Por Solange Lompa Truda
Psicóloga da Infância e adolescência
É certo que a pandemia da covid-19 trouxe desafios para as famílias e crianças, incluindo a capacidade do indivíduo de lidar com suas emoções frente às privações dessa nova rotina.
Nunca tive dúvida de que ser pai/mãe/educador é a tarefa de vida mais difícil de ser desempenhada. Por sorte meus filhos já são adultos, mas fico pensando como teria sido com eles pequenos. Como está sendo para as famílias educar e trabalhar na pandemia, sem manual e com essas incertezas? O que sabemos é que nunca, nestes anos todos de trabalho como terapeuta da infância, da família e nas escolas de educação infantil, tivemos tantas situações de frustrações, birras e desafios.
Na educação infantil, são comuns situações de birra, agressividade, teimosia e negativismo nas crianças. Muitas famílias buscam orientação a fim de entenderem o desenvolvimento emocional dos filhos. Se é difícil em outros tempos, imagine agora! Em momentos de confinamento, com limitação de espaço e alterações na rotina, é natural que as reações emocionais se manifestem de modo diferente.
Os pais precisam contar mais consigo mesmo e buscar conhecimento e preparo para não saírem do rumo na difícil tarefa de educar. Sem contar com a rede de apoio da escola e de avós, buscam forças em si mesmo para entender certas reações infantis. É natural que tudo esteja exacerbado.
A tarefa de educar e de ser pais é uma constante aprendizagem, um eterno desenvolvimento. E é preciso ler muito e se preparar para exercer tal função com sucesso.
Aprendemos com cada criança, com cada filho, e com cada família. Precisamos desenvolver e fortalecer habilidades para que tivéssemos sucesso na adaptação a tudo isso. Haja saúde mental neste momento!
O que desejo, aqui, é que as famílias possam se reorganizar frente a esse cenário, mas, principalmente, que consigam ter a certeza de quanto mais consciência tivermos de nossas emoções, de nossas qualidades e dificuldades, mais aptos estaremos, como pais e educadores, a educarmos crianças responsáveis, saudáveis e autônomas. Acredito que as relações tão delicadas entre pais e filhos possam estar ganhando neste momento de tanta falta e perdas.
Com certeza todos ganharam memórias afetivas de uma experiência única! Conhecemos o tempo de nossas crianças, sem a pressa do cotidiano, permitindo que elas possam se desenvolver e fazer descobertas no seu tempo. Em casa, a criança está lidando com o espaço vazio, a falta, o ócio tão importante para seu desenvolvimento. Poder preencher de forma livre seu imaginário, lidar com sua fantasia, criatividade e realidade por meio do brincar espontâneo tem um valor e tanto para a saúde emocional e o desenvolvimento infantil.
Tenho certeza de que esse espaço vazio e livre, neste momento, é que está enriquecendo nossas crianças e fazendo com que os pais e educadores conheçam todo esse imaginário e o faz de conta delas. Como nos diz Gandhy Piorski, o brincar e o brinquedo da criança têm a corporeidade do mundo adulto e dos sonhos infantis. Nas brincadeiras, ele refere ainda que a criança transforma, alterna, adequa o exterior experimentado e acaba reencontrando seu mundo interior.
É maravilhoso poder ver pais e as crianças brincando livremente, com uma professora atuando como coadjuvante nesse processo! O convívio em família, o brincar livre ou compartilhado com os pais, será fundamental para as boas lembranças desse período, somando-se as memórias afetivas. E, enquanto isso, aguardaremos a agenda de atividades das escolas, preparando nossas crianças para retornarem com mais autonomia e maturidade.
Fica a dica: que aproveitemos esse tempo para dar às crianças o seu tempo necessário para se desenvolverem e buscarem a sua autonomia e a sua autoconfiança.