Negócios de impacto socioambiental têm como atividade principal beneficiar ou resolver um problema social e/ou ambiental, mas ainda assim geram lucro — o que também os diferencia das Organizações não Governamentais (ONGs). Para ser classificada desta forma, o modelo de negócio da empresa deve estar baseado nessa resolução, mas isso não significa que deve ter um foco maior no impacto gerado. GZH foi conferir alguns exemplos:
Em casas de cômodos pequenos, geralmente sem reboco nas paredes, forro e até mesmo piso, a arquiteta Karol Rosa de Almeida vê seu maior sonho se realizando pouco a pouco. Aos 27 anos, a empreendedora tem como objetivo levar serviços arquitetônicos às periferias para proporcionar moradia digna àqueles que, assim como ela, viveram por muitos anos sob estruturas humildes no bairro Restinga, na zona sul de Porto Alegre.
Formada em 2020 por meio de financiamento estudantil, Karol se viu sem emprego e com uma grande vontade de resolver os problemas habitacionais do seu entorno. A arquiteta conta que entrou na faculdade com o sonho de reformar a casa da mãe, onde cresceu.
— Na faculdade, percebi que o curso era totalmente elitizado. Não via minha realidade, meu bairro ou minha casa lá. Então, quando me formei, passei a pesquisar sobre os problemas habitacionais do Brasil e descobri a arquitetura popular. Vi que eu não estava sozinha, que tinha mais gente fazendo e pensei: “Esse é o meu lugar. Quero oferecer os meus serviços para o pessoal que me conhece da Restinga” — relembra.
Assim, pouco antes do início da pandemia, nasceu a Kopa Coletiva Arquitetura Popular, que oferecia projetos arquitetônicos acessíveis aos moradores da região. Na época, Karol não conseguia disponibilizar a obra completa por falta de recursos, mas indicava pedreiros e a loja de materiais de construção do bairro. Hoje, com o suporte de parcerias, pode oferecer todo o serviço, com projeto, gerenciamento, materiais e mão de obra — preferencialmente da Restinga.
Além do preço mais acessível do que uma arquitetura tradicional, as reformas feitas pela Kopa podem ser financiadas, parceladas ou subsidiadas por investidores. Karol explica que todo o modelo de negócio é diferente porque, além de ter como missão colaborar com a redução do déficit habitacional qualitativo, o empreendimento visa democratizar o acesso às informações de qualidade sobre arquitetura. Ou seja, também é acessível na linguagem.
Empresas como a Kopa representam os chamados negócios de impacto socioambiental, que são destinados a resolver um problema social, beneficiando um bairro ou grupo de pessoas, e/ou ambiental, mas também geram lucro com os produtos ou serviços oferecidos. Com os dois objetivos equilibrados, esse modelo se torna uma tendência cada vez mais forte e é encontrado em todas as regiões do Brasil.
O que é jornalismo de soluções?
É uma prática jornalística que abre espaço para o debate de saídas para problemas relevantes, com diferentes visões e aprofundamento dos temas. A ideia é, mais do que apresentar o assunto, focar na resolução das questões, visando ao desenvolvimento da sociedade.
— Tem preconceito dos próprios colegas: “a Kopa cobra mais barato, então é óbvio que vão fazer projetos com ela”, mas não é assim. Todo o modelo do negócio é pensado para o público da periferia. São outros clientes, outro território, outra realidade e outros problemas habitacionais. Uma pessoa que tem uma sala de 40 m² e quer colocar um lustre de R$ 15 mil não vai me procurar, mas quem precisa trocar o piso porque está rachado e impermeabilizar as paredes que estão mofadas, vai. Então, é natural que o serviço seja diferente e, os preços, mais acessíveis — destaca a arquiteta.
Uma pessoa que tem uma sala de 40 m² e quer colocar um lustre de R$ 15 mil não vai me procurar, mas quem precisa trocar o piso porque está rachado e impermeabilizar as paredes que estão mofadas, vai.
KAROL ROSA DE ALMEIDA
Fundadora da Kopa Coletiva Arquitetura Popular
Atualmente, a Kopa está realizando nove reformas subsidiadas, sendo cinco na Restinga e quatro na Lomba do Pinheiro. Todos os dias, a empreendedora e Kamila de Oliveira Arruee, nova colaboradora do negócio, se dividem para registrar o andamento das obras e passar novas orientações aos pedreiros. Do valor destinado pelos investidores, sai o lucro da empresa, que hoje é a única fonte de renda de Karol.
Um dos beneficiados na Restinga foi Carlos Fernando Padilha Figueiró, 68 anos, que ganhou a reforma do único quarto da casa de três cômodos onde mora com a neta. O ambiente escolhido não tinha piso, nem reboco, então a umidade era um problema constante. A Kopa trocou as telhas e o forro, colocou piso, e rebocou e pintou as paredes. De acordo com Seu Carlos, como é chamado, a obra foi uma surpresa muito boa, pois sua casa é antiga e, em função de problemas de saúde, não tinha condições de reformar.
— Um sonho que eu esperava eu fazer, mas não sei quando. Agora, está realizado. Foi uma grande coisa para mim e eu estou muito agradecido. Ficou bem feitinho, tudo bem ajeitadinho, muito bonito. Estou feliz com o resultado — afirma.