A cabeça central das decisões, as mãos que executam e o olhar necessariamente crítico e justo. Para encontrar o equilíbrio, Tite faz um exercício diário. É através da espiritualidade que o técnico busca a tranquilidade diante da responsabilidade de comandar a Seleção Brasileira em mais uma Copa do Mundo.
— Sou um turbilhão, algo que fica fervendo por dentro. Para que eu possa encontrar o caminho correto, a espiritualidade é dívida e transcende. Ela é de Nossa Senhora, Jesus Cristo, de Deus — explica Tite.
Foi na Igreja de São Braz, distrito de Caxias do Sul, que Adenor Bacchi e a fé formaram um cordão umbilical. Afinal, em 25 de maio de 1961, ele nasceu dentro do salão da igreja.
— Tite já nasceu abençoado — disse Benedito João Mazzochi, primo de Dona Ivone, mãe do treinador.
Dona Ivone e Genor, pai de Tite, viveram e se conheceram na mesma rua da igreja. Como jogador e depois como treinador, o filho rodou o mundo e morou em várias cidades. A cada visita, porém, sempre tinha uma oração.
O coração gigante de Dona Ivone parou em 2019, aos 93 anos. A devoção à Nossa Senhora de Caravaggio seguiu com o filho ilustre. Contudo, ele não gosta de ser visto assim por lá.
— Quando a gente percebe, ele está por aqui, rondando. Mas às vezes nem reconhecemos, pois é discreto e silencioso — explica o Padre Ricardo Fontana, reitor do Santuário de Caravaggio, em Farroupilha.
O resguardo religioso de Tite é tamanho que ao ir se confessar, certo dia, surpreendeu até os padres mais experientes, como Alcindo Trubian, sacerdote do Santuário.
— Conversei com ele e perguntei: o senhor é irmão do Tite? — recordou Trubian.
No futebol, o respeito ao adversário. Na vida, o respeito às diferenças. Esta é a simplicidade de Tite. Serenidade e paz de espírito para, sobretudo, dialogar em uma seleção de diferentes crenças. Uma liderança nata, fiel as suas convicções.
Tite tem e costuma levar velas e objetos religiosos consigo para onde vai. Como ocorreu no Mundial de Clubes de 2012 e na Copa de 2018, ele encontrou igrejas no Japão e na Rússia, respectivamente.
— As minhas orações diárias eu faço no sentido das pessoas próximas, inclusive as que tenho dificuldade de lidar às vezes ou que não me dou bem. Dos meus adversários, dos meus inimigos. Todos sabem que há um limite, é humano e desafiador — disse Tite.
Questionado pelo Padre Ricardo Fontana se traria do Catar o hexacampeonato para o Brasil, Tite respondeu que suas orações transcendem a questão de ganhar ou perder um jogo. São pedidos de boa viagem, que os atletas não se machuquem e que todos possam retornar para agradecer.
Quando observarmos o "gringo" leal, sensato e agregador, devemos lembrar que também há um ser humano em busca de paz para tomar a melhor decisão, com fé no hexa.