Um grupo de alunos dos programas de Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) protestou na frente da reitoria da universidade, em Porto Alegre, na tarde desta quinta-feira (8). O motivo da manifestação é a suspensão dos pagamentos de bolsas de estudo da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), devido aos cortes no orçamento realizados pelo governo federal. O congelamento nos recursos prejudica estudantes de instituições federais de ensino superior e de outras universidades.
Cerca de 100 manifestantes participaram do ato. Alguns carregavam cartazes com dizeres como "valorizem o nosso trabalho" e "pague minha bolsa já". Por volta das 17h15min, o grupo caminhou até a rua Sarmento Leite e bloqueou a via enquanto o semáforo estava no vermelho.
Conforme o Diretor de Políticas Institucionais da Associação Nacional de Pós-graduandos (ANPG), Eduardo Secchi, a maior parte dos professores da UFRGS liberou os alunos para participarem do ato, mesmo que as aulas não tenham sido canceladas oficialmente:
— Muitos de nós trabalhamos além de 40 horas semanais. Nós fomos surpreendidos essa semana com o não pagamento do salário. Até porque o pós-graduado não tem direito trabalhista e sobrevive basicamente com a sua bolsa — afirma Secchi.
A Pró-Reitoria de Pós-graduação da UFRGS informou que 2,5 mil bolsistas Capes deixaram de receber seus recursos financeiros, por meio do pagamento de suas bolsas de pesquisa até esta quinta-feira. A universidade informou que se "solidariza com esta comunidade" (confira a nota na íntegra abaixo). Além disso, a instituição afirma estar "avaliando as possibilidades viáveis de serem implementadas no curtíssimo prazo, para minimizar os prejuízos ocasionados pelo não pagamento".
Em todo o Brasil, cerca de 200 mil bolsistas estão sendo afetados pela decisão do Ministério da Economia, que suspendeu os pagamentos por meio de um decreto. A expectativa é que a situação seja revertida. O ministro da Educação, Victor Godoy, anunciou na tarde desta quinta-feira (8) que obteve, do Ministério da Economia, liberação de R$ 460 milhões.
Antes desta manifestação, a Capes informou que obteve R$ 50 milhões do Ministério da Educação (MEC) para pagamento de 100 mil bolsas dos Programas de Formação de Professores da Educação Básica referentes a dezembro.
Confira a nota da UFRGS na íntegra:
"Manifesto de solidariedade da PROPG/UFRGS com a comunidade da pós-graduação
A Pró-Reitoria de Pós-graduação da UFRGS, frente à gravidade da situação enfrentada pelos seus 2,5 mil bolsistas/Capes, que deixaram de receber seus recursos financeiros, por meio do pagamento de suas bolsas de pesquisa até esta data, vem solidarizar-se com esta comunidade.
A Pós-graduação, com seus 110 Programas, envolve aproximadamente 13 mil alunos, e tem contribuído significativamente com os avanços científicos e tecnológicos, nas mais diversas áreas de conhecimento, que se refletem em entregas de relevante impacto à sociedade brasileira. Além disso, a Pós-graduação é a instância onde essas pesquisas são desenvolvidas, coordenadas por pesquisadores de referência internacional, mas com suas equipes constituídas por todos esses estudantes que pensam de forma crítica e executam e concretizam este manancial de ideias nos seus projetos de mestrado ou doutorado. Neste momento, esta força intelectual e executiva, nos mais de 500 laboratórios da UFRGS, está sem receber suas bolsas, cuja responsabilidade exclusiva é da Capes, vale dizer, modestos valores, pois a defasagem no montante pago aos futuros mestres e doutores, chega a ser humilhante.
É motivo de orgulho para a UFRGS liderar a posição das Universidades Federais brasileiras e estar muito bem ranqueada internacionalmente. Resultado este, que em todas as comparações, demonstra que a pós-graduação, onde a pesquisa é majoritariamente realizada, constitui o indicador de destaque frente às outras instituições.
Em termos pragmáticos, qualquer “trabalhador”, independente de sua função, findo o mês, têm seus rendimentos recebidos. A partir destes rendimentos, organizam suas vidas e de suas famílias. Assim, os prejuízos decorrentes do não recebimento afetam diretamente diversas dimensões dessa comunidade e é preocupação desta Universidade. Além disto, em situação semelhante, embora de menor impacto, nossos professores que estão no exterior, em seus programas de aperfeiçoamento, e nossos Pesquisadores de Pós-doutorado (PNPD), também estão expostos.
Assim, a UFRGS está atuando de forma institucional, pelas entidades representativas (ANDIFES, CRUB, FORPROP, COPROPI), e internamente, avaliando as possibilidades viáveis de serem implementadas no curtíssimo prazo, para minimizar os prejuízos ocasionados pelo não pagamento, até este momento, das bolsas de estudos pela Capes."