O que faz de um aluno especial? O termo pode remeter a alguma qualidade excepcional ou às necessidades das pessoas com algum tipo de deficiência, mas no Ensino Superior ganha também outro significado. Esse é o termo aplicado aos estudantes universitários que, mesmo sem vínculo com a instituição, às vezes até vindos de outro curso, matriculam-se em uma disciplina buscando o conhecimento que não encontram na sua faculdade.
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Mais comum na pós-graduação, esse "regime especial" significa que o aluno pode cursar disciplinas individuais sem estar matriculado. Assim, ele conhece melhor a área escolhida, descobre se aquela pós-graduação é mesmo a que está buscando e, inclusive, adianta créditos, caso opte pelo ingresso posterior. É uma oportunidade prática de se aproximar do próximo nível de estudos.
- O aluno especial tem as mesmas prerrogativas dos colegas, mas geralmente está ali buscando um complemento, não uma distinção. Apesar de eles poderem aproveitar os créditos, a maior motivação é o interesse particular por um conteúdo - diz Denise Ries Russo, pró-reitora de Ensino da Feevale.
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A graduação também tem uma versão de ingresso não regular, na forma dos alunos ouvintes. Com o diploma do Ensino Médio em mãos, eles podem cursar disciplinas de outra faculdade mas sem a chance de aproveitar os créditos. É uma alternativa utilizada por alunos de Administração interessados em Direito, por exemplo, ou por veterinários apaixonados por fotografia. Serve também como estímulo para quem pensa em fazer uma segunda faculdade.
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Entre os diplomados, essa forma de ingresso é frequente para quem está na dúvida sobre qual programa de pós-graduação escolher ou para adiantar créditos. É menos comum entre aqueles que já estão formados e empregados, porém, serve como uma maneira de se atualizar.
- Esse programa permite ao aluno fazer um "test drive" ao frequentar aulas, conhecer o curso, os colegas e ir se aproximando do lugar onde pretende fazer mestrado e doutorado - define Patrícia Kayser, diretora adjunta de pós-graduação do Unilasalle.
Período para cuidar vagas
Para se inscrever, é preciso mostrar interesse: cada curso é responsável por definir se abrirá ou não vagas para alunos especiais. Geralmente, há pouca divulgação mesmo dentro das universidades, portanto cabe ao candidato se informar. Quando sobram vagas após o período regular de matrículas, os cursos costumam lançar editais para o ingresso especial em janeiro ou junho.
- Observa-se uma tendência de busca por informação em outras áreas. As aulas estão cada vez mais interdisciplinares. Na Engenharia, por exemplo, tem sido comum vir alguém de Administração, que, por sua vez, recebe gente da saúde - explica Eleani Maria da Costa, coordenadora de pós-graduação stricto sensu da PUCRS.
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Essa opção tem sido adotada ainda por quem está no mercado de trabalho e não quer deixar a academia de lado, porém não encontra tempo para se dedicar integralmente aos estudos. Com apenas uma disciplina por semestre, é possível tentar adiantar parte do curso sem passar por um longo processo de seleção e sem deixar a profissão de lado.
Atualização em outro curso
Silvia Goldmeier é formada em Enfermagem e trabalha no Instituto de Cardiologia. Ela resolveu voltar para a sala de aula em um curso totalmente diferente: o de Design de Games no UniRitter. Docente de um mestrado profissional em saúde, ingressou como aluna especial na disciplina de Introdução aos Jogos Digitais. Isso porque, no trabalho, percebeu como a tecnologia é importante para pesquisa e inovação em saúde.
- Quem está criando novidades nessa área quer algo que possa ser aplicado no mobile, no digital, e os jogos são aliados dos profissionais da saúde e dos próprios pacientes. O fato de ter feito essa disciplina me ajudou a pensar na importância da tecnologia - diz.
Silvia e seus colegas já aplicam o que aprenderam. O setor de enfermagem agora trabalha com jogos físicos e digitais, que também têm sido usados em sala de aula.
Prévia do mestrado
As advogadas Ariane Perdomo e Valquiria Wendt queriam fazer uma pós-graduação, mas estavam em dúvida sobre qual escolher. Quando viram que o mestrado em Direito e Sociedade do Unilasalle abriu vagas para alunos especiais, decidiram "experimentar".
- Indico a modalidade de aluno especial para aqueles que têm interesse em ingressar como aluno regular do mestrado ou que ainda estejam com dúvidas quanto ao programa. Com a proximidade, é possível verificar, antes mesmo do ingresso como mestrando, se você está verdadeiramente disposto - recomenda Ariane.
