Uma hora, vai quebrar. Os estudantes de Engenharia vão adicionando peso sabendo que, eventualmente, a ponte feita exclusivamente de espaguete, resina e cola, com alguns tubos para sustentá-la, não vai suportar a carga. Mas a diversão é justamente ver até quando a estrutura aguenta — uma simulação, em muito menor escala, do que construções verdadeiras precisam aguentar para que não sejam destruídas quando expostas a situações extremas.
Até por isso, tanto quando a ponte não chega a suportar 20 quilos quanto naqueles momentos bastante aplaudidos em que passa dos 100 quilos, os alunos saem sorrindo. O susto de ver a estrutura reduzida a pedaços de massa passa depois que os primeiros grupos veem sua criação chegando ao limite. E nesta sexta-feira (23), na Escola de Engenharia da UFRGS, em Porto Alegre, por 40 vezes as pontes de espaguete, feitas com tanto cuidado, foram ao chão.
Parece tudo uma brincadeira, mas a competição é levada muito a sério pelos participantes. A maioria põe suas criações a teste a partir dos conhecimentos obtidos na primeira disciplina de Mecânica Estrutural ou Resistência dos Materiais, lecionada em meados dos cursos das engenharias Mecânica e Civil. Vários deles já participaram de outros eventos do tipo, e semestre após semestre tentam melhorar as pontes de espaguete para bater o próprio recorde — e, quem sabe, superar todas as outras marcas registradas na instituição.
Nas 30 edições já promovidas da Competição de Pontes de Espaguete, a UFRGS viu uma dessas estruturas suportar 234 quilos, em 2011. Vencedora de 2018/2, uma equipe da Ftec Novo Hamburgo — a competição é aberta a estudantes de outras instituições de Ensino Superior — até chegou perto: fez uma construção que aguentou 187 quilos antes de ruir.
— Fizemos todo o planejamento em um software em que simulamos a distribuição de carga pela estrutura, utilizando os conhecimentos que aprendemos em aula. É um desafio que nos motiva muito — descreve Elisandro Teixeira Schultz, um dos integrantes da equipe que levou medalhas e vales-presente pelo 1º lugar.
Em segundo lugar, ficaram também estudantes da Ftec Novo Hamburgo, que fizeram uma estrutura diferente dos colegas, mas utilizando as mesmas técnicas de análise e simulação. A terceira posição ficou com alunos da casa.
— Nesta edição, aconteceu algo raro: os três primeiros lugares suportaram cargas acima de 100 quilos! — comemorava o professor Luis Alberto Segovia González, coordenador da competição.
E não foram só os três: ao todo, seis grupos superaram essa marca. Dois deles vieram de bem longe, do Ceará, trazendo a ponte de espaguete toda montada na bagagem, repleta de adesivos em que se lia "frágil" e torcendo para que a estrutura não quebrasse (spoiler: em um dos casos, não deu certo).
— O que nos trouxe até o Rio Grande do Sul foi a vontade de bater o recorde da UFRGS — revela Renata Pinto, aluna de Engenharia Civil no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE).
— A viagem vale a pena pelo conhecimento envolvido — completa Nayane Mateus, estudante de Engenharia Química na Universidade Federal do Ceará (UFC).
Curiosamente, foram 41 grupos testando suas estruturas mas, como dissemos acima, só 40 pontes quebraram. Isso porque uma das equipes que veio do Nordeste não deixou o palco quando a ponte quebrou, mas no momento em que os pesos, colocados todos no mesmo sentido, caíram, assustando o coordenador da competição e deixando uma inevitável expressão de descontentamento no rosto dos viajantes que esperavam bater o recorde. Um alento, pelo menos: eles poderão levar a ponte intacta para casa.
Vencedores da 30ª Competição de Pontes de Espaguete da UFRGS
Primeiro lugar
Marco Antonio, Tiarler Santos Lopes, Elisandro Teixeira Schultz e Lucas Birck
Ftec Novo Hamburgo
Carga: 187 kg
Segundo lugar
David Paim de Matos, Vitor Luís Brinkhus, Marcos Schvarzer, Fábio Júnior Vieira
Ftec Novo Hamburgo
Carga: 172 kg
Terceiro lugar
Natália de Oliveira Gindri, Júlia Guedes Borges, Guilherme Sartori de Oliveira, Júlia Millis Santos
UFRGS
Carga: 159 kg