Por Solange Lompa Truda
Psicóloga escolar, especialista na Infância e Adolescência
Em 2020, ninguém podia imaginar que, por conta da pandemia do coronavírus, todas as escolas parassem e fechassem as portas por tanto tempo. Não foi um período fácil para a educação. Todos tiveram que se adaptar a uma nova rotina, com aulas e atividades a distância e com o uso da tecnologia, o que certamente exigiu muito dos professores, das famílias e das nossas crianças.
Veio o isolamento, e várias escolas, principalmente na educação infantil, buscaram atividades que mantivessem o vínculo das crianças e das famílias. Foi o ano do delivery, do drive-trhu, das aulas pelo Zoom e de muita criatividade na educação.
No cenário pós-pandemia, tanto as relações como os próprios espaços de ensino acabaram afetados e reinventados. Agora, as escolas de Ensino Fundamental e Médio da rede privada recomeçam suas rotinas presenciais. A educação infantil, que esboçou seu retorno desde outubro passado, enfrenta adaptações diárias, com o retorno das crianças para aquele espaço de socialização tão necessário e agora tão diferente, com tantos cuidados, higienização e proteção ao vírus.
Crianças estão voltando à rotina de acordar cedo, ficar boa parte do dia distantes dos pais e reiniciar o relacionamento físico com educadores e colegas, em um cenário que ainda exige cuidados e muita prevenção contra a covid-19.
Fico a pensar como os pequenos lidarão com tantas mudanças. Darão conta desses desafios? Acredito que sim e que não, e explico o porquê. Não porque as crianças de até seis anos ainda dispõem de poucos recursos para entenderem tudo e darem conta do que está por aí. E sim porque elas têm uma grande vantagem: como estão em fase de desenvolvimento, têm maior capacidade de adaptarem-se.
Outra coisa que lhes favorece neste momento é sua plasticidade cerebral, que possibilita a formação de novas estruturas organizacionais em resposta às experiências que vivenciam. E o nosso papel, como profissionais da educação e da saúde, é desenvolver, na escola, a capacidade de acolhimento do aluno que está retornando e que vive este momento histórico na sociedade.
Penso que nunca tivemos tanta oportunidade de ensinar as crianças a lidarem com a nova realidade por meio de suas competências socioemocionais. Quero dizer que as escolas que estão abrindo suas portas têm um outro olhar e outra postura para o ensino. Estão ainda mais humanas, ainda mais empáticas, tanto na relação com os alunos quanto com as famílias e a equipe escolar. Enfim, todos estamos enfrentando as consequências das transformações. Não podemos ainda abraçar nossos pequenos alunos, mas com certeza estaremos oferecendo esse abraço de tantas outras formas.
Este momento, especialmente as próximas semanas, exige ainda mais parceria entre a escola e a família, desenvolvendo resiliência e capacidade de inovação nos espaços e nas atividades escolares, além de muita paciência e tranquilidade para recomeçar o ano letivo.
Precisaremos de nossas competências emocionais para ajudarmos alunos e famílias a superarem este momento de transição e de mudança, que poderá estar acompanhado de ansiedade, medo e inseguranças.
Então, independentemente da faixa etária, este retorno deve ter muito acolhimento e escuta, para que a adaptação ao “novo normal” seja leve e prazerosa.
Se nossas máscaras no rosto escondem o sorriso e possíveis feições de alegria, nossos olhos de educadores terão de ser ainda mais expressivos e comunicativos. Nossos abraços terão de ser evitados, mas nossa escuta e nosso diálogo deverá ainda ser mais potente.
Boa sorte a todos e bom retorno às aulas!