As famílias em busca de uma escola para seus filhos costumam observar o currículo ofertado dando especial atenção a disciplinas como Matemática, Português e, mais recentemente, robótica. Além de difundir conhecimentos da cultura corporal, a Educação Física faz parte do desenvolvimento dos alunos, integrando dimensões intelectual, física, social e cultural. E por isso, deve ser considerada na hora da escolha da instituição.
Para especialistas na área, ainda é preciso valorizá-la como importante recurso à saúde do cérebro, pois as atividades desenvolvidas na escola estimulam funções cognitivas, como a atenção, a memória e o raciocínio lógico, o que melhora o desempenho escolar. Docente na Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília (UnB), Jaciara Oliveira Leite destaca que, para as crianças, brincar e movimentar-se são dimensões existenciais.
— (O movimento) é onde ela se realiza, é onde a criança compreende e interage com o mundo. Então, é muito mais profundo do que o conceito de atividade física. Dito isso, a Educação Física escolar cumpre um papel muito importante, de contribuir para que elas tenham o seu repertório de movimentos, de brincadeiras ampliados — diz a professora.
Jaciara esclarece que a intenção da Educação Física escolar é trazer diferentes práticas corporais, como danças, ginásticas, lutas, jogos e brincadeiras, aventura na natureza e aventuras urbanas, além do esporte. Assim, é importante que as escolas tenham infraestrutura e materiais adequados, além de um espaço mínimo para que esse conhecimento possa ser acessado.
Na vida do professor Thúlius Kroenig da Rosa, 39 anos, a paixão pela prática esportiva nasceu na infância e foi sedimentada na escola. Na juventude, chegou a atuar como atleta do basquete e, por fim, formou-se em Educação Física. Hoje, com dois filhos em idade escolar – Murilo, sete anos, e Pedro, cinco – ele reconhece de forma mais profunda a importância da disciplina na formação do indivíduo. Por isso, na hora de matricular os meninos na escola, escolheu a instituição na qual ele mesmo estudou.
— Estudei no Anchieta e trabalho no colégio. São quatro quadras, três ginásios poliesportivos, com campo de futebol, quadra de vôlei, quadra de beach tennis, tudo à disposição das crianças. Nas aulas não se trabalha só a questão do esporte, mas todas as questões socioemocionais que envolvem a atividade física — comenta o professor.
Na avaliação de Thúlius, a prática esportiva também desenvolve nos alunos o autoconhecimento, o trabalho em equipe e os princípios éticos.
— Nos esportes coletivos, em que as crianças vão atuar em grupo, elas têm que respeitar o próprio corpo, os seus limites físicos e respeitar o colega. No caso do basquete, onde não há empate, os alunos aprendem que perder faz parte do jogo. E a gente traz essa relação para fora da quadra — exemplifica.
Currículo
Os educadores físicos acrescentam que identificação e formação de atletas não deve ser uma preocupação da escola, ainda que muitas vezes isso seja uma consequência das atividades desenvolvidas com a turma.
— Conforme as normativas (do Ministério da Educação), a ideia é que todas as crianças tenham a possibilidade de acessar os conhecimentos. A ideia de trabalhar a aptidão física, que marcou muito a Educação Física escolar, parte de uma dimensão de seleção. E quando eu seleciono, automaticamente, eu excluo. A escola é um espaço de socialização de conhecimentos para todos — enfatiza Jaciara.
Thúlius acredita que no momento de escolher uma escola, as famílias devem levar em consideração critérios mais amplos do que a existência de um ginásio de esportes na instituição.
— Penso que é preciso haver um currículo que seja agradável à família, e uma estrutura de pátio grande, com área verde para que as crianças possam ter contato com a natureza. Se tiver árvores frutíferas, possibilidade de interação com a terra, melhor ainda. Valorizo o espaço porque o próprio crescimento ósseo tem a ver com o impacto. Quanto mais a criança pula, se movimenta, mais se desenvolve fisicamente — diz.
O professor conta que deve ser levado em consideração a oferta de atividades adequadas para cada faixa etária.
— Meu filho Pedro, de cinco anos, participa do Espaço Criança Anchietana, que é um lugar para iniciação esportiva, com esporte, brincadeiras lúdicas, arte, numa estrutura voltada para ela, de acordo com a faixa etária. Conforme eles vão crescendo, vão interagindo com alunos mais velhos. O Murilo, de sete, faz judô e basquete, sendo que o basquete ele pratica com uma turma de alunos um ano mais velhos. E eu sinto que é importante esse relacionamento, e eles adoram. Fico feliz de poder proporcionar essa experiência para eles — conta.