Os relatos de lotação esgotada nas salas de aula onde ocorreriam a primeira prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020, em Porto Alegre, começaram a surgir nas redes sociais ainda antes do início do exame, na tarde deste domingo (17). O exame foi adiado em 2020 em razão da pandemia de covid-19. Mesmo tendo chegado com até uma hora de antecedência, candidatos foram surpreendidos aos serem barrados no acesso às salas indicadas devido à quantidade de pessoas dentro do ambiente.
Tentando nota para uma vaga no curso de Medicina, uma candidata que faria a prova na Uniritter, no campus Cavalhada, chegou por volta das 12h10min e aguardou ao lado da sala. Quando posicionou-se na fila para ingressar no local, percebeu que ela não andava. Nas salas ao lado, a situação era parecida. Aglomerados no corredor, os participantes ouviram de um funcionário que eles não entrariam nas salas devido à lotação ter se esgotado dentro delas.
— Abriram uma sala reserva, com computadores sobre as classes. Quem conseguiu entrar, precisou arrastar os equipamentos para o lado. Numa prova tensa como a de redação isso pode prejudicar muito — pontuou a candidata, que preferiu não se identificar temendo represália.
A jovem expôs que alguns candidatos passaram mal, outros começaram a chorar e teve quem se revoltou com a situação. Os funcionários, então, reuniram os que sobraram de todas as salas e fizeram uma fila única para confirmarem que estiveram no local. Na sala onde ela deveria prestar o exame, apenas sete pessoas conseguiram ingressar. Os demais deram os nomes e RGs que foram anotados às pressas por um dos funcionários numa folha arrancada de um caderno.
— O rapaz ainda errou o meu RG e eu pedi para ele corrigir. Meu nome ficou rasurado. Não assinamos nenhum documento de presença e nem recebemos qualquer confirmação de que estivemos no local — comentou a jovem.
A única informação repassada pelos orientadores à jovem é de que haverá uma nova oportunidade em 24 e 25 de fevereiro e quem não puder fazer nesta data o Inep “fará outra coisa”.
— Definitivamente, foi o Enem mais caótico do qual participei. Além da aglomeração, alguns que já estavam em sala de aula saíam e voltavam, sem qualquer interferência dos organizadores. Frustrante — resumiu a candidata.
Outra candidata, a estudante Pamela Felipe Felissardo, 19 anos, que tenta nota para Direito, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e também faria a prova na Uniritter, do campus Cavalhada, acabou ficando de fora. Ela e um grupo de estudantes exigiram um documento comprovando que eles compareceram ao local, mas tiveram o pedido negado.
— Nós estávamos lutando pelos nosso direitos e esperando por alguma garantia. Disseram que nós deveríamos confiar neles e que deveríamos ligar para o 0800 do Inep para ter maiores informações. O maior absurdo é que começaram as provas com pessoas nos corredores, com celular na mão e com acesso à internet, o que vai contra todas as normas do Enem — revelou.
A reportagem de GZH entrou em contato com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) questionando a situação, que não foi pontual, segundo relatos disponíveis nas redes sociais. Até o fechamento desta reportagem, o Inep não havia se manifestado.