Cléber Marques Serpa Xavier, auxiliar de Tite desde os tempos de Grêmio, em 2001, é um estudioso. Mas futebol não é uma ciência exata. Às vezes, na teoria, está tudo certo. Na prática, porém, é uma folha em branco. E com a sorte lançada a cada jogo, todo tipo de ajuda é bem-vinda.
É o caso da dona Ely, mãe de Cléber, que optou por utilizar o freezer como uma forma de paralisar a Argentina, principal rival do Brasil no Catar. Nas prateleiras do eletrodoméstico de sua cozinha, em Alegrete, tem um pote com o nome de Lionel Messi congelado.
— Não é para dizer, mas eu vou dizer. Tenho uns potes. Aí o Clebinho me manda que o Brasil vai jogar tal time, daí pego os nomes e marco — explica dona Ely sobre sua tática para "congelar" os jogadores rivais.
Cléber Xavier nasceu em Alegrete, louco por futebol. Mas jogar nunca esteve em primeiro plano. Até no jogo de botão ele já tinha o esquema tático. Trocou o interior do Rio Grande do Sul por Porto Alegre para estudar Educação Física e, a partir daí, sua vida virou a de todo treinador de futebol.
— Ele vivia assim e a gente acompanhava, né? Vai trabalhar num lugar, volta. Aí se muda, muda de escola, vai e ganha um título. Tive várias experiências de chegar na cidade e ele ser demitido depois de um mês, então tem todos esses processos de mudanças na vida pessoal — conta Pedro Xavier, filho de Cléber, que também foi inspirado pelo pai a seguir na carreira de educador físico.
— Me lembro quando eu tava no sétimo ano do Fundamental, deveria ter uns 13 anos, eu já falei que eu queria estudar para passar na UFRGS pra fazer Educação Física. Decidi isso muito cedo, que queria trabalhar com Educação Física e acabei entrando muito cedo na faculdade. E essa vontade de trabalhar com futebol segue existindo.
Ainda que tenha começado na base do Inter, foi no Grêmio que sua carreira mudou de rumo e também de patamar. Depois de treinar todas as categorias no Tricolor, foi chamado por Adenor Bacchi, também conhecido como Tite, para ser auxiliar do time profissional gremista. Mal sabia Cléber o tanto que iriam viver.
No primeiro ano, conquistaram título gaúcho e da Copa do Brasil. E 2001 mostrou que o auxiliar seria os "olhos" de Tite em qualquer lugar. Antes da final contra o Corinthians, pela Copa do Brasil, Cléber foi o espião gremista no treino do time de Vanderlei Luxemburgo. Claro, acabou retirado, mas aquela foi uma prova de fidelidade.
— Eles (Cléber e Tite) têm muitas coisas em comum que é esse amor pelo trabalho e essa entrega total pelo que eles fazem e querem fazer com excelência. Eles gostam de fazer com excelência as coisas, mas são pessoas muito diferentes ao mesmo tempo. Com o passar dos anos, a relação foi para um caminho muito profissional. No começo eles estavam sempre juntos, tomando chimarrão juntos, mas aí estavam 24 horas trabalhando — relembra o filho.
Já são 21 anos de parceria entre os dois. Na bagagem, além daquela Copa do Brasil pelo Grêmio, um Mundial de Clubes, uma Libertadores, uma Sul-Americana, dois Brasileiros. Dois diferentes, que se completam, como bem disse o filho de Cléber. Depois da classificação para a Copa do Mundo do Catar, Tite chegou na coletiva de imprensa e disse:
— Eu não posso falar o palavrão que eu queria — em tom constrangido, que foi prontamente completado pelo auxiliar, que deixou escapar o que o treinador não falou.
Cléber é o responsável por quebrar o gelo da relação. Se bem que, se depender de dona Ely, é melhor não tirar o gelo do freezer nessa Copa do Mundo.