As montanhas da cadeia Atlas recebem, a partir deste sábado (5), o Rali do Marrocos, quarta e última etapa do Mundial de Rali Cross-Country. E uma dupla brasileira está perto de garantir o tricampeonato: o piloto Reinaldo Varela e o navegador Gustavo Gugelmin lideram a categoria T3 entre os carros, com o CanAm da equipe Monster Energy. Eles precisam de apenas dois pontos ao final dos cinco dias de competição para faturar a taça.
Desde o início da semnaa, os brasileiros estão em Fez — cidade medieval que serve de sede para o rali — para os últimos treinos, antes da largada. Além deles, grandes nomes do automobilismo estão presentes, como Stéphanie Peterhansel e Nasser Al-Attiya, multicampeões do Rali Dakar, além do espanhol Fernando Alonso, que vem participando de provas off-road no seu primeiro ano aposentado da F-1. Em meio à preparação, Varela falou sobre a expectativa antes de acelerar nas dunas marroquinas e sobre o sonho de lutar por um título mundial.
Como foi a temporada até aqui? Além do Mundial, quais foram as principais disputas do ano?
Tivemos duas vitórias, nos ralis do Catar e do Cazaquistão, e um segundo lugar na etapa dos Emirados Árabes. Como nosso foco é o Mundial, está sendo uma excelente temporada. Aqui no Marrocos nossa meta é conquistar o tricampeonato, então vamos focar mais em conseguir os pontos que faltam. Claro, se tivermos condição, vamos brigar pela vitória, ou por algum resultado lá na frente, mas o importante é o título. Também fomos campeões do (Rali dos) Sertões, minha oitava vitória nessa corrida.
O Rali do Marrocos tem especiais mais curtas do que as demais etapas. Isso muda algo para vocês?
Geralmente, quando as especiais são mais longas, a estratégia e a experiência têm mais peso do que normalmente possuem. Em um percurso maior, você tem mais possibilidade de errar ou de ser menos cuidadoso em alguma situação de risco, situações geradas pelo cansaço e alguma desatenção. Em especiais mais curtas, você muda um pouco a forma de encarar a corrida, pode ficar mais ousado e talvez menos prudente — e aí está um grande erro. A graça dos ralis cross-country é justamente misturar velocidade e talento técnico com um bom entendimento das dificuldades que o percurso oferece. E nisso conta muito ter um navegador competente e inteligente, que te ajude a pensar em tudo. Eu tenho um ótimo, meu parceiro e amigo Gustavo Gugelmin.
Como é passar o ano dividindo as disputas com grandes nomes do esporte, como Peterhansel, Al Attiya, Nani Roma, Carlos Sainz e Giniel De Villiers?
É uma honra. Comecei minha vida na fazenda, em Mirandópolis, no interior de São Paulo. Foi lá, dirigindo carro, trator e caminhão, que tomei gosto pelo off road. Nunca imaginei que um dia estaria aqui, brigando por um tricampeonato mundial. A gente sonha, como todo jovem, mas a realidade sempre é algo distante. Eu queria muito ser piloto, comecei nos ralis universitários com um carro do meu tio, coisa bem leve e amadora, mas extremamente válida para quem quer entender o básico e também se divertir. Imagino que alguns desses grandes pilotos também tenham tido inícios modestos assim. É fantástico ter a noção de que essa história me levou ao que estou vivendo agora.
E o Fernando Alonso? Vocês, já veteranos do rali, gostam da presença dele? Chegaram a conversar com ele nos treinos?
Ainda não encontrei com ele. Mas o Alonso é um cara que encarna bem o que é um "ralizeiro" da gema: um piloto puro-sangue. É muito legal ver como ele curte viver uma competição, como as corridas são quase oxigênio na vida dele. As pessoas apaixonadas por rali são assim também. Vivo isso desde a minha juventude e, felizmente, minha esposa e os meus três filhos, que são pilotos, também são muito ligados ao esporte. Basta estarmos juntos que o assunto é corrida. É claro que a presença do Alonso aqui é algo que torna este rali um pouco maior do que já é, um grande momento do esporte. Como disse antes, é uma honra estar aqui.
MUNDIAL DE RALI CROSS-COUNTRY
- Reinaldo Varela/Gustavo Gugelmin (BRA) — 68 pontos
- Fedor Vorobyev/Kirill Subin (RUS) — 45 pontos