Divulgado nas redes sociais pelo ministro da Educação, Milton Ribeiro, o tema da redação do Enem, cuja prova é realizada na tarde deste domingo (21), é "Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil".
São conceitos com os quais estudantes já estão familiarizados, segundo a avaliação de especialistas. Inclusive, são geralmente trabalhados na prova de Ciências Humanas. Mas, para o professor de Redação do curso pré-vestibular Método Medicina, Filipe Vuaden, o tema pode gerar uma insegurança por apresentar uma questão mais ampla, diferente do que foi proposto nas últimas edições, em que os assuntos eram bem delimitados.
— A questão do acesso à cidadania repercute em basicamente todos os direitos sociais por lei previstos ao cidadão, e o aluno pode fazer direcionamentos muito diferentes. Por um lado, isso pode ser positivo, porque o aluno tem mais possibilidades de argumentar, mas pode ser um problema no sentido de deixá-lo inseguro, ao longo da prova, se está trabalhando exatamente o que o enunciado pede — explica.
Para ele, vai se dar bem o aluno que se concentrar nas palavras-chave do enunciado e que esteve por dentro de noticiários e da realidade social do Brasil atual — observa que é uma tendência da prova usar fontes e textos muito recentes.
Ele acredita que o tema não contradiz a declaração recente do presidente Jair Bolsonaro, de que o Enem começou a ter “a cara do governo”.
— Talvez tenham pensado o tema tendo em vista que o estudante pode, inclusive, usar como argumentação políticas de Estado que foram adotadas no atual gestão, tipo Auxílio Emergencial, voltado à garantia da cidadania das pessoas na pandemia, ou o novo Auxílio Brasil.
Pelo Brasil, professores de Língua Portuguesa elogiam a proposta. Para Thiago Braga, autor de Língua Portuguesa do Sistema de Ensino pH, é um tema “considerado tranquilo” para os alunos.
— É uma importante discussão, já que muitas pessoas não conseguem ter acesso ao registro civil ainda. Falamos em analfabetismo digital, desemprego, sendo que muitas pessoas não conseguem ter acesso a direitos mais básicos porque não são reconhecidas pelo Estado — diz.
A aplicação do primeiro dia de prova começou às 13h30min e deve seguir até as 19h deste domingo (21). Além da Redação, os candidatos respondem a questões de Linguagens e Ciências Humanas. A proposta de Redação é acompanhada de textos de apoio, que ainda não foram divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão responsável pelo exame.
Os participantes precisam escrever um texto dissertativo-argumentativo, com até 30 linhas. O tema é o mesmo para as duas versões do Enem: impressa e em computador. A redação do exame digital será realizada em material impresso, nos mesmos moldes da versão em papel.
As redações do Enem são avaliadas de acordo com cinco competências. A nota pode chegar a mil pontos, mas há critérios que conferem nota zero, como fuga ao tema, extensão total de até sete linhas, trecho deliberadamente desconectado do tema proposto, não obediência à estrutura dissertativo-argumentativa e desrespeito à seriedade do exame.
Veja os temas de Redação dos anos anteriores
- 1998: Viver a aprender
- 1999: Cidadania e participação social
- 2000: Direitos da criança e do adolescente: como enfrentar esse desafio nacional?
- 2001: Desenvolvimento e preservação ambiental: como conciliar os interesses em conflito?
- 2002: O direito de votar: como fazer dessa conquista um meio para promover as transformações sociais de que o Brasil necessita?
- 2003: A violência na sociedade brasileira: como mudar as regras desse jogo?
- 2004: Como garantir a liberdade de informação e evitar abusos nos meios de comunicação?
- 2005: O trabalho infantil na realidade brasileira
- 2006: Poder de transformação da leitura
- 2007: O desafio de se conviver com a diferença
- 2008: Amazônia
- 2009: O indivíduo frente a ética nacional
- 2010: O Trabalho na construção da dignidade humana
- 2011: Viver em rede no século XXI: Os limites entre o público e o privado
- 2012: O movimento imigratório para o Brasil no século XXI
- 2013: Efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil
- 2014: Publicidade infantil em questão no Brasil
- 2015: A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira
- 2016: Caminhos para combater a intolerância religiosa
- 2017: Desafios para a formação educacional de surdos
- 2018: Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet
- 2019: Democratização do acesso ao cinema no Brasil
- 2020: O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira