Um dia, encontrei o deputado Danrlei no restaurante de um shopping.
Mas quem estava na minha frente não era o respeitável parlamentar. Era a muralha tricolor, um dos símbolos de uma época em que meu time ganhava pouco. E o dele, muito. Lembrei das confusões com o Uh-Fabiano, das provocações que ele fazia a nós, colorados. Agora, anos depois, chegara a hora da vingança. Só que não.
Primeiro, porque o Danrlei continua sendo um palmo mais alto do que eu. Segundo, porque em vez de raiva ou rancor, senti saudade.
Uma espécie de ternura por aqueles domingos de sol em que o churrasco vinha pra mesa quase cru. A fome de ir pro estádio era bem maior do que a vontade de comer. Foram tempos bicudos para nós, colorados. Duas décadas depois, me dei conta: no fundo, tudo era uma grande festa. A gente saía do estádio com a cabeça quente e sonhava com dias melhores.
E eles chegaram. Demorou, mas chegaram.
Então olhei pro Danrlei e disse: "Cara, já te xinguei das piores coisas sentado no Beira-Rio e no Olímpico...". Rimos os dois. Conversamos sobre futebol e política, o que fazemos eventualmente até hoje.
Fui embora feliz por essa espécie de reconciliação com um personagem tão marcante do meu passado. Que, na verdade, nunca tinha sido meu inimigo.
No caminho até o carro, fui tentando me lembrar. Lancei a bola em direção ao passado. E saí correndo atrás. Como era a musiquinha mesmo? Lembrei!!! "Danrleeei, viaaaado". Cantei em voz alta, sem me dar conta de quem eu era e nem de onde estava. Uma mulher que passava com a filha no colo me olhou com ares de censura.
Ela tinha toda a razão. O futebol, às vezes, deixa a gente imbecil.
Nem tentei explicar.