O pós-janela de transferências abriu espaço para estrangeiros brilharem na Copa do Brasil e no Brasileirão. No segundo turno, por exemplo, quase 10% dos gols têm assinatura em espanhol (ou turco-inglês, no caso de Kazim-Richards). Ramón Ábila, do Cruzeiro, Andrés Chávez e Christian Cueva, do São Paulo, são os mais destacados. Na Dupla, Seijas, do Inter, também pode entrar nessa turma, ainda que dois outros personagens estejam devendo, casos de Nico López e Miller Bolaños.
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Ábila mudou o Cruzeiro. Para tirar da Argentina o goleador do Huracán, pagou mais de R$ 12 milhões por 50% de seus direitos econômicos. A resposta veio em pouco tempo: em 10 jogos, fez seis gols. Se somar aos 162 minutos da Copa do Brasil, aumenta para nove o número de vezes em que derrubou a meta adversária. É a arma da equipe de Mano Menezes para o clássico contra o Atlético-
MG, no domingo. Sua fase mereceu até atenção especial do técnico do Galo, Marcelo Oliveira:
– Ábila é forte e rápido, vamos estudar a melhor maneira de entrar em campo e marcar.
Aos 27 anos, o argentino vinha de cinco gols em seis jogos na Libertadores e de 11 gols em 15 em jogos no campeonato de seu país. Seria um investimento alto, mas certeiro: além do bom posicionamento, o centroavante apresenta conclusão qualificada de pé direito e esquerdo, além de força na jogada aérea, apesar de seu 1m77cm.
No São Paulo, a dupla estrangeira Chávez e Cueva impede o clube de estar – ainda mais – próximo da zona de rebaixamento.
Os dois fizeram quatro dos seis gols do time no segundo turno. O argentino, ex-Boca, está com cinco no Brasileirão. Mesmo número do peruano, ex-Toluca.
– Não me surpreende esse desempenho do Chávez. No Banfield, foi muito bem como centroavante, tem presença de área, cabeceia bem, conclui. No Boca, ao contrário, o técnico Guillermo Schellotto, o escalava como ponteiro esquerdo, perdendo sua melhor característica – comenta Daniel Avellaneda, editor do jornal Clarín, da Argentina.
Para ele, a adaptação rápida do jogador reflete seu caráter. Avellaneda lembra que mesmo nos maus momentos do Boca, quando inclusive perdeu lugar no time, jamais deixou de se importar e de se dedicar em treinos e, principalmente, em jogos.
Cueva é outro exemplo. O peruano teve poucas atuações de brilho pelo Toluca – uma delas contra o Grêmio, na Libertadores. Depois, no São Paulo, adaptou-se em pouco tempo e já virou cobrador de faltas, pênaltis e escanteios.
– É um grande jogador, que infelizmente foi pouco aproveitado aqui. Ele tem muito ainda para demonstrar e agora está confiante. Ricardo Gareca tem apostado nele como arma para a seleção peruana – lembra a jornalista Abigail Parra, do portal mexicano MedioTempo.
Seijas também vive bom momento, apesar de seu Inter estar instalado na zona de rebaixamento. Veio de sua boca a primeira declaração sobre o perigo de queda da equipe, quando ainda estava no meio da tabela. É dele a liderança do vestiário e a irresignação com os maus resultados.
A todos esses, que chegaram após a abertura da janela, há que se somar outros valores em destaque há mais tempo. No Atlético-MG, por exemplo, o equatoriano Cazares fez seis gols antes da lesão que o tirou dos gramados por três meses. Pratto, depois de uma boa Libertadores, ainda patina na nova função um pouco mais recuada. Mesmo assim, foi chamado por Edgardo Bauza para a seleção argentina.
Na primeira divisão, aliás, todos os times têm ao menos um estrangeiro em seu grupo de jogadores. Para Daniel Avellaneda, isso é consequência do momento financeiro dos clubes brasileiros, cujo campeonato dá visibilidade e possibilidade de crescimento.
– Mas também é reflexo do futebol nacional. Se o país não produz talentos suficientes, precisa importar. O único problema é que pode refletir na Seleção – aponta.
Já o jornalista Lucho Silveira, do blog El Enganche, comentarista de futebol sul-americano para a Rádio Gaúcha, vê outro fator positivo:
– O sucesso desses estrangeiros mostra que os clubes estão ficando mais seletivos. A busca por jogadores está melhor. Antes, vinham muitos jogadores desconhecidos, como apostas, e que não vingavam. Hoje se busca com mais hierarquia, para usar a expressão deles. Por exemplo, Pratto, Ábila, Mancuello eram referências em seus times.
Para ele, a próxima fase é seguir o modelo montado por Benfica e Porto: garimpar os jovens talentos do mercado sul-americano para aproveitá-los e, depois, revendê-los:
– A dupla Gre-Nal até tentou, mas fez escolhas erradas com Alán Ruiz e Luque. Mas a obervação está no caminho certo.
*ZHEsportes