O vaivém da reforma no prédio do Instituto de Educação General Flores da Cunha (IE), em Porto Alegre, pode estar chegando ao fim. Paralisadas desde 2019, as obras serão retomadas nesta semana, de acordo com anúncio do governo do Estado. A previsão é de que a restauração fique pronta dentro de 15 meses.
Na semana passada, o governador Eduardo Leite assinou, ao lado de representante da Concrejato, empresa responsável pelo projeto de restauro, uma ordem de serviço para reinício dos trabalhos. Entretanto, a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) não informou a data exata em que as obras vão recomeçar.
O aporte em recursos é de R$ 23,4 milhões provenientes do Estado. De acordo com a Seduc, a reforma pouco avançou em todos esses anos e as obras ainda estão em fase inicial. O valor servirá para a conclusão de toda a restauração, que envolve reparos no telhado e nas redes elétrica e hidráulica, entre outros investimentos.
O governo manteve o anúncio de que, com a reforma, as dependências do prédio localizado na Avenida Osvaldo Aranha, no Bom Fim, vão abrigar o Centro de Desenvolvimento dos Profissionais da Educação, o Centro Gaúcho de Educação Mediada por Tecnologias e o Museu Escola do Amanhã.
A nova promessa de dar andamento à restauração do prédio do IE, uma das instituições de ensino mais tradicionais do Rio Grande do Sul, ocorre após uma série de contratempos que remontam a 2016, ano em que as dependências foram fechadas para início das obras e os cerca de 1,6 mil alunos, realocados para outros espaços.
Os reveses mais recentes envolvem a Concrejato, que assumiu o projeto ainda em 2018 e interrompeu as obras em setembro de 2019 por falta de pagamento. De lá para cá, a empresa pediu novo aditivo no contrato - segundo a Seduc, foi dado um ajuste de R$ 477 mil no orçamento. Para piorar, a retomada da reforma também foi adiada em razão da paralisação geral das atividades durante a pandemia.
Esperança de se reunir
Embora ofereça o ensino regular, o Instituto de Educação General Flores da Cunha tem a fama de ser a mais antiga instituição formadora de professores ainda em atividade no Brasil. Mesmo afastada do prédio na Osvaldo Aranha, onde funciona desde 1935, segue oferecendo o Magistério, além de todas as séries, da Educação Infantil até o Ensino Médio.
Para que as atividades continuassem durante o restauro, professores e alunos foram realocados em outros espaços de Porto Alegre. A sede provisória fica na antiga Escola Roque Callage, que atende do 5° ano do Ensino Fundamento ao Ensino Médio. A Educação Infantil, o Curso Normal (Ensino Médio aliado ao Magistério), e o Aproveitamento de Estudos (para quem tem Ensino Médio, mas quer fazer a formação de professor), estão na antiga Escola Felipe de Oliveira, no Petrópolis.
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) e o Aproveitamento de Estudos no turno noturno funcionam nas dependências do Instituto Rio Branco, na Protásio Alves. A escola anexa Dinah Neri Pereira, que atende do 1° ao 4° ano do Ensino Fundamental, segue onde sempre esteve, na Av. José Bonifácio.
Com o novo anúncio de recomeço das obras, a esperança é de que a comunidade escolar possa se reencontrar em sua sede tradicional. Para a diretora Alessandra Lemes da Rosa, professora há 10 anos na instituição, a sensação é de que, dessa vez, o prédio vai ficar pronto.
— Houve muitas modificações, ajustes, uma nova empresa contratada. Com tudo isso, o tempo foi passando. Nossa esperança é de que, agora, vai — diz.
Novas pretensões
No entanto, não ficou claro para a direção como deve funcionar o Centro de Desenvolvimento dos Profissionais da Educação e o Centro Gaúcho de Educação Mediada por Tecnologias.
— São projetos que a escola, em si, desconhece como será. O que sabemos é que querem destinar parte do nosso prédio para execução desses centros e do museu. A escola jamais se opõe, porém, gostaríamos de saber como vai funcionar. Como será, como serão geridos... Tudo isso a gente não sabe — ressalta Alessandra.
Segundo a Seduc, o Centro de Desenvolvimento dos Profissionais da Educação vai "qualificar os profissionais da educação do Rio Grande do Sul". Já o Centro Gaúcho de Educação Mediada por Tecnologias vai "executar a prática de educação mediada por tecnologia". Ambos ficarão no prédio do IE, ocupando, juntos, em torno de dois mil metros quadrados. A escola ficará com a área de 12 mil metros quadrados.
No ano passado, quando anunciou a criação dos novos centros, o governo do Estado disse que a pretensão é transformar o IE na "escola das escolas". Durante a autorização para o reinício dos trabalhos, Leite informou que a intenção é fazer da instituição um complexo que seja referência na formação de docentes.
— Não pode ser apenas uma escola, mas sim um farol para toda a nossa rede de ensino — afirmou o governador.
Sobre o Museu da Escola do Amanhã, foi anunciada uma parceria com o Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG), responsável pelo Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro - são eles que vão elaborar o projeto, que deve ocupar outros dois mil metros quadrados da sede reformada.
Em nota, a Seduc informou que "o museu contará com espaços interativos e modernos, com o objetivo de estimular a qualificação e a descoberta. A proposta é de aproximar as pessoas das novas fronteiras do conhecimento", diz a pasta.
Relembre o vaivém das obras no Instituto de Educação General Flores da Cunha (IE)
2012
- É feito o empréstimo do Banco Mundial (Bird), no valor de R$ 22,5 milhões, para o restauro completo da escola. O valor foi solicitado no governo de Tarso Genro.
Janeiro de 2016
- A ordem de início dos trabalhos é assinada pelo Piratini
Julho de 2016
- O Instituto de Educação é fechado e os mais de 1,5 mil alunos são transferidos para outras escolas da Capital
Agosto de 2016
- A Portonovo Empreendimentos e Construções Ltda., empresa vencedora da licitação, inicia as obras. A previsão inicial era de que os trabalhos fossem concluídos entre julho e agosto de 2017
Agosto de 2017
- Governo rompe o contrato com a empresa por causa do atraso na reforma
Fevereiro de 2018
- Devido ao atraso na entrega das obras, a Secretaria Estadual de Educação perde os recursos do Bird. Desde então, o governo passou a usar dinheiro do Tesouro do Estado
Abril de 2018
- Governo do Estado lança novo edital de licitação das obras do Instituto de Educação
Outubro de 2018
- Empresa Concrejato Serviços Técnicos de Engenharia S/A é selecionada e começa as obras. A promessa era de conclusão dos trabalhos até o início de 2020
Setembro de 2019
- A Concrejato paralisa os trabalhos por falta de pagamento
Dezembro de 2019
- Governo promete o recomeço das obras a partir de janeiro de 2020. A mesma empresa voltaria ao canteiro para finalizar em seis meses a parte proposta do projeto
2020
- A Concrejato solicita um aditivo no contrato. Em 2020, o pedido começou a ser analisado, porém, o decreto de situação de calamidade pública no Rio Grande do Sul, em função da pandemia de coronavírus, restringiu as atividades
2021
- A Seduc informa que a retomada dos trabalhos de reforma estava prevista para julho e a conclusão da reforma ficou para dezembro de 2022. Depois, houve novo anúncio de retomada, previsto para outubro.
Janeiro de 2022
- Novo anúncio de retomada das obras, com assinatura do governador Eduardo Leite de uma ordem de serviço para reinício dos trabalhos. A previsão é de que a restauração fique pronta dentro de 15 meses.