Após dois anos e quatro meses paralisada, a obra de restauro do Instituto de Educação General Flores da Cunha (IE) foi retomada no final de janeiro com um misto de alegria e preocupação por parte da comunidade escolar.
Em coletiva de imprensa realizada nesta quarta-feira (9), os integrantes do Movimento em Defesa do IE, composto por pessoas da direção, do conselho escolar, alunos e ex-alunos da instituição, por um lado celebraram a volta dos trabalhos e a perspectiva de retorno ao prédio histórico em 15 meses. Por outro, porém, o grupo reclama da falta de informações sobre o projeto anunciado pelo governo do Estado de instalação nas dependências da escola de um museu e um centro de formação de profissionais da educação.
A proposta do governo, anunciada no final de outubro de 2021, é que o IE sedie um Centro de Formação dos Profissionais da Educação, que visa preparar “professores e estudantes para os novos desafios do mundo e estimular habilidades para responder às exigências de inovação e complexidade do século 21”, segundo nota da Secretaria Estadual de Educação (Seduc), e o Museu Escola do Amanhã (nome provisório), desenvolvido em parceria com o gestor do Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro.
A Seduc considera que os projetos “estão alinhados com a missão histórica da instituição na formação de professores e profissionais da Educação, além do atendimento aos estudantes”. A ideia é que cada um dos empreendimentos ocupe cerca de 2 mil metros quadrados, deixando, ainda, 8 mil metros quadrados de área total para o funcionamento da instituição.
Maria da Graça Morales, da Comissão de Restauro do IE, destaca que o projeto aprovado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae) – como o prédio da escola é tombado, qualquer reforma precisa ser apreciada pelo órgão – prevê exclusivamente o recebimento dos alunos já atendidos pela instituição.
— Em todos esses anos, a escola sempre foi projetada para fazer aquilo que ela já faz, com melhorias e tecnologias que tragam benefícios para aqueles estudantes. O número de alunos foi reduzido obrigatoriamente devido à redução do espaço, mas essa comunidade tem uma capacidade muito maior — defende Maria da Graça.
Hoje, os 1.086 alunos matriculados no IE têm aulas em quatro estruturas temporárias espalhadas pela região central da cidade. Antes do início das obras, em 2016, o prédio de 12 mil metros quadrados abrigava em torno de 3 mil estudantes matriculados.
Integrantes da comunidade escolar, como pais e alunos da instituição, criticam o fato de não fazerem parte das decisões do governo sobre esses novos empreendimentos. A forma como funcionarão o museu e o centro de formação estão sendo debatidas em um grupo de trabalho composto por secretarias estaduais, pela diretora da escola, Alessandra Lemes da Rosa, e por uma ex-aluna e uma ex-professora do IE.
— A escola está contemplada neste grupo, mas a comunidade escolar não, porque foram convidados uma ex-aluna e uma ex-professora que frequentaram o IE há bastante tempo. Enquanto escola, jamais vamos nos opor à criação de novos espaços de cultura e educação, mas ainda não sabemos como isso vai acontecer e nem onde exatamente ficarão essas atividades dentro do prédio — relata Alessandra.
A preocupação do grupo é que a redução de 4 mil metros quadrados no espaço da escola gere um encolhimento no número de salas de aula e laboratórios disponíveis na instituição, o que impossibilitaria a recuperação de ao menos parte das 2 mil matrículas perdidas nos últimos cinco anos.
Andamento das obras
As obras foram retomadas no final de janeiro. Até o momento, foram executados 18,86% dos trabalhos, conforme a Seduc. Na etapa inicial do retorno, que prevê o restauro completo do prédio, os reparos ficarão concentrados na parte interior do prédio, com a realização de reparos no piso, em paredes, infraestrutura elétrica, hidráulica e limpeza dos espaços.
O aporte em recursos do Estado é de R$ 23,4 milhões para a conclusão da restauração do prédio. O prazo de finalização dos trabalhos é de 15 meses.
Relembre o vaivém das obras no Instituto de Educação General Flores da Cunha (IE)
2012
- É feito o empréstimo do Banco Mundial (Bird), no valor de R$ 22,5 milhões, para o restauro completo da escola. O valor foi solicitado no governo de Tarso Genro.
Janeiro de 2016
- A ordem de início dos trabalhos é assinada pelo Piratini
Julho de 2016
- O Instituto de Educação é fechado e os mais de 1,5 mil alunos são transferidos para outras escolas da Capital
Agosto de 2016
- A Portonovo Empreendimentos e Construções Ltda., empresa vencedora da licitação, inicia as obras. A previsão inicial era de que os trabalhos fossem concluídos entre julho e agosto de 2017
Agosto de 2017
- Governo rompe o contrato com a empresa por causa do atraso na reforma
Fevereiro de 2018
- Devido ao atraso na entrega das obras, a Secretaria Estadual de Educação perde os recursos do Bird. Desde então, o governo passou a usar dinheiro do Tesouro do Estado
Abril de 2018
- Governo do Estado lança novo edital de licitação das obras do Instituto de Educação
Outubro de 2018
- Empresa Concrejato Serviços Técnicos de Engenharia S/A é selecionada e começa as obras. A promessa era de conclusão dos trabalhos até o início de 2020
Setembro de 2019
- A Concrejato paralisa os trabalhos por falta de pagamento
Dezembro de 2019
- Governo promete o recomeço das obras a partir de janeiro de 2020. A mesma empresa voltaria ao canteiro para finalizar em seis meses a parte proposta do projeto
2020
- A Concrejato solicita um aditivo no contrato. Em 2020, o pedido começou a ser analisado, porém, o decreto de situação de calamidade pública no Rio Grande do Sul, em função da pandemia de coronavírus, restringiu as atividades
2021
- A Seduc informa que a retomada dos trabalhos de reforma estava prevista para julho e a conclusão da reforma ficou para dezembro de 2022. Depois, houve novo anúncio de retomada, previsto para outubro.
Janeiro de 2022
- Novo anúncio de retomada das obras, com assinatura do governador Eduardo Leite de uma ordem de serviço para reinício dos trabalhos. A previsão é de que a restauração fique pronta dentro de 15 meses.