.
Com 2 a 1 contra, Scaloni tentou três trocas na equipe. Uma simples na zaga, com Lisandro Martínez por Cuti Romero, claramente fora de forma vindo de mais de um mês sem atuar por uma lesão muscular sofrida defendendo o Tottenham. As outras do meio para frente. Enzo Fernández entrou por Paredes e Álvarez por Papu Gómez. O jovem atacante do Manchester City entrou inicialmente aberto pela esquerda sem mudança de sistema.
Com o tempo passando e sem conseguir o empate, Scaloni mexeu na lateral esquerda com Acuña, mais agudo, por Tagliafico. Esse movimento fez Álvarez atuar mais próximo de Lautaro Martínez em uma tentativa de ocupar melhor a área. A Argentina teve situações para empatar parando em um inspirado goleiro AlOwais.
Mesmo que tenha criado chances, a Argentina fez isso muito mais pela vontade e qualidade técnica de seus jogadores do que por organização coletiva. Taticamente, Scaloni apostou em uma mudança de estilo que não obteve êxito no primeiro tempo pelo exagerado número de vezes que seus atacantes entraram em impedimento. Na etapa final, o nervosismo do campo pareceu ter afetado a casamata e o treinador também não encontrou caminhos.
O campo mostrou a falta que Lo Celso faz ao meio-campo argentino. Scaloni precisará encontrar uma solução equilibrada para substituir seu antigo titular ou a Argentina corre risco de repetir 2002 e ser eliminada na primeira fase de uma Copa do Mundo que chegou como favorito.