O pedido de recuperação judicial da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) encaminhado na noite de segunda-feira (6) pegou alunos e funcionários da instituição de surpresa. No campus Canoas, a preocupação era latente. Quem trabalha no local e foi ouvido por GaúchaZH pediu para não ser identificado.
Há 26 anos na Ulbra, uma dessas pessoas diz que o maior temor é quanto ao pagamento de todos os direitos em caso de demissão:
— Estamos preocupados como as coisas vão se desenrolar. Se vamos receber em dia. Dói mesmo a gente ver isso. Não queremos que feche.
Outro contratado, que atua há 18 anos na instituição, diz que recebeu a informação da recuperação judicial pelo e-mail corporativo e conta que, diante da crise, empregados acabaram se adaptando com os atrasos no pagamento dos salários:
— Teve uma época que chegou a atrasar seis meses.
Um professor com 13 anos de casa afirmou que o semestre segue normalmente e que os docentes estão preparando a oferta de disciplinas para o próximo semestre, ressaltando que estão abertas as inscrições para o vestibular. Ao mesmo tempo, ele acredita que a medida deva provocar impacto nas matrículas e no próprio processo seletivo:
— Eu acho que assusta um pouco as pessoas a falta de informação sobre os próximos passos.
O professor afirma ainda que parte do salário de março, todo o de abril e repasses do FGTS estão em atraso.
Nas lancherias e nos corredores do campus, a medida foi o principal assunto nas rodas de conversa, embora nem todos soubessem detalhes. Entre os estudantes, a principal preocupação era quanto à conclusão dos cursos. Roger Viana, 26 anos, cursa o segundo semestre de Medicina e se diz otimista:
— A gente sabe que a Ulbra está em crise. Na virada do semestre, teve demissão de funcionários. A gente vê as coisas acontecerem. Mas espero conseguir concluir o curso.
Para Laura Duarte, de 19 anos, também estudante de Medicina, a crise financeira da instituição provoca “falta de dinheiro para estrutura do curso”. Assim como o colega, apesar de estar no início do curso, torce para a recuperação da Ulbra e espera conseguir concluir o curso de 12 semestres.
Preocupação semelhante é compartilhada com a também colega de graduação Larissa Oliveira, de 22 anos:
— A gente não sabe muito sobre essa recuperação judicial. A minha preocupação é que prejudique o curso e a estrutura.
Quase concluindo o curso de Farmácia, Roberta Kreutz, 32 anos, diz que soube do pedido de recuperação judicial por meio de grupos de WhatsApp.
— Creio que na Ulbra, por ser grande e referência, os alunos que já estão não sejam prejudicados. Mas acho que pode prejudicar quem entra. Como as pessoas vão entrar numa universidade em recuperação judicial? Possivelmente, vão procurar outra para não correr o risco de não se formarem.
Thamires Barboza, 22 anos, é colega de Roberta e teme eventual problemas para se formar:
— E se não for aprovada (a recuperação judicial) e declarar falência?
Para ela, a crise tem comprometido a renovação de alguns equipamentos e a melhoria de alguns laboratórios, como, por exemplo, a instalação de aparelhos de ar condicionado.
Isabel Pereira, 18 anos, está no terceiro semestre de Medicina. Quer ser cirurgiã. Diz que as dificuldades financeiras da Ulbra não chegam a comprometer o ensino do seu curso:
— Me deixa preocupada é a incerteza quanto ao funcionamento da instituição.
Em nota divulgada à imprensa, a mantenedora da instituição, a Associação Educacional Luterana do Brasil (Aelbra), informou que o pedido de recuperação judicial "não interfere na rotina acadêmica nem nas atividades das escolas de Educação Básica. Todas as disciplinas previstas continuam ofertadas, os trabalhos acadêmicos e escolares seguem normalmente, assim como o calendário de aulas e demais atividades".