Os jogadores das Séries A e B utilizaram, durante a primeira rodada do Brasileirão, uma faixa preta (ou azul, por alguns times) no braço. O protesto teve como objetivo abrir a discussão sobre dois projetos que tramitam no Congresso Nacional e que, na visão dos atletas, é prejudicial para eles nas relações de trabalho com os clubes.
A discussão é liderada por Felipe Augusto Leite, presidente da Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf) – uma entidade de segundo grau, que reúne 18 sindicatos estaduais. Goleiro com passagens por América-RN e Vasco nos anos 1980 e 1990, Felipe se aposentou aos 23 anos, em 1993, para estudar Direito. Advogado há 20 anos, foi presidente do Sindicato dos Atletas do Rio Grande do Norte antes de assumir a Fenapaf em abril do ano passado.
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Em entrevista por telefone a Zero Hora, Leite explicou os motivos do protesto. Ainda que a iniciativa tenha repercutido entre os maiores jogadores do país, o objetivo principal é beneficiar os atletas que convivem com a realidade de salários baixos e insegurança ao fim dos campeonatos estaduais.
– O problema é a insegurança no contrato de trabalho. Por exemplo, os clubes poderiam pagar apenas 10% do saldo do contrato em caso de demissão sem justa causa. Hoje, é 100%. Não vamos melhorar o futebol brasileiro dando insegurança aos jogadores. O clube pagaria 10%, mas quando o jogador quer ir embora, a multa é milionária, desproporcional. Quando o jogador sai de um time e vai para outro, não pode levar sua casa, a escola dos filhos. Ele assina um contrato de dois anos, fica dois meses e é mandado embora, recebendo apenas 10%? Queremos preservar o direito – explicou o representante.
Outro ponto de análise, segundo Leite, está na saúde dos atletas. Os dois projetos que tramitam no Congresso – um na Câmara e outro no Senado, e que podem ser unidos em um – propõem possibilidade de fracionamento das férias e a divisão do intervalo entre jornadas em dois períodos de 12 horas. Atualmente, a lei exige um intervalo de 24 horas de descanso para os jogadores depois do trabalho regenerativo.
– Nós temos protocolada a proposta de calendário junto à CBF. Mas é inflexível a relação dos 30 dias de férias e 25 dias de pré-temporada. A CBF tem nos respeitado neste ponto. Tem que haver respeito à saúde dos atletas – comentou.
A ação que começou na sexta-feira, na abertura da Série B, vai até esta segunda-feira – quando Coritiba e Atlético-GO fecham a primeira rodada da Série A. A Fenapaf avaliará a repercussão da iniciativa antes de projetar novos protestos. Felipe Augusto Leite disse que a federação reúne capitães e líderes das quatro divisões do futebol brasileiro, inclusive representantes do agora extinto Bom Senso FC.
– O movimento do Bom Senso não estava ligado à Fenapaf, mas os jogadores chegaram quando eu assumi. A categoria está unida. Os líderes do Bom Senso disseram que o movimento não era mais necessário por isso. A entidade (Fenapaf) é um orgão de representação de classe jurídica e legalmente capaz. Todos estão conosco, são ouvidos e apoiados. Entre eles estão Lugano, Paulo André, Douglas, D'Alessandro. Também precisamos instigar novas lideranças. A discussão não pode passar sem ouvir os protagonistas – concluiu.
Um terceiro ponto defendido pela Fenapaf é a manutenção do pagamento dos direitos de arena – percentual recebido pelos jogadores em cima dos valor pago aos clubes pelos direitos de transmissão dos jogos. As discussões se referem à Lei Geral do Futebol, que tramita na Câmara dos Deputados, e à Lei Geral do Desporto, no Senado.
*ZHESPORTES