Imagine um técnico com métodos inovadores, diálogo com a base (em oito meses, foram cinco jogadores "revelados"), campeão regional e semifinalista do torneio continental, o único no país. Em qualquer lugar do mundo esse técnico seria respeitado e admirado.
Menos no Brasil, onde esse treinador seria demitido como Diego Aguirre no Inter, completando o número de demissões em 13 nessas 16 rodadas de Brasileirão. Nenhum futebol demite tanto e colhe tão pouco disso. Por quê? Simples: futebol não é restaurante pra derrota ser colocada na conta de alguém. Não é casamento falido pra criar fato novo. Não é zoológico pra ter anta ou burro. Não é circo pro técnico balançar e cair. Clichês que reafirmam: a forma como o brasileiro concebe e interpreta futebol é equivocada e cobra um preço cada vez maior.
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Tratamos um ambiente complexo, com diversas variáveis - tática, técnica, psicológico, físico, social, genético, humano - com o mero reducionismo de "bom" ou "ruim" e arrogância: o seu time ideal é sempre melhor do que o do técnico. O brasileiro aponta o dedo para os outros, mas nunca olha para si.
Nesse contexto se insere Vitorio Piffero e Carlos Pellegrini, que nasceram e cresceram nesse ambiente de superstição, prepotência e ansiedade que fica evidente após o 7 a 1. Na verdade sempre foi assim.
Isso tem nome: clientelismo. O futebol aqui é visto como uma relação de compra e troca: "assisto e gosto, logo, quero ser atendido em minhas exigências". Se o time não goleia, ganha tudo ou dá espetáculo como o torcedor e o dirigente esperam, tá tudo errado. O futebol é esporte mais popular do mundo justamente por ser imprevisível, caótico, bagunçado, racional, irracional, emotivo e frio. Futebol é uma competição, feita por humanos e para humanos. Não é algo que você compra e reclama nas redes sociais se veio com defeito.
Ver o todo, entender as relações e compreender os sistemas e conexões de tudo que compõe esse esporte é o que norteia não apenas os dirigentes "modernos", mas os técnicos, jogadores e profissionais que estão no topo da cadeia hoje. O torcedor não precisa ser expert - precisa amar seu clube como clube de futebol, não objeto de compra. A era das redes sociais só piorou essa relação: a pressão agora vem pelo Twitter, chega ao conselheiro e acaba nas notícias de hoje. Um círculo vicioso que nunca quebra.
Tá cansativo: a gente alerta, explica, tenta ajudar. Mas quando vamos parar de apontar o dedo e começar a entender de verdade o futebol?