"Muy malo. Poca visión, malo de cabeza, colocación". Esta foi a descrição de um jornalista espanhol quando o Grêmio anunciou, no final de 2013, a contratação de Pedro Geromel, um dos 23 nomes convocados pelo técnico Tite para defender a Seleção Brasileira na Copa do Mundo da Rússia.
Formado nas categorias de base da Portuguesa e revelado pelo Palmeiras, o zagueiro transferiu-se aos 19 anos para Portugal, onde defendeu o modesto Desportivo Chaves e o Vitória de Guimarães. Pouco conhecido pelo público brasileiro, desembarcou em Porto Alegre sob desconfiança da torcida e virou motivo de piada nas redes sociais. O sobrenome engraçado, a aparência considerada pouco intimidadora para um defensor e os rebaixamentos pelo Colônia, da Alemanha, e pelo Mallorca, da Espanha, pesavam contra a aposta da direção gremista.
Se a expectativa assustava, o início de trabalho não dava indícios de algo muito melhor. Em seu primeiro jogo como titular, um cartão amarelo. No segundo, um gol contra. Em um Grêmio que já amargava mais de uma década sem conquistas, Geromel parecia caminhar para o hall dos esquecidos.
Reserva de Werley durante o primeiro semestre de 2014, Geromel assumiu a posição ao lado de Rhodolfo, um dos pilares técnicos da equipe. Com atuações seguras da dupla, o time comandado por Felipão transformou-se em uma fortaleza, terminando o Campeonato Brasileiro com apenas 24 gols sofridos — sete a menos que o Corinthians, segunda defesa menos vazada da competição.
Dentro de campo, livrou-se de todos os estigmas que o cercavam. De jogador com pouca visão e de má colocação, transformou-se em sinônimo de solidez defensiva e liderança no vestiário tricolor. Em 2015, levou a Bola de Prata, prêmio entregue pela revista Placar em conjunto com a ESPN. A conquista deu fim a um jejum de 19 anos de zagueiros gremistas, quando Adilson Batista foi eleito um dos melhores do Brasileirão de 1996. Em 2016, levaria o bi na Bola de Prata.
Firmado em Porto Alegre, Geromel viu as piadas virarem ao seu favor. Transformou-se em "Geromito". A desconfiança deu lugar aos aplausos ao ter o nome anunciado no telão da Arena. Sem a companhia de Rhodolfo, vendido para o futebol turco, manteve o alto nível jogando ao lado de atletas contestados, como Erazo, Fred e Wallace Reis.
Em 2016, a chegada do argentino Walter Kannemann permitiu que o Grêmio montasse a combinação considerada historicamente perfeita pelo clube: um zagueiro técnico, outro viril. Juntos, os dois anularam os badalados ataques de Palmeiras, Cruzeiro e Atlético-MG e ajudaram o Grêmio a conquistar o título da Copa do Brasil daquele ano.
Na temporada seguinte, o zagueiro passou pelo maior momento da carreira. Com Maicon lesionado, recebeu de Renato Portaluppi a braçadeira de capitão e comandou o time na histórica campanha do tricampeonato da Libertadores. O primeiro brasileiro desde Tito, em 1963, a erguer a taça em território argentino.
Geromito virou Capitão América e, agora, jogador de Copa do Mundo.