É hora de aplaudir a CBF. Isso mesmo. A entidade que merece todas as críticas pelos 7 a 1 da última Copa, por não parar o campeonato durante a Copa América, pelo calendário draconiano que impõe aos jogadores e pela falta de transparência nas suas decisões pode, sim, ganhar elogios. Por experimentar algo novo.
O Brasileirão que se inicia neste final de semana terá jogos às 11h de domingo. A estreia, inclusive, se dará aqui, com Grêmio e Ponte Preta na Arena. A experiência começou no Campeonato Paulista, por influência da Polícia Militar. Era 15 de março, data dos primeiros protestos contra o governo Dilma, e havia simultaneidade da manifestação com o jogo entre Palmeiras e Botafogo de Ribeirão Preto no Allianz Parque. A Polícia se negou a fornecer segurança para os dois eventos e optou por monitorar a mobilização. Não houve outra alternativa senão transferir a partida para as 11h de domingo, um horário muito usado pelo Campeonato Paulista na década de 1980 e depois abandonado.
Vinte e seis mil pessoas vibraram com o 1 a 0 do Palmeiras. No dia 12 de abril, novo protesto contra Dilma, novo impasse em jogo do Verdão, desta vez pelas quartas de final. O estádio acolheu 35.437 pessoas na vitória do dono da casa por 1 a 0.
Ok, você vai dizer: o Palmeiras tem um estádio recém-inaugurado, todos os torcedores querem conhecer, o clube tem o segundo maior número de sócios do país e, é óbvio, vai atrair um grande público. Mas a média de assistentes em 2015 do novo estádio é de 28 mil. Um número superior foi até lá às 11h.
Voltemos a nossa aldeia. Pela manhã, em comparação à noite de domingo, o transporte coletivo é ofertado em maior quantidade, a luz do dia dá mais segurança a todos e incentiva programas com famílias inteiras. E ainda dá pra sair do estádio e aproveitar o domingão (por que não às 11h de sábado também?) no Parcão, no Brique, no Gasômetro, num churrasco em casa ou em restaurantes da cidade. E um efeito colateral: na Inglaterra costumam marcar jogos "de risco" para o fim da manhã para não dar tempo suficiente de os brigões encherem a cara antes de ir ao estádio.
É claro que, no verão, o futebol matutino pode se tornar impraticável. É claro que jogar ao meio-dia do Rio para cima pode ser cruel. Precisamos ter medidas diferentes para situações diferentes. Aqui no Estado, acredito que o horário das 11h pode funcionar. Principalmente se pudermos reduzir o número de jogos às 21h de sábado ou às 18h30min de domingo, quando o frio, a dificuldade em voltar para casa e aquela natural melancolia pela proximidade da segunda-feira proporcionam os piores públicos da Dupla em Brasileirão.
Vai dar certo? Não sei, mas vale a tentativa.