Na manhã desta terça-feira, as aulas do Ensino Fundamental do Colégio de Aplicação da UFRGS tiveram uma pausa por cerca de uma hora e meia. Alunos do 1º ao 5º ano pegaram baldes, rodos e vassouras e começaram um mutirão de limpeza junto a pais e professores.
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O relato de 24 horas em uma escola ocupada
– Estava muito sujo! Poeira por todos os lados – diz a aluna Érini Roberta de Avila, 10 anos, do 5º ano, enquanto varria o corredor principal do prédio.
Há cerca de duas semanas, a limpeza da escola ficou a mercê, relatam alunos e professores. Funcionários de empresas terceirizadas responsáveis pela higiene da instituição entraram em greve devido a atraso nos salários. Lixeiras transbordando, pó pelas salas de aula e o chão sujo começaram a ser comuns na rotina da instituição.
Enquanto o serviço de limpeza não é normalizado, quem assume a função de recolher resíduos e manter o ambiente limpo foram os próprios alunos e professores.
– A ideia surgiu dos pais, que vieram para um evento na semana passada e viram a sujeira. Muitas vezes, eu precisava varrer a sala antes de começar a aula. Esse mutirão serve também para chamar atenção da comunidade para as nossas necessidades – conta a professora do 4º ano, Débora Martinez.
Na semana passada, foi a vez dos alunos do Ensino Médio se reunirem para limpar o prédio das salas de aula do 6º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio e da Educação de Jovens e Adultos (EJA).
– Como a limpeza é terceirizada, isso é cíclico. Se a empresa não paga os funcionários ou tem algum problema financeiro ou de repasse, ficamos a mercê – revela a diretora do colégio, Dirce Maria Fagundes Guimarães.
Por meio da assessoria de imprensa, a UFRGS alega que o problema na limpeza ocorreu de modo geral nas dependências da universidade e não apenas no Colégio de Aplicação. Devido à falta de repasses do governo federal, as empresas terceirizadas atrasaram o pagamento de salários, vale-transporte e vale-alimentação, porém o serviço começou a ser normalizado na última quinta-feira.
– Como ficou muito tempo sem uma limpeza geral e a escola é grande, os funcionários que retornaram ainda não deram conta, havia muita sujeira nas salas – diz Ana Luiza Traçante, 50 anos, técnica em enfermagem e mãe de um dos alunos que ajudou no mutirão.
Estudantes do Ensino Médio reivindicam melhorias
Enquanto os mais novos se concentravam no mutirão, os alunos do Ensino Médio do Colégio de Aplicação se reuniram com a direção da instituição na manhã desta terça-feira.
Com reivindicações sobre falta de merenda, infraestrutura e segurança e para uma reforma no Plano Político Pedagógico (PPP), um grupo de alunos ocupa parcialmente a instituição há duas semanas. Alunos do Ensino Médio estão sem aula formal na escola desde o início da ocupação, em 15 de junho.
De acordo com Julia Rodrigues Martins, 16 anos, que faz parte do grupo Ocupa CAp, eles devem permanecer acampados na escola até 4 de julho, quando está prevista uma segunda reunião com a reitoria. Segundo a estudante, há resistência por parte da direção do colégio, que não concorda com a ocupação.
– Temos de ir ao RU para comer ao meio-dia, há vários problemas, mas só recebemos explicações e mais explicações – diz.
Já a direção afirma que as reivindicações dos alunos estão sendo atendidas e afirma que, na próxima segunda-feira, a merenda e a janta para os alunos do EJA serão oferecidos normalmente. Desde março, o fornecimento da alimentação para os alunos ocorre de forma incompleta ou irregular. Em comunicado publicado no site do Colégio de Aplicação da UFRGS, a diretora menciona diversos outros problemas de infraestrutura, como reformas paradas devido à falta de materiais e necessidade de ampliação da rede elétrica.
– A pauta dos alunos está sendo respondida, mas muitas coisas dependem de trâmites administrativos que podem levar mais tempo do que o desejado – afirma Dirce.