As férias escolares acabaram e, com elas, as dos pais dedicados que fazem questão de participar da vida escolar dos filhos. E isso não significa só levar ou buscar no colégio, mas estar disposto e atento ao dia a dia do estudante. Pais engajados podem formar alunos mais seguros em sala de aula, acredita a pedagoga Cristiane Vieira, professora de Pedagogia da Feevale, que ressalta:
– Isso estabelece vínculos de compromisso, de importância e de segurança para a criança.
Mas tudo tem limite, e com essa interação não é diferente. Saiba até que ponto é saudável essa interferência e como um olhar interessado dos pais pode não apenas auxiliar na formação do filho mas sinalizar perigos e ciladas típicas da idade escolar.
Vigilância permanente
Mãe de um filho adolescente e de uma menina em fase de alfabetização, a contadora Cristiane Muraro, 39 anos, de Alvorada, se diz “daquelas mães chatas”:
– Eu participo, vou a reuniões, reivindico, converso com a coordenadora, quero saber o que está acontecendo. Em casa, cobro deles, sento junto para fazer o dever. Sei que é importante para o crescimento deles.
A caçula, Julia Kruschke da Silva, seis anos, está no primeiro ano do ensino fundamental, enquanto o primogênito, Eduardo Muraro, 16, cursa o primeiro ano do ensino médio. A diferença de idade e de personalidade dos manos faz com que Cristiane tenha uma postura diferente com cada um, mas sem deixar de lado o interesse pela rotina escolar dos dois.
– Eu estou muito mais participativa com ela do que fui com ele. Depois da escola, sentamos para fazer os temas. Eu ajudo, mostro o que ela fez errado, peço para fazer de novo. Às vezes, ela quer desistir e eu puxo para continuar. O Eduardo nunca teve tanta necessidade porque é mais autossuficiente e eu era muito jovem quando tive ele. Mas, mesmo sem precisar, ainda vou buscar o boletim e quero saber como estão as coisas – conta a mãe.
Cristiane admite que, em casa, cabe a ela a responsabilidade de puxar a corda das crianças na hora dos estudos. O marido, o auxiliar de cobrança Maurício da Silva, 40 anos, até já tentou, mas a função acaba centralizada na figura materna:
– Ele vai na escola e nas festividades, mas a parte de cobrança é comigo mesmo. Ele até já tentou fazer os temas com a Julia, mas não deu certo, tem que ser eu, porque tenho mais paciência.
Para a contadora, o fato de os dois estudarem em escolas públicas reforça a necessidade de ela se fazer presente nas obrigações dos filhotes:
– Não temos condições de pagar colégio particular, então, tenho que ficar em cima porque o colégio público é falho em muitos pontos. Se deixar só na mão da escola, os jovens ficam muito soltos, por isso, cobro muito. Tento mostrar que a educação é fundamental para o futuro deles.
Atenção aos sinais
Para a professora da Feevale, o acompanhamento dos pais é saudável e necessário em todas as etapas da vida escolar.
– Normalmente, quando o aluno está em alfabetização ou na educação infantil, os pais são muito participativos. Mas quando o estudante vai crescendo, esses mesmos pais vão desaparecendo. Talvez porque achem que o filho já tem autonomia suficiente para caminhar sozinho, mas não é assim. Continua sendo importante que o acompanhamento continue – ressalta Cristiane Vieira, que ainda orienta:
– Pergunte como foi o dia, o que ele gostou na escola, se aconteceu algo ruim. Questionar tem que ser rotineiro. O retorno que ele vai dar pode sinalizar alguma coisa com a qual deva ficar atento. Essa atenção permite perceber se tem algo errado, como uma situação de bullying, por exemplo. Às vezes, uma depressão ou não querer ir para a escola de jeito nenhum podem ser sinais.
Limites
Mas preocupação também tem limites, de acordo com a pedagoga. E, nesse caso, quem vai dar o sinal de alerta é a própria criança:
– Se o filho mostrar que está incomodado, constrangido, se pedir repetidamente que não vá de novo até a escola, é hora de parar. Se a escola sinalizar que, naquele momento, a mãe ou o pai não precisam estar lá, é porque o cuidado está passando do ponto. A criança não vai mudar o ritmo de aprendizado pela interferência da mãe e, às vezes, pode até piorar.