Uma página inteira de caderno com contas matemáticas para serem respondidas em casa. Essa atividade tão comum na rotina das escolas está com os dias contados. Pesquisas apontam que o tema de casa como uma reprodução dos conteúdos ensinados em sala de aula não é eficiente. Pelo contrário, desmotiva os alunos e transforma os estudos em "coisa chata".
Em palestra na 14ª edição do Congresso do Ensino Privado gaúcho, na última sexta-feira, a professora da Faculdade de Educação da UFRGS Luciana Corso apresentou estudos que embasam a percepção de que é preciso dar uma "nova roupagem" para a lição de casa. Segundo ela, a ideia não é abolir as atividades, mas torná-las mais desafiadoras e interessantes:
– O que a gente vê hoje é um excesso de tema, uma ideia de repetir o que foi aprendido na aula até memorizar. E isso é ruim porque o aluno desenvolve uma repulsa, não quer fazer mais nada. É preciso pensar em desenvolver novas habilidades, estimular a pesquisa e o pensamento crítico.
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Luciana Corso foi responsável pela revisão técnica de um livro do professor da Universidade de Melbourne, na Austrália, John Hattie, que compilou dados de pesquisas sobre aprendizagem envolvendo alunos de todo o mundo. O estudo constatou que pelo menos metade das tarefas aplicadas pelos professores em sala de aula não tem efeitos significativos. O tema de casa é descrito pela professora da UFRGS como um dos maiores exemplos de uma tradição da padronização e da repetição de conteúdos, que não faz mais sentido para a escola atual.
– Ao invés de exercícios repetitivos, folhas extensas cheias de cálculos matemáticos, é preciso pensar em outras coisas: criar um blog, fazer pesquisas na internet, propor a resolução de problemas que envolvam a participação da família. Com essa nova forma, alunos se engajam muito mais para fazer.
A professora da UFRGS reconhece que é desafiador para o educador reavaliar atividades que já estão consolidadas em sua forma de ensinar. Mas apresenta três questionamentos que devem ser feitos antes de propor atividades para os alunos: quais habilidades ele vai desenvolver com essa tarefa? Ele tem condições de realizá-la? Como vou motivá-lo?
– Nós, professores, precisamos avaliar o nosso impacto sobre as atividades dos alunos. Se o tema que eu aplico não tem o resultado desejado, é preciso rever a forma de fazer para realmente ter efeito na aprendizagem dos estudantes. Isso também vale para outras ações desenvolvidas dentro da sala de aula – afirma.
Segundo Luciana, não existe uma regra de quantos dias por semana se pode aplicar o tema, mas é preciso ter a preocupação de não sobrecarregar a criança. A professora sugere atividades para o fim de semana, quando o estudante tem mais tempo para se dedicar e também pode contar com o apoio da família.