A relação do aluno com o professor orientador na pós-graduação pode ser comparada a de um pai com o filho. Mais experiente, o mestre instrui e acompanha o iniciante. Na prática, essa fórmula nem sempre funciona.
Durante o mestrado em design na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Gabriela Fonseca Pereira, 29 anos, não conseguiu acertar as pontas com seu professor. Depois de algumas divergências, ela solicitou para a coordenadoria do programa de pós-graduação a troca do orientador e foi atendida sem maiores constrangimentos.
- É um processo que pode ser desgastante, mas tive apoio da universidade - conta.
No caso da engenheira ambiental Alice Fassoni, 24 anos, o problema não foi afinidade. Nos primeiros meses do mestrado em sensoriamento remoto, da UFRGS, a aluna decidiu mudar a linha de pesquisa.
- Precisava de alguém que estivesse mais ligado a minha nova área de estudo. Não foi pessoal - relata.
O Ministério da Educação dá autonomia às universidades sobre a atuação do professor. Por isso, podem ocorrer diferenças entre as instituições. Para ajudar quem está pensando em entrar na pós, ou até mesmo quem já está nela, o Educa esclareceu pontos sobre o papel do orientador. Confira.
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É preciso se encontrar uma vez por semana?
Orientador e aluno devem estar em contato, mas não há uma periodicidade determinada. Segundo Vladimir Pinheiro do Nascimento, pró-reitor de pós-graduação da UFRGS, o mais comum são reuniões semanais.
- O que não pode é o aluno querer falar com o professor e nunca conseguir - diz.
Carlos Alexandre Ferreira, diretor de pós-graduação da PUCRS, completa:
- A intensidade do acompanhamento pode variar ao longo do curso.
O orientador pode se negar a disponibilizar o celular?
Há orientadores que preferem um contato mais formal, limitando-se aos encontros presenciais. Em outros casos, querem um relacionamento regular, seja por e-mail, redes sociais ou telefone. Fica a critério do orientador. O estudante não pode exigir isso.
- Mesmo com todas as facilidades que a tecnologia traz, a orientação faz parte da vida laboral do professor, ficando nesses limites - diz Carlos Alexandre Ferreira, da PUCRS.
Quero trocar de orientador. E agora?
Mesmo sendo pouco aconselhada pelas universidades, a troca é possível. Os motivos podem variar, como a mudança da linha de pesquisa ou problema de afinidade, mas é necessário solicitar a alteração à coordenação do programa, com justificativa.
- A ideia é que não ocorra uma banalização desse processo. Por isso, é necessária uma justificativa adequada para a troca - alerta Vladimir Pinheiro do Nascimento, da UFRGS.
O professor pode não querer mais orientar o aluno?
Da mesma forma que o aluno pode não querer mais o orientador, o professor também tem escolha. Um dos motivos é a falta de comprometimento do estudante. O procedimento precisa de justificativa e aprovação da coordenadoria do programa de pós-graduação. Para Alsones Balestrin, da Unisinos, cada caso deve ser tratado especificamente:
- Tudo é bom senso. Há a preocupação do que é melhor para o aluno.
Se ocorrer plágio, o orientador tem responsabilidade?
As universidades não consideram o orientador como um coautor do trabalho e, à primeira vista, o professor não pode ser responsabilizado. Se notar essa conduta, a indicação é comunicar a universidade. Segundo Felipe Pierozan, especialista em propriedade intelectual, o professor pode ser acionado judicialmente em certas situações.
- Caso constate o plágio, deve informar ao aluno e à instituição. Se for omisso, assume a responsabilidade com o aluno - diz.
Quando posso solicitar um coorientador?
O coorientador é uma segunda referência para o aluno e, dependendo do programa, é possível solicitá-lo. Na Unisinos, há incentivo para isso:
- Professores jovens podem participar junto aos mais experientes - relata o diretor de pesquisa e pós-graduação Alsones Balestrin.
O orientador e o estudante devem concordar com a solicitação. Entre os motivos, está o fato de um professor ter algo a acrescentar à pesquisa.
É possível reclamar da conduta do orientador?
Caso exista algum desentendimento ou reclamação quanto ao orientador, a dica é, primeiro, conversar com ele. Se não funcionar, o segundo passo é procurar a coordenadoria de pós-graduação e relatar o problema. Assim, é possível intermediar o conflito e buscar solução.
- Geralmente, a conversa funciona. Caso não dê certo, a universidade deve fazer a reaproximação entre aluno e orientador - diz Vladimir Pinheiro do Nascimento, da UFRGS.