A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás, diz o filósofo. Bobagem, digo eu. A vida deve ser compreendida ao olhar para seus planos de futuro. Ninguém deveria contentar-se em ser apenas um fantoche e viver ao sabor das influências. É seu dever criar significado para o caminho que quer seguir, resistindo à tentação de perder tempo com autopiedade.
Quantas vezes, olho ao redor e me questiono, nas esquinas da vida. E se não tivesse decidido ir até lá, aquele dia, não teria conhecido aquela pessoa, a qual não teria sido influenciada por mim a mudar de vida, que por sua vez, não me influenciaria, de volta, a mudar a minha. Ao olhar para trás, percebo uma gentil dança de acontecimentos. Ninguém está livre do acaso, mas este deveria ser apenas o toque sutil na aquarela da nossa vida, jamais o sujeito principal.
Se dependesse somente de nós, escolheríamos as cores mais vivas, as telas com melhores tecidos, os pincéis mais macios e precisos. Tudo para facilitar a fluidez de nossa criação chamada carreira. É pena que na vida, as cores nos escolhem, uma tela surge, já com imperfeições e os pincéis – ah, os pincéis – são conquistados, fio-a-fio, com o passar dos anos. Duros e tortos, cabe a cada um amaciá-los, a fim de refinar o seu próprio traço na gravura final.
Certeza de que conseguiria desenhar uma obra de arte, certeza mesmo, nunca tive. Sempre teima em ficar aquela dúvida pungente, que muita gente diz ser possível cauterizar com a fé. E o medo de fracassar, de ser apontado, de ser julgado errado, de não ter para onde voltar, acabar sozinho? Sentimento tão humano e ao mesmo tempo tão patético. Como tanta pequenice pode morar dentro de um ser que tem a pretensão de – se Ele existe – ser filho do criador.
A verdade é que ao longo do caminho, vamos juntando as migalhas de nossas esparsas conquistas, na tentativa de sedimentar um punhado de autoconfiança. Quem sabe assim, a angústia não seria tão amarga a cada vez que um “não” sisudo, nos pisasse a alma. Contudo, infeliz daquele que não se permite arriscar. Por isso mesmo, perde a chance de aprender com tantos “quases” antes de tentar o que é certo e garantido. Quanto tempo mais você quer se dar ao luxo de perder entorpecido pelas certezas, pela comodidade, pelos troféus de participação? Basta de sobreviver! A vida clama por um raio de luz em meio à toda essa densa neblina de mediocridade. O foco já se perdeu há tempo – é como se usássemos protetor solar para passear em noite de lua cheia.
É obvio, beira a insensatez, achar que todos no mundo deveriam ser super-heróis – ao menos no padrão estereotipado. A mediocridade está mais no olhar de quem define a linha média do que no esforço de quem se espreme para alcançá-la. Mudar está muito mais em olhar para o lado do que para cima. É perceber que a genialidade está na diferença, que depende muito mais do que você já é do que daquilo que você ainda precisa aprender.
Perde-se tempo quando deixamos de seguir, ainda que por caminhos tortos, aquilo que nos enobrece. Se a vontade de lamentar-se for irresistível, lamente-se do futuro. O passado já está, o futuro ainda não. Hoje, há tanto que pode ser feito para evitar o destino lamentável, que você não poderá apenas ficar sentado esperando, terá de agir.
Precisamos superar o medo do não, o ressentimento, a supervalorização da resposta negativa, pois a vida continua e o tempo que se perde ao lamentar não nos leva a lugar algum. Ou melhor, nos leva a querer compreender o incompreensível a focar no quanto nossas migalhas já foram boas, enquanto o bolo das conquistas é devorado pelas formigas. O tempo não para. Por que você deveria?