Boa parte dos alunos da rede privada de ensino retornou às aulas nesta segunda-feira. As instituições seguem o calendário sugerido pelo Sindicato do Ensino Privado do Estado (Sinepe/RS), que dá autonomia para decidir a data de volta às aulas, mas exige o cumprimento dos 200 dias letivos. Duas escolas começaram as atividades, em Porto Alegre, colocando a gurizada para refletir sobre a sociedade.
No Colégio Farroupilha, onde mais de 2,7 mil estudantes retomaram as atividades, uma Kombi foi a atração do primeiro dia de aula. Instalado no meio do pátio, o veículo decorado com bandeirolas e com banco estofado de vermelho serviu para palco de debates entre os alunos que, em duplas, respondiam perguntas sobre o futuro.
Diretora pedagógica do Farroupilha, Marícia Ferri explica que o exercício tem como objetivo projetar o mundo daqui para frente, fazendo com que os estudantes pensem nas suas trajetórias e comecem a construí-la desde pequenos. Apesar do tom lúdico, a ação colocou os jovens para pensar sobre os problemas da sociedade no Brasil e no mundo, dando a eles a oportunidade de corrigir erros e promover avanços nas mais diversas áreas.
O que você mudaria no mundo?
"O ano é 2062 e seu mandato como presidente acabou. Qual foi o seu legado?" Essa era uma das perguntas disponíveis para aqueles que ingressavam no carro. Sem titubear, Matheus Santana, 14 anos, do 2° ano do Ensino Médio, disparou:
— Mudar a educação e oferecer mais segurança.
A receita para isso?
— É difícil, porque é uma coisa muito complexa. Mas eu acho que uma das principais coisas para o país ficar seguro é investimento. Muito dinheiro é desperdiçado _ analisa.
Outra dupla que aproveitou a oportunidade para debater foi Joanna Ribas e Luiza Brito Azaredo, ambas com 16 anos.
— O problema que eu acabaria no mundo é o machismo. Eu vejo isso como menina, como mulher. Tenho medo de andar na rua. A roupa que eu uso influencia muito, então como o ano era 2020, e está pertinho, é uma coisa que me incomoda ainda. Aquela coisa de passado, de sociedade machista não dá mais. Tem que ter igualdade de todos os gêneros, ninguém é melhor do que ninguém. Não tem que haver discriminação de sexo, cor e gênero _ avalia Joanna.
Mudança coletiva
Seguindo a mesma linha, o Colégio Santa Inês iniciou o ano letivo levantando a bandeira da mudança coletiva. Depois de trabalhar as perspectivas individuais ao longo de 2017, a instituição quer instigar a força do grupo:
— Agora, queremos trabalhar com o mote de "nós somos a mudança". Acreditamos no poder do coletivo para transformar a realidade — diz a irmã Celassi Dalpiaz, diretora da instituição.
Uma das maneiras de tirar as mudanças do papel, segundo a escola, é a promoção da sustentabilidade sob vários aspectos: desde o compartilhamento de materiais até a noção do valor monetário de cada item usado na escola. Para isso, uma campanha de troca de livros já é velha conhecida dos alunos. Liderada pelo Grêmio Estudantil, a ação funciona comercializando pela metade do preço os livros já em desuso.
— Recebemos os livros dos alunos, pegamos o valor dele em uma livraria e dividimos pela metade do preço. Uma parte desse valor vai para quem doou e a outra para o Grêmio Estudantil explica Rachel de Vasconcelos Silveira, 15 anos, aluna do 1° ano e presidente da entidade estudantil.
Rede estadual
Segundo a Secretaria Estadual da Educação (Seduc), 315 escolas da rede estadual (12,3% do total) iniciaram as aulas nesta segunda-feira. A maioria retoma as atividades no dia 26 de fevereiro. Na rede municipal de Porto Alegre, as aulas estão marcadas para começar em 14 de março.