O contato dos alunos com a natureza não deve ser um projeto, ou uma aula. Deve estar presente no dia a dia, nas relações e nas brincadeiras. O Transtorno de Déficit de Natureza, termo criado pelo escritor Richard Louv, em seu livro “A primeira criança da natureza”, fala sobre os sintomas causados pelo distanciamento com o meio ambiente, como a presença de uma ansiedade cada vez mais latente entre os estudantes. O autor defende a necessidade de possibilitar às crianças experiências que resgatem o contato com a natureza, desestimulada pelo rápido crescimento urbano, a falta de segurança pública, entre outras razões. Essa aproximação pode ser feita em diferentes níveis e intensidades, defendem os especialistas.
— Crianças que têm esse contato regular com a natureza podem ser mais criativas, ter mais iniciativa para instigar suas curiosidades, resolver conflitos e problemas. São mais autoconfiantes, interagindo e brincando com um repertório muito mais amplo — defende a pedagoga Gisele Soares, especialista em Docência na Educação Infantil e doutoranda em Educação.
Rodrigo Cavasini, professor do curso de Educação Física da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), ressalta que essa aproximação se traduz em potentes ferramentas educacionais e identifica quatro grandes grupos de benefícios: pessoais, sociais, ambientais e econômicos. Os aspectos pessoais envolvem a melhoria da saúde, tanto física, quanto mental, reforçando aspectos ligados ao desenvolvimento de competências, tais como trabalho em grupo, liderança, resolução de problemas, entre outros.
Doutor em Ciências do Movimento Humano, Cavasini também aponta um aumento da coesão social, da empatia e da inclusão a partir da oferta desse contato. Na esfera ambiental, se possibilita a criação de uma ética inclusiva, que leva à noção de pertencimento ao ambiente ao qual se encontra.
— Ao ter um contato com a natureza, passamos a ter uma noção diferenciada sobre preservar, em especial agora quando estamos enfrentando cada vez mais questões relacionadas às mudanças climáticas — aponta.
Essa visão é compartilhada pela professora da Faculdade de Educação (Faced) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Eunice Aita Kindel:
— Não dá para defender a Amazônia se não há interesse pela biodiversidade presente em sua própria cidade. Cada ecossistema é único e vital. Porque a gente só cuida daquilo que conhece, que ama e que se sente conectado de alguma forma.
Mas incorporar o contato com a natureza às atividades escolares pode ser muito mais simples do que parece. Pode-se trabalhar com uma horta para o plantio de hortaliças, árvores frutíferas, mas também com outros espaços do brincar.
— Subir em árvores, utilizar galhos, sementes, pedras, folhas e flores nas brincadeiras são opções — defende a pedagoga Gisele.