Os últimos dias de férias são dignos de quem vive às vésperas de entrar em uma grande aventura para as crianças que, a partir de fevereiro, passarão a frequentar a escola pela primeira vez ou fazer a transição da Educação Infantil (EI) para os anos iniciais do Ensino Fundamental (EF). E cabe aos pais ou responsáveis acompanhar os estudantes no início dessa jornada no mundo da educação para ajudar que a adaptação à nova rotina ocorra com tranquilidade.
Crianças novatas na escola, ou que estejam mudando de instituição de ensino, devem começar a receber, desde as férias, informações sobre a rotina escolar, como os horários, as atividades e a estrutura disponibilizada pelo colégio.No caso de alunos que estão passando da EI para o EF, os pais e a escola devem dividir a responsabilidade de conduzi-los de uma educação lúdica e livre, vivenciada até então, à nova realidade com regras, avaliações e compromissos mais delimitados.
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É importante que os adultos não criem um ambiente amedrontador para as crianças, pois isso vai incutir uma responsabilidade que elas ainda não são capazes de absorver. A adaptação no Ensino Fundamental é uma construção a ser realizada durante todo o ano escolar.- Na escola infantil, há monitores e estrutura específica para aquela faixa etária. Quando se inicia no EF, as preocupações e a responsabilidade da escola continuam as mesmas, mas a forma de administrar isso começa a ser diferente.
As aprendizagens na EI passam por momentos lúdicos direcionados para uma descoberta mais espontânea. No EF, por vezes, a aprendizagem passa a ser estruturada e não tão espontânea, porque os professores precisam dar conta de todos os conteúdos - explica a assessora da pedagogia universitária e coordenação pedagógica da Universidade Feevale, Sandra Difini Kopzinski.
Para que a adaptação neste novo ambiente seja plena, é preciso que haja uma atitude positiva dos pais em relação aos professores e à comunidade escolar, pois a criança aprende das coisas que sente e observa tanto quanto do que ela que ela ouve, de acordo com a professora do curso de Educação da Escola de Humanidades da PUCRS, Maria Inês Corte Vitoria.
- Se os pais saem de casa com uma postura de confiança, uma postura esperançosa, que diz para a criança, com atitudes, que ela vai começar uma etapa muito boa na vida dela, com novos amigos, brinquedos, e uma professora legal, a criança consegue sentir isso. Já é um ótimo passo - destaca a Maria Inês.
Nos dias que antecedem o início do calendário escolar, é importante preparar os alunos para o que eles vão encontrar no novo ambiente. Os primeiros passos na escola são um dos momentos mais importantes da vida da criança, que repercutirá até a fase adulta.
- É um momento muito íntimo. A materialidade da vida em sociedade começa a ser experenciada no ingresso na escola, e isso é de importância fundamental para o desenvolvimento da criança. Por isso, só há lugar para amorosidade, confiança, esperança, diálogo e atenção que eu tenho que ter com o meu filho - explica a professora da PUCRS.
Reorganização familiar
A mudança também pode acarretar uma reorganização da rotina familiar, já que algumas crianças matriculadas em turno integral na Educação Infantil agora passarão a frequentar apenas um turno, fazendo com que a família passe a encontrar novas maneiras. E os últimos dias de férias devem ser o momento para se preparar para essa situação.
- Na escola infantil, há monitores e estrutura específica para aquela faixa etária. Quando se inicia no EF, as preocupações e a responsabilidade da escola continuam as mesmas, mas a forma de administrar isso começa a ser diferente - diz a pedagoga Sandra Difini Kopzinski, da Universidade Feevale.
A expectativa sobre o que aguarda os alunos no novo ambiente escolar pode ser mais forte nos pais do que nos próprios estudantes. Sandra afirma que os responsáveis costumam ficar apreensivos, por exemplo, sobre as exigências da escola, e muitas vezes acabam transmitindo esse sentimento sem sequer se dar conta. É comum que os pais ou responsáveis tenham sintomas de ansiedade ou de nervosismo às vésperas do início do ano letivo.
Nesse caso, procurar a coordenação pedagógica da escola ajuda a conseguir segurança para acompanhar os filhos com tranquilidade. Ter um ambiente positivo em casa facilita os primeiros dias na escola - e todos os que se sucederão.
- O projeto educativo só vai alcançar êxito se for assumido em conjunto pela família e pela escola. É nessa perspectiva de união de esforços e de partilha de conhecimentos e de diálogo que apostamos em uma integração completa entre escola e família. São saberes complementares que se juntam quando a família chega à escola - afirma a professora Maria Inês.
De acordo com a especialista, o alinhamento de objetivos para a formação do estudante permite o desenvolvimento de uma confiança mútua entre os pais e a escola que facilita a vida escolar.
- Os adultos, tanto da família quanto da escola, sabem que uns reforçam o trabalho dos outros. E a criança sente que é prazeroso tanto estar na sala de aula quanto fora dela - explica.
Veja como ajudar os filhos a se integrar ao novo ambiente
• Busque conhecer e entender o funcionamento da escola conversando com a direção ou os orientadores pedagógicos.
• Prepare o aluno para o que ele vai encontrar no novo ambiente. Antes das aulas, mostre o uniforme, a agenda, o material e, se possível, leve a criança para visitar o espaço físico da escola.
• Nos primeiros dias, se necessário, permaneça na escola junto à criança.
• Observe e pergunte à criança o que ela está sentindo.
• Estimule a criança a falar sobre o processo de adaptação, perguntando se ele lembra o nome da professora e de alguns colegas e se já fez algum amigo novo, quais os momentos da escola que ela mais gostou.
Dieta digital
O período de adaptação dos filhos merece atenção integral dos pais. Por isso, a pedagoga Maria Inês Corte Vitoria aconselha moderar o consumo de redes sociais, pois elas podem desviar atenção daquilo que mais importa:
- Não posso dizer que estou completamente dedicado e comprometido com esse processo quando meus olhos estão divididos entre três, quatro ou até cinco interfaces, seja do Facebook, do WhatsApp ou do Instagram. Não precisa avisar o tempo todo, nas redes sociais, o que está acontecendo com as crianças. Aconselho usar esses recursos depois da fase de adaptação.
Segundo ela, é preciso criar cumplicidade entre a criança, a escola e a família. É importante que os pais agucem a observação e a escuta para entender como a criança está reagindo frente ao processo de adaptação.
Grupo de pais no WhatsApp
As redes sociais e os aplicativos podem ser um espaço útil para fazer combinações entre os pais, mas devem respeitar o bom senso e o preceito de que a comunicação por aplicativos como o WhatsApp seja mais cuidadosa do que pessoalmente, pois a mensagem pode ser recebida de forma equivocada no outro lado da tela.
- Ao criar um grupo de pais no WhatsApp, por exemplo, pressupõe-se que todos são amigos, o que não necessariamente corresponde à realidade. Antes de adicionar qualquer pessoa, é importante perguntar se ela quer participar daquele espaço - orienta a pedagoga Sandra Difini Kopzinski.
Apesar de facilitar o envio e o recebimento de mensagens, a comunicação virtual jamais deve substituir a presencial em casos como conversar com os professores sobre o desempenho dos filhos.