A convocação de Dedé não foi a única comemorada na Toca da Raposa na manhã desta quinta-feira. Um outro chamado de Felipão deixou os jornalistas, jogadores e todos os profissionais do Cruzeiro emocionados. O ex-morador de rua e atual massagista do clube, Tita, também irá compor a delegação do Brasil nos amistosos contra Coreia do Sul e Zâmbia, nos dias 12 e 15 de outubro, respectivamente.
"Tipo gente grande". Assim definiu Edmar Antônio da Silva, mais conhecido como Tita, massagista do Cruzeiro, ao conceder a entrevista coletiva aos jornalistas na sala de imprensa. Dos 55 anos de idade, 32 são dedicados ao futebol, e 13 como massagista do time mineiro. Ainda anestesiado pela convocação do amigo Felipão, Tita falou da emoção de ser chamado.
- Quero agradecer a todos vocês pelo carinho comigo, a paciência em me tolerar. A emoção é muito grande. Achei até que era pegadinha de 1º de abril. A vida é assim, notícias boas e ruins acontecem. Vou fazer o máximo para honrar o nome do clube, da minha família e do nosso estado. Estou tipo gente grande aqui, é muito legal. Meu objetivo é ser lembrado para a Copa do Mundo e oferecer o título mundial aos moleques de rua - comentou o massagista.
Ex-morador de uma favela em Belo Horizonte, Tita relembrou os tempos difíceis e reforçou a perseverança que o permitiu superar as dificuldades e realizar seu sonho.
- Minha maior alegria foi ser pai. Minha mulher tinha as trompas obstruídas, mas graças a Deus consegui ter um filho, hoje, com 23 anos. E, no andar da carruagem, há tempos, eu passei necessidade. Sou da Pedreira Prado Lopes, fui criado na rua e passei muitas dificuldades. Morei em caixa de papelão, pegava resto de comida para comer. Mas nunca desviei uma agulha de ninguém, nunca enganei ninguém. Deus é maior, e ele está me recompensando por isso agora - disse Tita, contando a razão para que parte dessa conquista tenha a influência de Felipão, técnico que conheceu em 2000, no comando do Cruzeiro.
- Eu estava indo embora carregando a cesta pesada, quando o Felipão me chamou e falou: "pra onde você vai?" Eu disse que estava indo pra casa. Aí ele falou: não, deixa que eu te levo lá! Eu disse, não precisa, eu moro na favela. Mas ele insistiu e disse que me levava. Quando nós chegamos na minha casa, que era muito simples, o Felipão falou: Não acredito que um funcionário do Cruzeiro mora em um lugar assim. Ele então falou que, se a gente fosse campeão da Copa Sul-Minas, ele me daria o bicho dele. Nós fomos campeões, ele tirou o bicho do bolso e me deu. Eram R$ 18 mil. Aí os jogadores inteiraram o resto e eu pude comprar o meu apartamento. Saí da favela e comprei um apartamento - contou o massagista.
Dono de uma simplicidade incrível, o funcionário da Toca embarca em outubro, juntamente com o zagueiro Dedé, para se juntar à Seleção e iniciar a busca de um novo sonho, de carimbar sua vaga para a Copa do Mundo e ser campeão com o Brasil.
- Melhor do que ser convocado, vai ser se eu for lembrado na Copa do Mundo e se for campeão em nosso país. Eu tenho sonhos maiores, e o maior deles é conquistar o mundial no meu país, e oferecer para as crianças - concluiu Tita.