Não fosse o sotaque castelhano e a cor celeste, os uruguaios facilmente poderiam ser confundidos com gaúchos torcendo pela Seleção. Já classificados, Uruguai e Rússia entraram em campo para definir quem ficaria com o primeiro e o segundo lugar do Grupo A.
Uruguaios levaram a melhor com goleada de 3 a 0 sobre os anfitriões da Copa. GaúchaZH acompanhou torcedores da seleção do país vizinho em um restaurante típico na zona norte de Porto Alegre.
Desde o início da Copa, os cerca de 30 torcedores da Celeste fizeram do lugar na Avenida do Forte o seu quartel general. Tudo começou com a criação de um grupo no WhatsApp:
— Queria fazer daqui um pouco do nosso Uruguai — conta o dona do La Chiviteria, Martin Mesa Álvarez, 39 anos.
O restaurante fica fechado para o público durante as partidas e só entram convidados. Os custos da comida e da bebida são repartidos.
Mesmo com a manhã chuvosa na Capital e a partida em horário comercial, às 11h, a turma compareceu ao local. Regada a mate — pelo menos cinco cuias circularam entre os amigos —, mas também vinho e cerveja, a comemoração se concretizou a cada um dos três gols.
Para delírio dos uruguaios na Capital, Suárez abriu o placar logo aos 10 minutos do primeiro tempo.
— Se ele não faz, já morde um ali — brincou o cabeleireiro Ugo Lazo, vestido com uma peruca, demonstrando que a fama do craque uruguaio não é vista como ruim para a torcida, muito pelo contrário. — Ele tem a garra que a gente gosta — completou.
O primeiro tempo acabou em 2 a 0 e ao som da torcida uruguaia:
— Soy Celeste, soy Celeste, soy yo! — entoaram todos juntos e abraçados.
No intervalo, teve música típica candombe e embaixadinha — que quase quebrou um lustre do restaurante! Apesar da vantagem, o clima foi tenso na segunda etapa da partida.
— Queremos o terceiro! Vamo, vamo! — gritou um dos torcedores.
Mesmo com a brasa acesa desde as 10h, a carne foi para o fogo somente na metade do segundo tempo. Apesar de ser chef parrillero, o dono do restaurante trocou a grelha pela bandeira uruguaia e ficou sentado em frente à TV.
— Não tenho tranquilidade suficiente para assar enquanto o Uruguai está em campo — justifica Alvarez.
A responsabilidade de assar as tiras, o entrecot, a morcilha, a salsicha e a paleta de cordeiro coube ao chef e amigo Martin Luzardo, 37 anos, 14 morando em Porto Alegre. Com tanto tempo no Brasil, assim como a maioria dos conterrâneos, a "grenalização" acaba surgindo na conversa.
Torcedor do Nacional do Uruguai, ele conta que virou colorado — o que não é comum, pois o "tradicional" é que torcedores do Peñarol sejam ligados ao Inter e, os do Nacional, ao Grêmio — quando, em 2010, pegou um voo com Diego Forlán.
— Ele estava vindo para jogar no Inter e foi tanta coincidência, que ficamos amigos e virei simpatizante do time — conta Luzardo.
Como o Nacional é o time do dono do restaurante, a maioria no local adotou o Grêmio. Tanto é que, dentre os torcedores do grupo, dois irmãos gaúchos e tricolores acompanham os jogos da seleção vizinha no restaurante desde 2010. Rodrigo e Augusto Oliveira Frigo explicam que moram na vizinhança e que a identificação com Alvarez foi imediata.
— Já viajamos para ver jogos do Grêmio no Uruguai e sempre fomos bem recebidos. Acho que temos uma cultura parecida que nos aproxima. Quando o Martin (Álvarez) veio morar aqui, fechou tudo — conta Rodrigo, professor de 29 anos.
Quando o terceiro gol surgiu de uma jogada de Cavani, uma das estrelas da equipe e da Copa do Mundo, aos 46 minutos, o grupo comemorou como se assistisse à final. No que depender dos celestes da capital gaúcha, o tricampeonato mundial já é uma certeza.
— Volveremos, Volveremos, Volveremos otra vez. Volveremos a ser campeones como la primera vez! — cantaram todos, ao mesmo tempo em que a primeira tábua de assado era servida.