Foi a partir da disciplina de Gênero, Sexualidade e Família nas Relações Sócio-Jurídicas que Valquiria teve a ideia do tema de seu projeto, pesquisa que hoje guia seu mestrado:
- Eu não tinha muita noção do que esperar, então, a experiência foi bem gratificante. Recomendo para quem está em dúvida, achei útil.
Doutorado em uma, aulas em outra
Coordenando o curso de Engenharia de Alimentos na Univates, em Lajeado, o professor Daniel Lehn preferiu não arriscar enquanto faz seu doutorado na Universidade Federal do Rio Grande (Furg), a 430 quilômetros de distância.
No primeiro semestre do ano, ele teria de ir semanalmente à cidade para frequentar as aulas, o que considerou arriscado. A alternativa foi fazer na Univates disciplinas semelhantes às que teria na pós, porém, perto de onde trabalha.
- É uma tendência bem forte para vários cursos isso de fazer disciplinas em uma faculdade mais perto. Só tem de ser em uma área parecida: não adianta fazer aula de corte e costura e querer aproveitar os créditos em Engenharia - brinca.
Quem busca a matrícula especial
Não apenas as formas de ingresso sem vínculo regular mudam, mas o objetivo de cada um ao buscar essa opção. Há interesse em adiantar créditos para aproveitamento em uma pós e há quem vá às aulas apenas para aprender mais sobre um tema.
1) Quem está indeciso sobre a pós
Para quem não definiu se quer e pode se dedicar a um mestrado ou doutorado, frequentar aula do curso desejado pode ajudar. Saber como funciona o curso, ter contato com professores e colegas é motivador e pode revelar que aquele não é o curso certo.
2) Quem quer adiantar créditos
Quem não foi aprovado na seleção de um mestrado, por exemplo, pode cursar uma ou mais disciplinas do curso para aproveitar os créditos no ano seguinte. É uma maneira de se familiarizar com as aulas.
3) Quem quer aprender mais sobre o tema
Há quem decida tentar o ingresso simplesmente para aprender mais sobre um assunto. A frequência desse tipo de matrícula é maior quando a aula é ministrada por um professor visitante, que não ficará disponível por muito tempo.
Fontes: Lívia Pedersen de Oliveira, vice-pró-reitoria de pós-graduação da UFRGS; Eleani Maria da Costa, coordenadora de pós-graduação stricto sensu da PUCRS; Denise Ries Russo, pró-reitora de ensino da Feevale; Patrícia Kayser, diretora adjunta de pós-graduação do Unilasalle; Cecy Moraes, diretora de suporte acadêmico do UniRitter.
CAMINHO PARA A SALA DE AULA
Quem pode participar
Na graduação, os interessados geralmente precisam comprovar que estão regularmente matriculados em outra faculdade. Já na pós, o aluno deve ser formado para poder se candidatar. Em alguns programas, é necessário que o diploma seja de uma área afim, mas isso varia de curso para curso.
Processo seletivo
A seleção dos estudantes sem vínculo ocorre depois das matrículas regulares. Isso porque o número de vagas é limitado, e só há ingresso nessa modalidade caso tenham restado algumas. Normalmente, o aluno deve procurar a faculdade, indicar seu interesse e, então, enviar currículo Lattes e justificativa para fazer a disciplina.
Os critérios de seleção, porém, também diferem em cada curso: alguns só aceitam estudantes vinculados a determinadas universidades, enquanto outros fazem entrevistas ou apenas analisam currículo e justificativa.
Direitos e deveres
Uma vez aceitos, os alunos especiais passam a ter as mesmas obrigações dos estudantes regulares. Isso é válido em relação à frequência, à participação em sala de aula, a tarefas e provas necessárias, etc. A diferença é que, no final do semestre, recebem um certificado de aproveitamento no lugar do conceito, se aprovados. É garantido o direito de acesso a toda a estrutura da universidade ofertada aos alunos regulares. Já do aluno ouvinte - modalidade mais comum na graduação - não é exigido que mantenha frequência ou que faça as provas. Nesse caso, contudo, o componente curricular cursado não poderá ser aproveitado nos cursos de graduação.
Como aproveitar os créditos
Mais do que conseguir créditos, o objetivo entre os alunos em regime especial é obter conhecimento em uma área que têm curiosidade e interesse. Mesmo assim, essas horas de aula podem ser aproveitadas no curso de origem do estudante, caso ele tenha sido aprovado. Quem já está formado também pode conseguir esses créditos caso ingresse em outro curso. Mas há limite para o aproveitamento, que costuma ser de dois anos.
Atenção! A matrícula especial costuma ser restrita às disciplinas eletivas, não estando disponível para aquelas que são obrigatórias em um curso. O limite, geralmente, é de uma por pessoa por semestre.
* Zero Hora