A Mostra Sesi Com@Ciência foi encerrada nesta quinta-feira (6) com a realização de um torneio de robótica. Nele, oito equipes de estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA) de escolas do Serviço Social da Indústria (Sesi) participaram de “regatas” com pequenos barcos feitos de materiais recicláveis que precisavam dar a volta ao “mundo”, representado em uma piscina.
As equipes foram selecionadas entre os cerca de 100 alunos de todo o Rio Grande do Sul que toparam o desafio. A etapa ocorrida nesta quinta-feira foi a regata final. Os alunos trabalhavam na construção dos barcos desde março. Como o tema do torneio era “500 anos da primeira circum-navegação”, as embarcações deveriam ter formato de caravelas.
Para participar, os estudantes precisavam concluir três desafios: construir um barco que flutuasse, aprimorá-lo e fazer a programação de uma placa gogo board — dispositivo com código aberto muito utilizado em atividades de robótica educacional — que permitisse que a embarcação velejasse a favor e contra o vento.
Carlos Carvalho, aluno do Polo EJA de Erechim, fez parte da equipe “Titanic do SESI”. Inicialmente, o grupo pensou em construir um barco de isopor, mas descobriu que o material não é reciclável. Aí, decidiram usar um tubo de amaciante, cortando-o e revestindo-o com palitos de picolé. Por fim, colocaram o mastro do barco com chumbo. Concluída a embarcação, foi instalada a placa gogo board.
Carlos adorou a experiência:
— Eu concluo o Ensino Médio no dia 21 de dezembro e já estou sentido porque não vou poder participar novamente no ano que vem.
Operador de empilhadeiras, o estudante acredita que o conhecimento em robótica pode ajudá-lo caso queira trabalhar em uma empresa automatizada.
Claudence de Fátima Agostin, aluna do Polo EJA de Nova Prata, fez questão de ir até Porto Alegre participar do torneio, para encerrar o trabalho realizado desde março com chave de ouro.
— Vale a pena, né? Olha quanta coisa linda tem aqui. Vale a pena pelo conhecimento que a gente adquiriu, e por termos um grupo super bom de trabalhar, com um ajudando o outro. Eu adorei — resume a estudante.
O empenho deu certo: a equipe de Claudence, “Desbravadores Pratenses”, foi campeã da regata. O barco do grupo foi feito com tecidos, cola e palitos de dente. Em cima, uma grande vela branca com uma cruz remetia ao tempo das caravelas.
Em segundo lugar na regata ficou outra equipe de Nova Prata – a “Expedição Santelmo”. O aluno Cristian Zucconelli diz que projetos como este, somados à dedicação dos professores, o motivam a seguir estudando.
— Eu trabalho em uma empresa de borrachas em Nova Prata e estou procurando oportunidades lá dentro. Isso motiva a gente a querer crescer na vida, e aprendizado nunca é demais — comenta Cristian, que considera o conhecimento em robótica cada vez mais necessário no mercado de trabalho.
O estudante quis participar do torneio para desafiar a si mesmo. Hoje, considera que adquiriu conhecimentos para toda a vida, inclusive em como lidar com opiniões diferentes e problemas que surgem no meio do caminho. O barco da equipe é feito com caixa de leite, tecido e madeira, isolados com tinta e silicone.
Robótica para trazer alunos de volta
A maior parte das aulas de EJA do Sesi é remota, mas, na parte presencial, uma das atividades é o seminário de robótica. Conforme Fernanda Arusievicz, coordenadora de tecnologias do Sesi-RS, essa é uma área que, mesmo durante a pandemia, sempre interessou muito os alunos dessa modalidade. Por isso, resolveu-se apostar na robótica como uma forma de trazer de volta à presencialidade aqueles estudantes.
— A gente viu que a robótica era um dos fatores que motivavam esses alunos a participar. Por isso, criamos o torneio de robótica do EJA. A gente lançou o edital e tivemos mais de cem alunos participantes — ressalta Fernanda.
André Raabe, que concedeu palestra durante o evento sobre o uso da tecnologia da inovação e da criatividade a favor da educação, também participou da formação dos professores para que o torneio tomasse forma. De acordo com o docente, o processo foi relevante.
— Foi um processo muito rico, porque a gente foi aprendendo o quão diversificada é a vivência dos alunos de EJA, as diferenças de idade, de cultura, de realidades, e a gente pôde elaborar uma proposta de concurso que fosse bastante inclusiva, no sentido de representar muitos tipos diferentes de talentos — observa o professor.
Para valorizar essa diversidade, além da premiação para a equipe cujo barco fizesse o trajeto no tempo mais curto, também foram premiadas as categorias de apresentação, cultura, design e revelação, já que tudo isso fez parte do projeto. No entendimento de Raabe, para além do lado tecnológico, a robótica mostra aos alunos que eles conseguem aprender o que quiserem na vida, havendo, por isso, um lado social nela.