Ouço com certa frequência comentários de que a escola pública do passado era melhor do que a que temos hoje. Embora com certo grau de saudosismo, esse pensamento tenta se sustentar numa percepção de que as pessoas saíam do colégio sabendo pelo menos o mínimo para procurar um emprego, para entrar na faculdade.
Desde a década passada, os resultados das avaliações em série ajudaram na constatação de que o ensino público precisa de qualidade. Mas dizer que a escola do passado era melhor é desconhecer um processo histórico de inclusão de milhares de crianças e jovens na educação.
No início do século 20, o ensino no Brasil era elitista e apenas filhos das famílias mais abastadas tinham acesso à educação escolar. Depois, passamos para o modelo celetista, onde as provas de seleção indicavam quem poderia avançar do primário para o colegial. Com poucos privilegiados, era mais fácil pensar em qualidade.
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Nos Estados Unidos, estima-se que mais de 90% das crianças em idade escolar estavam em sala de aula no começo do século 20. Por aqui, chegamos a essa marca 100 anos depois. A oferta de educação escolar também foi tardia em relação a outros países sul-americanos, como o Chile e o Uruguai.
Somente em 2009, por meio de uma emenda à Constituição, conseguimos garantir na lei a educação como um direito para todos as crianças e adolescentes dos quatro aos 17 anos de idade.
O levantamento divulgado nesta quarta pelo Movimento Todos pela Educação evidencia que, apesar do atraso, a escola pública avançou na última década na inclusão de milhões de crianças e jovens. E as maiores taxas de crescimento estão justamente naqueles que estiveram à margem: pobres, negros, mulheres, pessoas com deficiência. Claro que devemos levar em conta que ainda temos mais de 150 mil meninos e meninas sem acesso à educação no RS. No Brasil, são 2,5 milhões. Além de resgatar essas pessoas, temos uma segunda luta: a da qualidade, não só para os privilegiados, mas para todos.