Aprender com bons exemplos é sempre uma boa estratégia. Inspire-se no texto publicado nesta página e inscreva-se até 10 de julho no redAção ZH, concurso cultural promovido por Zero Hora e Grupo Unificado. Para ajudar no aprendizado, a professora Patrícia Zanella, do Unificado, faz uma análise de um dos cinco textos premiados na disputa do ano passado, escrito por Henrique Santos de Souza.
A Amélia que ainda está por vir
Autor: Henrique Santos de Souza
A figura da mulher teve diversas formas e significados ao longo da história. Entretanto, tanto as fortes mães alemãs da era nazista quanto as frágeis damas da "Belle Époque" serviram para suprir uma necessidade que não lhes pertencia. A mulher de hoje passa por um processo de transformação de valores no qual decide o que deseja representar, de acordo com suas próprias necessidades.
O papel feminino foi, por um longo período de tempo, determinado pelas necessidades da sociedade em que vivia a mulher. O regime de Hitler precisava de donas de casa capazes de manter viva a unidade da família enquanto os maridos lutavam na guerra, assim como a sociedade francesa precisava de mulheres que soubessem refletir em sua fragilidade e firmeza, toda a cultura e elegância da França, desviando a atenção do governo corrupto da época. Sempre existiram, porém, mulheres que não se submetiam a esses moldes. Essas aumentaram em número e espalharam suas ideias de liberdade individual e igualdade. Hoje, cada mãe e cada filha têm a oportunidade de escolher o que quer representar e que papel quer desempenhar em seu contexto. Resta, contudo, que não apenas haja a oportunidade de escolha, mas que se saiba que ela existe.
A Amélia que representa o estado de mudança em que a sociedade feminina se encontra é da música "Desconstruindo Amélia", de Pitty. Os versos "E eis que de repente ela resolve então mudar" e "disfarça e segue em frente" mostram, respectivamente, o entendimento repentino de sua condição seguida de revolta e a hesitação em expor totalmente essa nova compreensão. Outras mulheres, porém, só terão essa compreensão de Amélia se ela abandonar a hesitação e divulgar suas ideias para que o maior número possível de pessoas também possa se transformar.
Vencido o tempo de submissão, o momento agora é de mudança e mobilização. Para que cada representante feminina decida o que quer representar, as convicções das mulheres que lutaram pelos seus direitos em tempo de repressão devem ser transmitidas intensamente. Somente assim, a figura feminina se desvinculará da imagem de Pitty ou de Mário Lago, mas se vinculará com à de outra Amélia, personagem de uma canção que ainda será escrita.
Comentários da professora Patrícia Zanella
Introdução
A redação do Henrique foi uma das vencedoras porque apresenta, entre tantas ótimas características, uma estrutura dissertativa clara e direta. Na introdução, ele faz uma contextualização que situa o leitor com a representatividade feminina em duas épocas distintas. Esse é o recurso que o autor utiliza para definir, ao leitor, o seu ponto de vista: a mulher de hoje ainda passa por transformações que ainda definirão seu verdadeiro papel.
Desenvolvimento
A partir daí, os desenvolvimentos abordam exatamente essa ideia: o primeiro retoma a contextualização histórica, mostrando que a mulher era obrigada a vivenciar papéis pré-definidos pela sociedade - no regime de Hitler e na "Belle Époque". Sua argumentação se baseia no fato de hoje, felizmente, graças a essas figuras femininas que lutaram em outras épocas, as mulheres podem escolher a função que querem exercer na sociedade. Dessa forma, no segundo desenvolvimento, ocorre uma excelente ligação com a proposta, relacionando a figura da mulher com os versos de uma das canções apresentadas no tema. Para ele, mais importante que poder definir sozinha sua vida, a "Amélia" atual precisa saber que tem essa possibilidade, ou seja, é preciso que todas as mulheres saibam que têm o direito de escolher, e não de ser aquilo que a sociedade, ou quem quer que seja, queira.
Conclusão
Ao final, o autor determina que nem com a "Amélia" original, a do Mário Lago, nem com a "Amélia" desconstruída, a da Pitty, a mulher deve se relacionar. A verdade é que, segundo ele, a figura feminina é uma Amélia "de uma canção que ainda está por vir". Esse texto, portanto, foi vencedor do concurso porque o candidato foi capaz de apresentar o seu ponto de vista, utilizando uma argumentação que mostra conhecimento de outras áreas, relacionando-o ao tema com propriedade. Domínio de estrutura dissertativa, qualidade do conteúdo e clareza são as principais características dessa redação.
Como participar
As inscrições para o redAção ZH estão abertas até 10 de julho. Navegue pelos links abaixo para saber mais sobre o concurso.
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