Em meio à pandemia que fez com que escolas no mundo inteiro tivessem que fechar e promover aprendizado a distância, uma pesquisa revela que o uso de recursos tecnológicos tem aumentado no Brasil, mas ainda há milhões de crianças e adolescentes vivendo uma realidade sem conectividade. A pesquisa TIC Educação 2019, divulgada nesta terça-feira (9) pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), revela que 4,8 milhões de crianças e adolescentes vivem em lares sem acesso a computador e internet no país.
No Sul, 13% dos alunos de todas as faixas etárias não usam a internet – em parte, revelam os pesquisadores, pela determinação de acesso restrito por parte dos pais. Em todo o Brasil, grande parte dos alunos de escolas urbanas é usuária de internet (83%), mas tornar esse recurso mais disponível e melhor utilizado ainda é um desafio.
— Os dados evidenciam que as atividades mediadas pelas tecnologias em sala de aula estavam mais concentradas na transmissão de conteúdo do que na possibilidade de participação dos alunos nas atividades, principalmente por conta das condições de acesso às tecnologias pelos estudantes e pela carência de oportunidades de formação para os educadores. Com um maior contingente de jovens estudando em casa, medidas para prover conectividade e desenvolver capacidades para a aprendizagem on-line nunca foram tão urgentes e necessárias — avalia Alexandre Barbosa, gerente do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), um dos responsáveis pelo levantamento.
Em todo o país, apenas 28% das escolas localizadas em áreas urbanas contavam com um ambiente ou plataforma de aprendizagem a distância, segundo a pesquisa. Os dados mostram que esse tipo de plataforma voltada para o ensino a distância estava presente em apenas 14% das escolas públicas urbanas e 64% das particulares urbanas.
Com um maior contingente de jovens estudando em casa, medidas para prover conectividade e desenvolver capacidades para a aprendizagem on-line nunca foram tão urgentes e necessárias
ALEXANDRE BARBOSA
gerente do Cetic.br
Em relação ao uso da internet para a realização de atividades pedagógicas em 2019, 77% do total de alunos de escolas urbanas que são usuários de internet utilizavam a rede para fazer trabalhos em grupo, e 65% para trabalhos escolares a distância. Uma porcentagem menor dos alunos (28%) afirmou, ainda, que utiliza a rede para se comunicar com os professores. Os docentes, por sua vez, fazem uso da internet para esclarecer dúvidas dos alunos (48%), disponibilizam na rede conteúdos para os alunos (51%) e recebem trabalhos enviados pela internet (35%).
— Os professores disponibilizam material pela internet, mas os alunos relatam que ainda não interagem com eles em um ambiente on-line — relata Daniela Costa, do Cetic.br.
A pesquisa mostra ainda que a faixa etária é um fator determinante na realização de algumas atividades on-line e para o desenvolvimento de habilidades digitais: 48% dos alunos conectados do 5º ano do Ensino Fundamental leram um livro, um resumo ou um e-book na internet, 40% usaram mapas na internet e 63% compartilharam na internet um texto, imagem ou vídeo, porcentagens que são maiores entre os alunos do 2º ano do Ensino Médio: 65%, 74% e 82%, respectivamente.
Realizada entre os meses de agosto e dezembro de 2019, a pesquisa TIC Educação investiga o acesso, o uso e a apropriação das tecnologias de informação e comunicação (TIC) nas escolas públicas e particulares brasileiras de Ensino Fundamental e Médio, com enfoque no uso pessoal desses recursos pela comunidade escolar e em atividades de gestão e de ensino e de aprendizagem. Em escolas urbanas, foram entrevistados presencialmente 11.361 alunos de 5º e 9º ano do Ensino Fundamental e 2º ano do Ensino Médio; 1.868 professores de Língua Portuguesa, de Matemática e que lecionam múltiplas disciplinas (anos iniciais do Ensino Fundamental); 954 coordenadores pedagógicos e 1.012 diretores. Em escolas localizadas em áreas rurais, foram entrevistados 1.403 diretores ou responsáveis pela escola.