Aprende-se muita, muita coisa com a Copa do Mundo. A cada quatro anos, ela nos traz lições de futebol, de vida. Algumas são definitivas.
A da Rússia, a Copa dos "Haters", não foi diferente. Acabou para a Seleção Brasileira com a derrota de 2 a 1 para a Bélgica nesta sexta-feira (6) na Arena Kazan, mas as lições são inúmeras de um Mundial em que campeãs enfileiram-se na queda.
1. Vencidos por uma geração
O Brasil é um país acostumado a ver tudo como ou preto ou branco. A dicotomia dorme, acorda, toma café e almoça na casa de cada um. E há anos divide os críticos com relação ao rótulo que a seleção de futebol da Bélgica ganhou por unir seus melhores jogadores dos últimos anos, talvez da história. Um erro. A dicotomia impede o aprofundamento.
A eliminação da Seleção para o time belga é um tiro no peito de quem prefere desdenhar a conhecer. Evidente que eles sabem jogar. Mas também não pode ser trampolim para o oportunista: o "eu avisei!" também tem pouco a acrescentar. Até porque a vitória belga veio pelo talento de seus valores, mas também muito por erros brasileiros e casualidades.
2. O perigo do rótulo
Na Copa da Rússia aprendemos que rótulos podem cair com a mesma velocidade com que são colocados. Ou vai me dizer que você não se surpreendeu com a atuação impecável de Thiago Silva depois de anos com a cena do choro de 2014 martelando na cabeça de cada um? Mas e Fernandinho? O que será desse rapaz?
De novo, o volante tem atuação desastrosa no jogo da eliminação, como foi em 2014 no 7 a 1 contra a Alemanha. O gol contra, os sucessivos erros de passes e a derrota evidente nos embates com Lukaku, que começou a jogada do segundo e determinante gol, formam ingredientes de sobra para torná-lo novamente vilão.
Mas até que ponto isso é justo e, mais, inteligente? A Seleção perdeu muito sem Casemiro, seu ponto de equilíbrio, Tite bancou e insistiu com o camisa 17 até o fim da partida. Fernandinho teve uma jornada extremamente infeliz, mas talvez pouco seria lembrada no futuro caso a bola de Renato Augusto nos minutos finais tivesse entrado ou Courtois não impedisse o gol de Neymar nos acréscimos.
Porém, outra coisa que a Copa ensina é que a história, no futebol e principalmente no Brasil, é escrita pelos vencedores. Fernandinho não pode ser coitado. Mas talvez mudar essa necessidade de caça às bruxas nos faça evoluir mais do que conseguimos em quatro anos.
3. Um tempo acachapante
Em 2010, na África do Sul, na queda para a Holanda, aprendemos que bastam 45 minutos ruins para que um projeto inteiro vá por água abaixo. Em 2018, a história se repete. O Brasil tomou um baile da Bélgica no primeiro tempo e foi para o intervalo com seu sonho destruído. Tite tentou reerguer acionando o plano B, de passar do 4-1-4-1 para o 4-4-2, mas não foi suficiente. O gol de Renato Augusto deu esperança, reacendeu a torcida brasileira, mas não deu.
Foi a terceira vez que a Seleção no comando de Tite saiu atrás no placar em 25 jogos. Tinha virado contra o Uruguai (4 a 1) e perdido para a Argentina (1 a 0). E assim perdeu a Copa. Lição de que, mesmo com as coisas sendo bem feitas, como Tite fez, não é garantia de vitória, nunca será. E por isso é sempre bom o cuidado com a exaltação exacerbada. O que houve com a Alemanha?
4. A torcida é um caso a parte
A Rússia ensinou que o brasileiro também sabe torcer em Copa. Os jogadores não podem reclamar do apoio contra a Bélgica e em nenhum momento no Mundial. Enterraram o "Sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor", e foram criativos. Ainda é algo novo, e portanto pode melhorar muito, mas fica a lição de que é possível se organizar melhor. Fica para o Catar.
5. A vergonha
A Rússia ensinou que torcer fora de seu país não pode ser pretexto para falta de respeito e outros excessos, como nos inúmeros casos de assédio a mulheres, sejam russas ou de qualquer lugar que seja. A prudência sempre ajuda.