- 35 países tiveram variação negativa na produção científica em 2023 em comparação ao ano anterior
- No Brasil, o decréscimo foi de 7,2% na publicação de artigos científicos em 2023 em comparação a 2022
- Essa é a segunda queda consecutiva na produção científica nacional, que teve perda inédita em 2022 em relação ao ano anterior
Um total de 35 países tiveram variação negativa na produção científica em 2023 em relação ao ano anterior – incluindo o Brasil. A produção científica nacional teve um decréscimo de 7,2% em 2023 em comparação a 2022. É a segunda queda consecutiva.
Com isso, a produção de ciência do Brasil de 2023 fica bem próxima ao ano de 2019, ou seja, um período pré-pandemia. Até 2022, o país vinha mantendo um ritmo de crescimento anual da sua produção de artigos desde que os dados começaram a ser tabulados, em 1996.
As informações inéditas são do relatório da Bori-Elsevier “2023: ano de queda na produção científica de 35 países, inclusive o Brasil” lançado nesta terça-feira (30). Os dados são da base Scopus/Elsevier e, para os cálculos, foi usada a ferramenta analítica SciVal/Elsevier. O relatório analisou todos os países que publicaram mais de 10 mil artigos científicos em 2022 – em um total de 53 países.
O declínio no ritmo da produção científica brasileira é observado pelo segundo ano consecutivo. Documento anterior da Bori-Elsevier, lançado em julho do ano passado, já havia mostrado uma queda inédita na sua produção científica brasileira em 2022 em relação ao ano anterior. Dados atualizados agora apontam que, de 2021 para 2022, houve no Brasil uma queda de 8,5% na produção científica brasileira.
Os novos dados vêm à tona durante a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5ª CNCTI), que acontece em Brasília de 30 de julho a 1º de agosto com o objetivo de planejar a política nacional na área para os próximos anos. É o principal evento de política científica do país.
— Sabemos que o volume de publicação de artigos de um país reflete, entre outros fatores, o volume de investimento feito em pesquisa científica alguns anos atrás. Isto é, são efeitos de médio, não curto prazo — diz Dante Cid, vice-presidente de Relações Institucionais para a América Latina da Elsevier.
— Portanto, nossa expectativa é de que mediante o melhor nível de investimentos feito estes últimos anos, a produção nacional retome o crescimento em breve — completa.
Dentre os países que, como o Brasil, perderam ritmo de produção científica estão Estados Unidos, Alemanha e Rússia. Em sentido contrário, Emirados Árabes, Iraque e Indonésia tiveram crescimento superior a 15% na produção de 2022 para 2023.
Artigos científicos trazem resultados de pesquisas científicas em desenvolvimento. Perder ritmo de produção científica significa produzir menos conhecimento e menos soluções para questões como tratamento de doenças, melhora na agropecuária ou enfrentamento de questões sociais como a violência urbana.
Produção científica brasileira
No caso do Brasil, Ciências Médicas foi a área de conhecimento que teve maior queda no número de artigos com autores: 10%, de 2022 para 2023.
O relatório mostra também que, das 31 instituições de pesquisa avaliadas (com mais de mil artigos científicos publicados em 2022), apenas a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) teve variação positiva na produção, enquanto só a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) manteve a mesma média do ano anterior.
As outras 29 instituições tiveram redução, incluindo as universidades gaúchas avaliadas, que foram a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e a Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
— Acompanhar os dados sobre a produção científica de um país é essencial para justificar os investimentos em ciência. É necessário compreender o processo de desaceleração da produção de ciência no Brasil para encontrar maneiras de retomar o crescimento — diz Estevão Gamba, cientista de dados da Bori.
Este é o quinto relatório da parceria entre a editora científica Elsevier e a Bori, que analisa, periodicamente, a ciência brasileira. A ideia é ter um retrato da produção de ciência nacional e munir o debate público com informações relevantes para políticas científicas e para tomadas de decisão.