Chegar à Fórmula-1 é o sonho, e até obsessão, da maioria dos pilotos. Isso não foi diferente com Bruno Senna. Mas após três tentativas até certo ponto frustrantes na categoria, o brasileiro agora quer outros objetivos. Vencer no campeonato mais glamuroso do automobilismo não saiu de sua cabeça. No entanto, uma nova tentativa só se for por uma equipe que lhe de boas condições para correr.
Até por isso, o piloto resolveu mudar de ares em 2013 e tem se dedicado ao Mundial de Endurance, na classe GTE Pro. Líder após duas corridas, o próximo desafio é o maior da temporada: as 24 horas de Le Mans (FRA), no próximo sábado.
Em conversa com o LANCE!NEt, Senna falou sobre a competição, o passado na Fórmula 1 e até a chance de correr na IndyCar. Confira:
Depois de duas etapas do Mundial de Endurance (provas de longa duração), sua equipe lidera o campeonato. Esperava um sucesso tão rápido na categoria?
Foi um começo de Mundial que não imaginávamos. Não tinha como pensar em começar desta forma, sem nunca ter tido uma experiência na categoria. Estou contente com os resultados (uma vitória e um segundo lugar) e bastante animado.
Depois de tantos anos correndo em monopostos, foi difícil se adaptar a um carro de turismo?
Não é fácil, porque sempre estive acostumado a carros de monoposto. Você fica numa situação mais complicada para aprender. O pessoal que está neste campeonato é super experiente, conhecem bem o esquema nas corridas, como se comportar. Tem sido um grande desafio.
Qual a sua expectativa para a disputa das 24 Horas de Le Mans?
Será um desafio grande, é uma corrida superdifícil. Eu tenho pouca experiência na prova, diferentemente dos meus companheiros. Pretendo aprender muito com eles.
O Mundial de Endurance é uma competição pouco divulgada no Brasil. Teme ser esquecido pelo público brasileiro correndo nele?
A Fórmula 1 sempre foi a categoria mais vista no Brasil, tivemos pilotos muito bem sucedidos e isso criou uma certa ignorância em relação a outras categorias. Todo mundo sabe da minha dificuldade em conseguir fazer a divulgação do Endurance, por isso conto com a ajuda da imprensa. Mas nem tem como comparar com a Fórmula-1.
Por falar em Fórmula-1, ela é algo que já ficou no passado ou é um assunto ainda mal resolvido?
Eu nunca digo não para a Fórmula-1. Mas se eu for voltar para a Fórmula-1 tem de ser uma oportunidade legal, algo que vá me ajudar. Se for para correr numa situação pior do que a que eu estava antes, não vai mais valer a pena. Prefiro fazer carreira fora da Fórmula-1 a ficar passando dificuldade lá. Para mim, está tudo tranquilo. Estou indo bem no Endurance, estou contente.
O que faria você voltar a correr na Fórmula-1?
Para mim é claro que tenho de estar em uma equipe de um bom nível e capaz de marcar ponto constantemente. Esta é a condição.
Você acha que foi justa sua passagem pela Williams, sendo que em quase todos os primeiros treinos livres de sexta-feira você teve de dar lugar ao Valtteri Bottas?
Se for considerar o tempo de pista, claro que não foi. No ano passado, quando o campeonato foi extremamente competitivo, ter quilometragem era importante. Mas apesar de tudo, fiquei contente com meu trabalho lá. Foi um ano com um carro competitivo, marquei pontos. Deu para eu mostrar meu potencial.
A decisão da Williams em não seguir com você e colocar o Valtteri Bottas de titular foi tomado ao fim do ano. Quando você percebeu que não ficaria na Fórmula-1?
Sempre soube que tinha possibilidade de não ficar, sabia que o Bottas estava na cara do gol. O objetivo era tentar não deixar isso (a minha saída) acontecer. Não consegui fazer o que precisava com as condições que tive na temporada, e ele acabou entrando. A briga foi durante todo o ano, não foi só no fim. Foi um assunto recorrente. Eu sempre fiquei com uma pulguinha atrás da orelha.
Como era seu relacionamento com o Pastor Maldonado, seu companheiro na Williams?
Eu tinha um relacionamento bom com o Pastor. Ele sempre foi tranquilo, sempre trocávamos ideia de coisas que aconteciam na pista. Nunca tivemos nenhum tipo de problema um com o outro.
Mesmo fora da Fórmula-1 você segue assistindo às corridas? Acompanha o noticiário ou prefere esquecer o que rola na categoria?
Eu assisto a todas as corridas de Fórmula-1 que posso. Tenho muitas boas memórias do carro de Fórmula-1. Foi o carro mais legal que tive a chance de pilotar. Adoraria estar lá, mas tenho de pensar no futuro.
No mês passado, a "Folha de S. Paulo" noticiou que você teve propostas da Ganassi para correr na IndyCar. Como foram essas conversas? Houve negociação?
Conversamos antes de começar o campeonato deste ano da Indy. Mas, infelizmente, as coisas foram um pouco tardias e acabamos não acertando. Foi interessante, foi um contato que não havia tido antes.
Pelo que dizia a mesma reportagem, você não correria em circuitos ovais. Por que isso? Não foi cogitada nem a possibilidade de correr as 500 Milhas de Indianápolis?
Com certeza não correria em ovais. Minha família não tem afinidade com este tipo de pista e eu não iria impor este tipo de situação. Não tenho intenção de correr em ovais. Felizmente, no campeonato há muitas pistas mistas para correr.
O fato de não correr em ovais atrapalhou ou pode atrapalhar em futuras negociações na Indy?
Eu acho que não. Pelo que conversamos, não haveria problemas.
Apesar de sua família não querer, seria um desafio interessante para você correr em ovais?
Não tenho nenhuma afinidade por ovais, pois nunca corri em ovais. Não posso dizer o que acho ou deixo de achar. Mas considerando a história em casa, não vale colocar a minha família neste tipo de situação.
Uma categoria que tem se falado cada vez mais é a Stock Car, que conta com vários ex-pilotos da Fórmula-1. Você já recebeu convites para correr nela? É também uma outra possibilidade para o futuro?
Com certeza é uma opção que tenho pensado. É uma categoria que está muito bem no Brasil. Com certeza, a Stock é opção para o futuro.
Como você vê o atual momento do automobilismo brasileiro? Temos apenas um piloto na Fórmula-1 (Felipe Massa), dois com vaga fixa na Indy (Tony Kanaan e Helio Castroneves). Esta ficando cada vez mais complicado para um piloto do país conseguir se destacar?
É algo natural, o automobilismo está super caro. No Brasil, sempre tivemos apoio de patrocinadores, que é algo muito importante. Mas primeiro precisamos fazer os pilotos. E quando os pilotos surgirem, precisarão do apoio, pois é duro vencer os desafios sem ter dinheiro.